segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O Caminho da Beleza 41 - XXII Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 41
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXII Domingo do Tempo Comum              02.09.2012
Dt 4, 1-2.6-8           Tg 1, 17-18.21-22.27        Mc 7, 1-8.14-15.21-23


 ESCUTAR

“Nada acrescenteis, nada tireis, à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus que vos prescrevo. Vós os guardareis, pois, e os porei em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência perante os povos, para que, ouvindo todas estas leis, digam: ‘Na verdade, é sábia e inteligente esta grande nação’”(Dt 4, 2-6).

“Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Com efeito, a religião pura e sem mancha diante do Pai, é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo”(Tg 1, 22.27)

“Este povo honra-me com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens” (Mc 7, 6-8).

MEDITAR

“Não há oposição entre a vida profana e a vida religiosa. Não há vida profana: toda a vida é sagrada, toda a vida é chamada a ser consagrada, a passar à santidade, todos os caminhos conduzem a Deus. Trata-se de não se recusar nenhuma fonte: nem a ciência, nem a arte, nem a música, nem a beleza, nem a natureza, nem a ternura humana, pois tudo se enraíza em Deus e finalmente se perde Nele”(Maurice Zundel, Silence, Parole et Vie).

“A cisão entre fé e vida, entre culto e existência, entre legalidade e humanidade, gera a perversão da religião, o legalismo, o farisaísmo e o espiritualismo angelical” (Cardeal Gianfranco Ravasi).

ORAR

A palavra implantada (Tg 1, 21b) se insere num processo vital e deve favorecer a vida. O povo libertado da escravidão do Egito se coloca em movimento para atingir a meta da Terra Prometida. Ele não está num limite regularmente fixado. A lei não tem a tarefa banal de assegurar uma ordem imutável. A palavra nos convida a irmos até a Terra Prometida que é a terra da liberdade e não da escravidão. E, por isso, a lei não é um absoluto, mas também significa mudança, abertura ao futuro, transformação. Uma lei que não expresse o futuro não é a lei do Deus libertador do Êxodo. Uma palavra que somente se preocupe em perpetuar o presente e não impulsione ao que deve ser, cria uma geração de acomodados e não um povo de peregrinos. Não se permite uma escuta descomprometida, nem uma palavra que não influencie o nosso agir e responda por uma mudança radical na orientação da existência. Toda a palavra confinada ao âmbito do sagrado e cristalizada numa prática religiosa episódica é uma palavra morta. Moisés recomenda escutar e cumprir, pois uma palavra que não se cumpre torna-se insignificante. Só podemos dizer que escutamos e entendemos a palavra quando a traduzimos em ações, gestos e comportamentos. Uma palavra que não determine um compromisso concreto é uma palavra que nos condena e nos afasta de Deus. Temos que reafirmar sempre que a conexão mais vital, a partir da escuta da palavra, é com a humanidade: “a religião pura e sem mancha diante de Deus Pai, é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações”. É preciso prolongar o serviço do templo numa liturgia da solidariedade, fraternidade, justiça e misericórdia que se celebra ao largo da travessia. O Senhor sonda o nosso coração e se houver uma cisão entre o “dentro” e o “fora” teremos a degeneração espiritual da hipocrisia, do legalismo e de uma atividade religiosa aparente e sem profundidade. Deus está próximo quando a sua palavra anima as ações e nos faz querer encontrar o próximo. Caso contrário, se somente ouvimos e O cultuamos exteriormente, Deus está em outra parte. A nossa participação na missa, se a vivenciarmos apenas como um “assistir” e como uma obediência externa, não vale grande coisa diante de Deus. Não podemos esquecer que o pão que oferecemos é acompanhado de dominação, de exploração, da poluição da natureza, da amargura da concorrência, do egoísmo e da aberração da distribuição mundial: abundância de uns e pobreza de muitos. Que o vinho também pode ser um dos instrumentos mais trágicos da degradação humana: embriaguez, lares desfeitos, dívidas, suicídios. Jesus aniquila com os moralismos e se encarna neste pão e neste vinho e lhes dá um sentido, pois nada do que é humano lhe é estranho. A missa deve ser uma realidade que nos compromete inteiramente, que muda nosso coração colocando em nós o coração de Cristo e nos fazendo capazes de viver segundo seu amor. E ao trazermos pão e vinho para a mesa do Senhor nós nos comprometemos a trazer tudo o que eles significam, tudo o que está quebrado e sem amor, pois estamos comprometidos com a dor e a alegria do mundo.

CONTEMPLAR

Um Vislumbre do Cristo, Daniel Bonnell, óleo sobre tela, Georgia, Estados-Unidos.

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