O
Caminho da Beleza 50
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Festa de Todos os Santos 04.11.2012
Ap 7, 2-4- 4.9-14 1 Jo 3, 1-3 Mt 5, 1-12
ESCUTAR
“Vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e
línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do
Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão” (Ap 7, 9)
“Amados, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o
que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a
ele, porque o veremos tal como ele é” (1 Jo 3, 2).
“Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos
aproximaram-se, e Jesus começou a ensiná-los: Bem aventurados...” (Mt 5, 1-3).
MEDITAR
“A santidade é a humanidade inteira acolhida na redenção do Cristo,
pois a santidade não é um exame de passagem difícil mesmo quando é realizado
pela autoridade da Igreja. A santidade é uma graça de Deus que liberta o homem
do seu pecado e o faz entrar na comunhão de Deus” (Cardeal Lustiger).
“Deus, que se fez Cordeiro, diz-nos que o mundo é salvo pelo Crucifixo
e não pelos que crucificam. O mundo é redimido pela paciência de Deus e
destruído pela impaciência dos homens” (Bento XVI).
ORAR
Os santos, quando aparecem em nosso horizonte,
constituem uma provocação, pois o melhor de nós que se esconde no mais profundo
do coração não é outra coisa que a santidade. O mais grave é imaginar que a
santidade está vinculada a fenômenos excepcionais ou é feita de uma matéria
rara. A santidade é feita exclusivamente de amor, é uma questão de amor e o
amor é tudo: é ele que nos torna santos e o santo é alguém que não tem medo de
se deixar amar. João nos incentiva: “Desde já somos filhos de Deus, mas nem
sequer se manifestou o que seremos”. Muitas vezes não apenas não queremos conhecer
o que seremos, mas também não queremos saber o que somos e o que podemos ser e,
por esta razão, temos dificuldades em aceitar as infinitas possibilidades que
Deus nos oferece. Os santos aceitam todas as possibilidades de Deus. Como
afirma o cardeal von Balthasar: “Ser santo é suportar o olhar de Deus”. Deus age
em nós como uma música silenciosa porque não precisamos, necessariamente, falar
de Jesus, pois falar Dele é sempre limitá-Lo e, quase sempre, fazer Dele uma
caricatura. As bem-aventuranças não se dissolvem no tempo finito porque elas
têm a mesma duração de Deus e Deus não descumpre a sua promessa e nem retira a
sua palavra. Basta que nos aproximemos delas para ouvi-las. Santos são todos os
que tiveram a coragem de dar esse passo de aproximação, de romper a sua maneira
habitual e acomodada de ser e de interpretar a vida. Santos são os que não se
contentam com as sensações comuns, efêmeras e inconsistentes em torno das quais
sempre há muita gente. Os santos não recusam e nem desprezam a alegria, mas
buscam a felicidade definitiva que dela brota. Os santos são impacientes de
alegria e esta é a única tentação a que cedem e continuarão a ceder,
testemunhando que a vida não é um pequeno parêntese entre dois imensos vazios.
Na verdade, Deus está conduzindo até a sua verdadeira plenitude o desejo de
mais vida, de justiça e de paz, cravado no interior da criação e no coração da
humanidade. Acreditar no céu é
acreditar que a imensa maioria de homens, mulheres e crianças que só conhecem
desta vida a imposição dos poderes políticos, com a conivência das igrejas, a
omissão profética dos seus pastores, as guerras, as misérias e a humilhação,
não ficará sepultada no esquecimento. Todos eles conhecerão o olhar de Deus, a
sua ternura e seus abraços. Todos, inclusive os santos de todas as religiões e
de todos os ateísmos que viveram, anônimos, amando gratuitamente, sem nada
esperar receber em troca. São homens e mulheres que vivem, mesmo sem o saber, o
proclamado por Paulo: “Ele nos consola em todas as nossas aflições, para que,
com a consolação que nós mesmos recebemos de Deus, possamos consolar os que se
acham em toda e qualquer aflição” (2 Cor 1, 3-4). E, finalmente, poderemos
ouvir ecoar as palavras de Deus: “Quem tiver sede venha, quem quiser receberá
gratuitamente água de vida” (Ap 22, 17) e Deus saciará, sem que o mereçamos, a
sede de vida que existe em todos nós.
CONTEMPLAR
Adoração da Trindade,
Albrecht Dürer, 1511, óleo sobre madeira, 135 x 123 cm, Kunsthistorisches
Museum, Viena, Áustria.
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