O Caminho da Beleza 46
Leituras para a
travessia da vida
“A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o
tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também
reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à
liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
XXVII Domingo do Tempo Comum 07.10.2012
Gn 2, 18-24 Hb 2, 9-11 Mc 10, 2-16
ESCUTAR
“Por
isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão
uma só carne” (Gn 2, 24).
“Pois
tanto Jesus, o Santificador, quanto os santificados, são descendentes do mesmo
ancestral; por esta razão, ele não se envergonha de chamá-los irmãos” (Hb 2,
11).
“Foi
por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento” (Mc
10, 5).
“O
que é essencialmente novo no Evangelho, é uma nova dimensão de grandeza: a
dimensão da generosidade. A grandeza é a de ser generoso; a grandeza é a de
saber dar; a grandeza é a de se dar, dar todo o seu ser e de tudo dar dando-se
a si mesmo” (Maurice Zundel).
“Não
podemos grande coisa, pois somos gente comum; não temos nas mãos as chaves das
decisões. Contudo, cada um de nós pode fazer alguma coisa. O quê? Perdoar! Sim,
perdoar. Se pedirmos a Deus, Ele nos ouvirá e nos mostrará como fazer” (Cardeal
Lustiger).
A narrativa de Gênesis é poética e desvela
que é na mulher que o homem se reconhece a si mesmo: “Desta vez, sim, é osso
dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada ‘mulher’, porque foi
tirada do homem”. Adão descobre o seu companheiro para o amor: o ser que brota
ao preço da ferida do seu coração.
Este ser que o Criador lhe entrega após um longo sono era semelhante a ele, mas
diverso. E o esponsal se fez: ser um para ser diverso. No evangelho, Jesus não
se refere a nenhuma prescrição da lei, mas retoma a cena da manhã original não
como uma lembrança do passado, mas
como a imagem do paraíso e de uma
realidade essencial inserida no coração: “Os dois formarão uma só carne, assim,
já não são dois, mas uma só carne”. Não havia regras para o amor, nem leis,
pois não havia necessidade disto. Jesus não prescreve nenhuma legislação
matrimonial. Não era casado e, escandalosamente, convidava os que queriam
segui-Lo a deixar tudo – família, vida acomodada, propriedades, bens acumulados.
Jesus afirma que a nossa única regra, que resume toda a Lei e os profetas, é o
amor, tal como existia no paraíso, pois só o seu sopro possui a amplidão e a
infinitude do próprio Deus. Por essa razão, não podemos aniquilar o amor e desfazê-lo. Podemos tornar os amantes infelizes,
infligir-lhes todos os males e sofrimentos, persegui-los até a morte, mas não
saberíamos matar o amor: “As águas torrenciais não poderão apagar o amor, nem
os rios afogá-lo” (Ct 8, 7). É por isto que, para Jesus e o seu Evangelho, o
amor não tem, por princípio, necessidade de nenhuma lei que o regulamente.
Jesus queria e quer pessoas livres capazes de construir vínculos de amor
indissolúveis que se convertam em dom recíproco. Jesus garante que o vínculo
entre os que se amam vem da força de origem divina que trazemos em nós, esta
extraordinária potência libertadora do amor. Para Ele, são as pessoas,
inundadas e sustentadas pelo sopro divino, que fundam e respondem pelos
esponsais e não os poderes civis e religiosos que os instituem. O amor salva e
as leis que inventamos salvaguardam os direitos dos mais fortes. Só a dureza de
coração tem necessidade de leis rígidas que nada têm a ver com as palavras de
amor que Deus quer ouvir pronunciadas entre nós. Moisés legisla para proteger a
mulher da maldade e desamor dos homens que, arbitrariamente, as repudiavam como
se pudessem atirar a primeira pedra. Jesus, do mesmo modo desafia-nos: “Geração
adúltera, até quando terei que vos suportar?” E uma geração adúltera é uma
geração que se prostitui aos ídolos, que hoje são produzidos pelo mercado para
nos iludir e colocar em outros amores
os nossos corações. E Deus perdoa ao seu Povo-Esposa o adultério, pois seu amor
é sem limites e sua aliança irrevogável. Jesus não nos deixa ludibriar e
esquecer que a maior traição é casar sem se esposar!
CONTEMPLAR
O Cântico dos Cânticos I, Marc
Chagall, 1960, Coleção “A Mensagem Bíblica”, óleo sobre tela, 146,5 x 171,5 cm,
Museu Nacional Marc Chagall, Nice, França.
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