segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O Caminho da Beleza 48 - XXIX Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 48
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXIX Domingo do Tempo Comum             21.10.2012
Is 53, 10-11             Hb 4, 14-16             Mc 10, 35-45


 ESCUTAR

“Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas” (Is 53, 11).


“Aproximemo-nos então, com toda a confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno” (Hb 4, 16).

“Quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos” (Mc 10, 43-44).


MEDITAR

“A inteligência é insípida sem altruísmo” (Michel Bouthot).


"Você não pode tornar Deus católico... Certamente, as pessoas precisam de regras e de limites... Mas Deus tem o coração sempre maior" (Cardeal Martini).


ORAR

            Os textos deste domingo nos colocam diante do valor fundamental da nossa sociedade atual: o status e o poder. O evangelista, ao narrar o pedido dos filhos de Zebedeu, denuncia o fisiologismo, a busca da satisfação de interesses, de vantagens pessoais ou partidárias, em detrimento do bem comum: queimando todas as etapas do seguimento de Jesus, sobretudo a cruz, os dois pediam para estar, lado a lado, na glória do Senhor. A ambição do poder rompe todo e qualquer princípio, transforma-se numa violenta injustiça porque corrompe as pessoas, gera a discriminação, legitima a traição, incentiva a divisão, estimula o cinismo e aguça os preconceitos que amarram a vida, diminuindo a nossa própria humanidade. O pedido é sumariamente recusado e Jesus os faz descobrir a condição para o acesso à glória: o servir a todos. Jesus não estabelece uma regra para vencer na vida, mas traça o caminho do seguimento. Servir não é desaparecer, nada fazer, dar algumas poucas horas voluntárias ou recusar responsabilidades. Servir é tornar público o nosso testemunho de amor ainda que sejamos vítimas do ardil das pessoas que só pensam em si mesmas, como Tiago e João. O caminho da cruz não é feito de um dolorismo, como muitas vezes somos levados a pensar. O caminho da cruz não é um sofrer, mas é, antes de tudo, um servir. A pedagogia de Jesus, como uma sinfonia, vai num crescendo: primeiro, devemos tomar a nossa cruz e arriscar a nossa vida pelo Evangelho; depois viver entre irmãos num testemunho de amor fraterno e, finalmente, assumirmos a identidade com o Cristo-Servo até o dom da sua vida por todos. Jesus tinha uma verdadeira repulsa contra a ambição entre seus discípulos: “Sabeis que os que são considerados chefe das nações as dominam, e os seus grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos”. Jesus entendia que o ser humano não é chamado apenas para sobreviver, mas para expandir tanto a plenitude da sua própria humanidade quanto a do mistério de Deus. Ele nos conclama a possuirmos tão plenamente a nossa vida que possamos doá-la sem medo. Jesus marca a sua vida por uma liberdade tão assustadora para os que não são livres que eles se levantam com ira para destruir o doador da vida. A cruz de Jesus representa, nestes nossos tempos, essa destruição que ainda acontece nas disputas e nas guerras religiosas. A cruz revela o poder ameaçador do amor presente na vida deste homem que se oferece como vítima, como tantos homens e mulheres se ofereceram por amor aos seus irmãos, sem se importar com seu credo, raça ou status. Jesus testemunha que uma vida marcada pelo amor é uma vida que se manifesta na disposição humana de se aventurar além das fronteiras da segurança. Uma vida que rompe toda e qualquer estagnação e que nos chama a existir, a expandir a vida que flui por meio de nós. É o amor e o servir que intensificam uma vida que nunca terá necessidade de se proteger e nem de se justificar, pois ela se torna a nossa porta de entrada ao infinito e inesgotável poder do amor. Numa vida assim beber o cálice é sorver, até a última gota, o amor que conseguimos como entrega e oblação; e ser batizado é mergulharmos no risco que acarreta de sermos cristãos no mundo de hoje, pois Jesus não está do lado do triunfo e do sucesso, mas da fraqueza e da morte. E o Cristo não espera de nós o sucesso, mas a fidelidade. Muitas vezes, o servir e o amar são um sinal de contradição, praticado por poucos, causando incômodos à opinião de uma maioria acostumada a ser atendida apenas em seus interesses. Jesus nos ensina a acolher os dons que recebemos do Pai, a discernir, no Espírito, os dons alheios e, juntos, colocá-los, de geração em geração, a serviço da humanidade. Jesus nos ensina a afastar qualquer triunfalismo e a seguirmos leais diante dos desafios políticos do mundo. Nunca é demais lembramos a frase do dramaturgo alemão Bertold Brecht após a derrota do nazismo: “Não se alegre com a derrota dele, jovem. Embora o mundo erguendo-se tenha derrubado o canalha, a cadela que o gerou está novamente no cio”. Que possamos, como cristãos, diante da responsabilidade que nos cabe na transformação do mundo, pedirmos: “Pai amoroso, perdoa-nos quando dermos importância demais àquilo que a Ti pouco importa!”.

CONTEMPLAR

Martírio de São João Evangelista na Porta Latina, Charles Le Brun, 1641-42, óleo sobre tela, 282 x 224 cm, Saint-Nicolas du Chardonnet, Paris, França.

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