O Caminho da Beleza 49
Leituras para a
travessia da vida
“A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o
tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também
reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à
liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
XXX Domingo do Tempo Comum 28.10.2012
Jr 31, 7-9 Hb 5, 1-6 Mc 10, 46-52
ESCUTAR
“Eis
que eu os trarei do país do Norte e os reunirei desde as extremidades da terra;
entre eles há cegos e aleijados, mulheres grávidas e parturientes: são uma
grande multidão os que retornam” (Jr 31, 7-8).
“Todo
sumo sacerdote é tirado do meio dos homens e instituído em favor dos homens nas
coisas que se referem a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados.
Saber ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo
está cercado de fraqueza” (Hb 5, 1-2).
“Então
Jesus lhe perguntou: ‘O que queres que eu te faça?’ O cego respondeu: ‘Mestre,
que eu veja!’ Jesus disse: ‘Vai, a tua fé te curou’. No mesmo instante, ele recuperou
a vista e seguia Jesus pelo caminho” (Mc 10, 51-52).
MEDITAR
“Tentemos
falar o menos possível de Deus: nós O estragamos quando falamos. Tratemos de
sermos nós mesmos uma palavra viva de Deus. Se vivermos Deus, se O respiramos,
se somos engrandecidos pela sua Presença, se nos libertarmos porque cessamos de
nos olhar e O olharmos, sentiremos e isto será, então, a mais bela revelação de
Deus” (Maurice Zundel).
“O
reencontro amoroso, se ele renuncia a dominar, se ele honra e respeita, faz
nascer uma relação densa, um amor puro que corre no fundo das almas” (Anselm
Grün).
ORAR
“E Deus olhou tudo o que havia feito: e era
muito belo” (Gn 1,31). Desta forma se encerra o mito da criação da nossa
tradição. Olhar a beleza do que foi criado. O evangelho deste domingo nos
mostra um cego que olha Jesus, o corpo poético do Pai. Nos domingos anteriores
encontramos o jovem rico que, apesar de ver, não se deixou atingir pelo olhar
de Jesus e partiu triste por causa da sua riqueza; depois Tiago e João que viam
Jesus todos os dias foram incapazes de olhá-Lo e pediram privilégios. Bartimeu,
cego e mendigo, pede a visão,
despojando-se do único bem que tinha: o manto que estendia para receber esmolas
para sobreviver. O evangelista, ironicamente, revela que o mendigo cego é quem
vê Jesus com maior clareza do que seus discípulos. No olhar do seu coração,
Bartimeu é quem introduz o título para Jesus de Filho de Davi. Os primeiros, o jovem rico e depois Tiago e João,
apesar de verem, tinham seus corações velados pela cegueira da riqueza e dos
privilégios. O que nossos olhos vêem hoje? A miséria moral e material, a
corrida armamentista, a posse gananciosa de bens, o sarcasmo dos opressores, o
deboche dos governantes, a mentira corrosiva da corrupção e, sobretudo, o
descaso com a criação e com a vida humana. E Jesus pede que o nosso coração
seja capaz de tamanha fé que, sem preocuparmos com o dia de amanhã, olhemos os
lírios dos campos e as aves do céu. Loucura dos poetas e artistas, desde sempre
os profetas dos tempos futuros: “O lobo
e o cordeiro andarão juntos, e a pantera se deitará com o cabrito, o bezerro e
o leão engordarão juntos; um menino os pastoreia; a vaca pastará com o urso,
suas crias se deitarão juntas, o leão comerá palha com o boi” (Is 11,
6-7). Jesus ensina que reconhecer o outro é se deixar invadir pelo seu ser.
Mas, se por medo nos mantivermos reclusos, o nosso olhar lançará uma sombra
sobre a luz do outro, acentuará os seus defeitos e disseminará uma antipatia: “Tem Belzebu dentro de si” (Mc 3, 22),
caluniaram os escribas sobre Jesus. E o olhar simplesmente deixará de perceber
o que está diante de si, pois “só se vê
bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos” (Saint Exupery).
Nós, cristãos, não somos como as testemunhas primitivas que viram e não creram. Devemos ser, com os olhos do coração, da
descendência daqueles que creram sem
ter visto. A vida continua a se manifestar e devemos continuar a vê-la agarrados ao Invisível como se fosse visível (Hb
11, 27). E ao olharmos com o coração o Invisível que brota de nossas entranhas
e de nossa relação com o próximo, seremos nós mesmos olhados e desnudados em
nossa autenticidade. Como afirmou Santa Edith Stein, recusando-se a negar a sua
origem judaica diante da insanidade cega dos nazistas: “Seja diante de cada olhar o que você é. É preciso ser ao olhar de todos
aquilo que se é no olhar de Deus”.
Olhar o Cristo é não fixar os olhos no imediatismo da nossa vida, mas
saber que este encontro de olhares conduz nossos corações ao invisível de Deus:
“Quem me vê, vê aquele que me enviou”
(Jo 12, 45). Como os olhos de Jesus, “os
olhos da gente não tem fim” (Guimarães Rosa) e o olhar do seu coração sempre
nos indagará amorosamente: “Que queres
que eu te faça?”.
CONTEMPLAR
Cura
do homem cego, Edy-Legrand
(Edouard Léon Louis Warschawsky), obra a carvão em Bíblia editada por François
Amiot e Robert Tamisier, França, 1950.
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