quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O Caminho da Beleza 49 - XXX Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 49
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).

XXX Domingo do Tempo Comum              28.10.2012
Jr 31, 7-9                 Hb 5, 1-6                 Mc 10, 46-52


ESCUTAR

“Eis que eu os trarei do país do Norte e os reunirei desde as extremidades da terra; entre eles há cegos e aleijados, mulheres grávidas e parturientes: são uma grande multidão os que retornam” (Jr 31, 7-8).

“Todo sumo sacerdote é tirado do meio dos homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Saber ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza” (Hb 5, 1-2).

“Então Jesus lhe perguntou: ‘O que queres que eu te faça?’ O cego respondeu: ‘Mestre, que eu veja!’ Jesus disse: ‘Vai, a tua fé te curou’. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho” (Mc 10, 51-52).


MEDITAR

“Tentemos falar o menos possível de Deus: nós O estragamos quando falamos. Tratemos de sermos nós mesmos uma palavra viva de Deus. Se vivermos Deus, se O respiramos, se somos engrandecidos pela sua Presença, se nos libertarmos porque cessamos de nos olhar e O olharmos, sentiremos e isto será, então, a mais bela revelação de Deus” (Maurice Zundel).

“O reencontro amoroso, se ele renuncia a dominar, se ele honra e respeita, faz nascer uma relação densa, um amor puro que corre no fundo das almas” (Anselm Grün).


ORAR


E Deus olhou tudo o que havia feito: e era muito belo” (Gn 1,31). Desta forma se encerra o mito da criação da nossa tradição. Olhar a beleza do que foi criado. O evangelho deste domingo nos mostra um cego que olha Jesus, o corpo poético do Pai. Nos domingos anteriores encontramos o jovem rico que, apesar de ver, não se deixou atingir pelo olhar de Jesus e partiu triste por causa da sua riqueza; depois Tiago e João que viam Jesus todos os dias foram incapazes de olhá-Lo e pediram privilégios. Bartimeu, cego e mendigo, pede a visão, despojando-se do único bem que tinha: o manto que estendia para receber esmolas para sobreviver. O evangelista, ironicamente, revela que o mendigo cego é quem vê Jesus com maior clareza do que seus discípulos. No olhar do seu coração, Bartimeu é quem introduz o título para Jesus de Filho de Davi. Os primeiros, o jovem rico e depois Tiago e João, apesar de verem, tinham seus corações velados pela cegueira da riqueza e dos privilégios. O que nossos olhos vêem hoje? A miséria moral e material, a corrida armamentista, a posse gananciosa de bens, o sarcasmo dos opressores, o deboche dos governantes, a mentira corrosiva da corrupção e, sobretudo, o descaso com a criação e com a vida humana. E Jesus pede que o nosso coração seja capaz de tamanha fé que, sem preocuparmos com o dia de amanhã, olhemos os lírios dos campos e as aves do céu. Loucura dos poetas e artistas, desde sempre os profetas dos tempos futuros: “O lobo e o cordeiro andarão juntos, e a pantera se deitará com o cabrito, o bezerro e o leão engordarão juntos; um menino os pastoreia; a vaca pastará com o urso, suas crias se deitarão juntas, o leão comerá palha com o boi” (Is 11, 6-7). Jesus ensina que reconhecer o outro é se deixar invadir pelo seu ser. Mas, se por medo nos mantivermos reclusos, o nosso olhar lançará uma sombra sobre a luz do outro, acentuará os seus defeitos e disseminará uma antipatia: “Tem Belzebu dentro de si” (Mc 3, 22), caluniaram os escribas sobre Jesus. E o olhar simplesmente deixará de perceber o que está diante de si, pois “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos” (Saint Exupery). Nós, cristãos, não somos como as testemunhas primitivas que viram e não creram. Devemos ser, com os olhos do coração, da descendência daqueles que creram sem ter visto. A vida continua a se manifestar e devemos continuar a vê-la agarrados ao Invisível como se fosse visível (Hb 11, 27). E ao olharmos com o coração o Invisível que brota de nossas entranhas e de nossa relação com o próximo, seremos nós mesmos olhados e desnudados em nossa autenticidade. Como afirmou Santa Edith Stein, recusando-se a negar a sua origem judaica diante da insanidade cega dos nazistas: “Seja diante de cada olhar o que você é. É preciso ser ao olhar de todos aquilo que se é no olhar de Deus”.  Olhar o Cristo é não fixar os olhos no imediatismo da nossa vida, mas saber que este encontro de olhares conduz nossos corações ao invisível de Deus: “Quem me vê, vê aquele que me enviou” (Jo 12, 45). Como os olhos de Jesus, “os olhos da gente não tem fim” (Guimarães Rosa) e o olhar do seu coração sempre nos indagará amorosamente: “Que queres que eu te faça?”.

CONTEMPLAR

Cura do homem cego, Edy-Legrand (Edouard Léon Louis Warschawsky), obra a carvão em Bíblia editada por François Amiot e Robert Tamisier, França, 1950.



Nenhum comentário:

Postar um comentário