O Caminho da Beleza 36
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
XVII Domingo do Tempo Comum 29.07.2012
2 Rs 4, 42-44 Ef 4, 1-6 Jo 6, 1-15
ESCUTAR
“E Eliseu disse: ‘Dá ao povo para que coma’. Mas o seu servo
respondeu-lhe: ‘Como vou distribuir tão pouco para cem pessoas?’. Eliseu disse outra
vez: ‘Dá ao povo para que coma; pois assim diz o Senhor: ‘Comerão e ainda
sobrará’” (2 Rs 4, 43).
“Eu, prisioneiro no Senhor, vos exorto a caminhardes de acordo com a
vocação que recebestes: com toda a humildade e mansidão, suportai-vos uns aos
outros com paciência, no amor” (Ef 4, 1-2).
“André, o irmão de Simão Pedro, disse: ‘Está aqui um menino com cinco
pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?’” (Jo 6, 8).
MEDITAR
“No ventre em que o ódio se instalou primeiro, o amor não encontra
lugar” (Provérbio da Costa do Marfim).
“O contrário da felicidade não é a tristeza, mas um coração
endurecido. É recusar se deixar tocar pelos outros, colocar uma barreira para
impedir o coração de se comover. Se quisermos ser feliz é preciso sair de nós
mesmos e sermos vulneráveis”(Timothy Radcliffe).
ORAR
Jesus testemunha que a humildade, a mansidão, e a
paciência devem caminhar juntas com a justiça. Não podemos nos contentar com
apenas deixar cair migalhas da nossa mesa; nem entregar aos milhares de
Lázaros, que batem à nossa porta, as sobras das nossas farturas. Não se
distribuem as sobras antes do banquete e o Senhor nos convida para o banquete
que nos sacia em plenitude e não para matar a fome com o que dele sobra. A
eucaristia é a celebração da abundância e não uma mera lembrança facultativa
dos pobres e famintos. Jesus impede que a comunidade dos que O seguem se feche
sobre si mesma e nos ensina que somente uma igreja disposta a “perder” pode
representar uma esperança concreta no deserto do mundo. O Cristo exige de nós a
pobreza e o serviço, pois a pobreza coloca o mínimo à disposição de todos e o
serviço exige que a Igreja de Jesus seja uma igreja despojada, modesta e sem
importância aos olhos dos poderosos e abastados. Jesus testemunha que a
desproporção das medidas se anula quando o pouco que se tem e o nada que se é
se convertem no tudo que se dá e se dispõem. Ter fé não é acreditar em
milagres, mas acreditar que o Cristo para fazer um milagre necessita do pouco
que temos e oferecemos gratuitamente. Ter fé significa aceitar que Ele
transforme nosso coração de pedra acostumado aos cálculos exatos em corações de
carne capazes de saciar as pessoas com a irracionalidade das carências, das
perdas e dos serviços fraternos. O evangelista nos coloca diante da pobreza simbolizada por cinco pães
e dois peixes com os quais é impossível alimentar uma multidão. O menino frágil
entrega tudo o que tinha para se alimentar e, na generosidade do seu coração, o
mínimo se torna o ponto de partida para o máximo: um mínimo multiplicado. Jesus
transmuta a pobreza e revela que somos infinitamente ricos quando, mesmo com as
mãos vazias, as temos plenas de dons da compaixão. Jesus ensina que não há vida
humana que, apesar de sua pequenez, não possa se transformar em riqueza divina
e que esta bênção preenche o coração de felicidade. No “milagre da
multiplicação” não há lugar para nenhum cálculo e, no entanto, tudo parece mais
rico, mais bonito, mais frutuoso e mais transbordante do que antes. Os sete pães
e os dois peixes restam como são e não mudam de forma e consistência e, no
entanto, é nesta aparência exterior que Deus vem às nossas vidas. Somos
convidados a comer todos juntos e nos fartar dos dons oferecidos pela
fecundidade da vida, pois “há um só Deus Pai de todos, que reina sobre todos,
age por meio de todos e permanece em todos”. Jesus pede ao Pai que alimente a
multidão assim como a comunidade eclesial pede ao Espírito Santo que transforme
o pão e o vinho em Corpo e Sangue de Cristo que nos alimenta, salva e nos dá
coragem. A eucaristia entrega, de mão em mão, o Corpo e o Sangue do Cristo e
nos torna lúcidos para que saibamos que jamais O possuiremos como uma coisa agregada de valor sagrado, mas que
O encontraremos como Pessoa elevando a nossa dignidade humana como um dom e uma
bênção. Não podemos esquecer que a eucaristia é a proclamação de que a morte
foi aniquilada e que Jesus revela que o amor pode ser multiplicado ainda que
seja pouco o que ousamos dar de ternura e compaixão uns aos outros.
CONTEMPLAR
A santa ceia (detalhe),
Arcabas (Jean-Marie Pirot), óleo sobre tela, 0,81m x 0,65m,
Saint-Pierre-de-Chartreuse, França, 2003.
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