O Caminho da Beleza 40
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
XXI Domingo do Tempo Comum 26.08.2012
Js 24, 1-2a.15-17.18b Ef 5, 21-32 Jo 6, 60-69
“Se vos parece mal servir ao
Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir” (Js 24, 15).
“Ele quis apresentá-la [a Igreja]
a si mesmo esplêndida, sem mancha nem ruga, nem defeito algum, mas santa e
irrepreensível” (Ef 5, 27).
“Naquele tempo, muitos dos
discípulos de Jesus que o escutaram disseram: ‘Esta palavra é dura. Quem
consegue escutá-la?’” (Jo 6, 60).
“Estamos diante de um amor maior
que nosso coração, uma vida mais vasta que nossa vida. Estamos diante de uma
generosidade maior que a nossa. Deixai-vos amar pelo poder de Deus e sabereis
amar” (Cardeal Lustiger).
“Porque ainda não vemos Deus; é
amando o próximo que merecemos ver a Deus; amando o próximo é que purificamos
nosso olhar para ver Deus. É como diz São João: ‘Se não amas teu irmão que vês,
como poderias amar Deus que não vês?’” (Santo Agostinho).
Somos chamados
a tomar uma posição a mais clara possível. É preciso declarar a quem desejamos
servir, pois o servir cristão é um exercício de liberdade que exclui a coação.
Haverá momentos na nossa vida em que não serão permitidos refúgios com a sua
pretensa neutralidade e nem o recurso às formulas evasivas. O Senhor é um Deus
ciumento que aceita somente o compromisso total e exclusivo e despreza qualquer
adesismo oportunista e equivocado. A pregação de Jesus, em Cafarnaum, provoca
crises sucessivas. As multidões se afastam bruscamente porque Ele interrompeu,
sem dó nem piedade, todos os seus sonhos de grandeza e fausto. No círculo dos
discípulos se produzem vazios preocupantes: “Esta palavra é dura. Quem consegue
escutá-la?”. A Palavra, por meio do Espírito, faz-se vida e se converte em força
de transformação e não de consolidação de posições adquiridas anteriormente.
Todo aquele que procura se apoiar num nível racional de compreensão considera
inaceitável o discurso do Cristo e intolerável a sua pretensão de se oferecer
como Pão da vida. Entre os apóstolos também se difunde a desilusão ou se
insinua a vontade da deserção. Jesus está disposto a ficar sozinho a pactuar condições
para o seu seguimento, pois sua Palavra não espera aplausos e muito menos
aceita negociações. Santo Agostinho afirma: “Se não entendestes, crê. A
inteligência é fruto da fé. Não tentes, pois, entender para crer, mas crê para
entender, pois se não credes não entendereis”. Jesus sabe que somente uma
linguagem dura pode forçar as nossas resistências e derrubar os muros dos
nossos medos. A Palavra de Deus alcança o seu fim quando descubro que Deus não
pensa como eu. Paulo conclama a amar a Igreja ainda que não seja uma comunidade
perfeita: a Igreja revela, mas também dissimula Deus; manifesta-O, mas em
certas horas O obscurece; apresenta-O, mas muitas vezes O afasta. A Igreja nos
entrega Deus no enredo de suas próprias contradições. Não podemos confundir a
igreja de nossos sonhos com a Igreja fundada por Cristo e sobre Cristo. Os
sonhadores de uma pureza idealista da Igreja acabam se tornando inimigos do
Reino (A. Maillot). Em Deus não há sombra, nem rugas e nem manchas; ao
contrário, a igreja é feita de homens e mulheres que carregam as debilidades,
misérias, imperfeições e desordens. Ele nos avisou que veio para os pecadores e
doentes e que a misericórdia do Pai nos atinge a todos assim como o sol e a
chuva caem sobre bons e maus. Jesus ensina que a vida, mais do que a algum
lugar, se vincula a uma pessoa: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de
vida eterna”. Melhor aceitar as duras palavras de Jesus do que querer e aceitar
ser enganado pelos charlatões religiosos de palavras fáceis que nos tornam
contentes e satisfeitos com o vazio que nos apresentam e que preenchem a nossa
necessidade de onipotência. O Senhor deixa de lado a imagem da onipotência e
revela que o Corpo de Deus está na Cruz. E, mais ainda, Ele revela que um
conhecimento de si próprio, que não tenha origem no amor e não se abra ao
perdão, exaspera-se numa loucura destrutiva e suicida. Sem afetos, sem entusiasmos,
sem desejos e sem amor.
Pedro negando Jesus, Mark Christian Dachille, guache, Seatlle,
Estados Unidos, 2012.
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