O Caminho da Beleza 34
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
XV Domingo do Tempo Comum 15.07.2012
Am 7, 12-15 Ef 1, 3-14 Mc 6, 7-13
ESCUTAR
“Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e
cultivo sicômoros” (Am 7, 14).
“Ele nos fez conhecer o mistério da sua vontade (...) para levar à
plenitude o tempo estabelecido e recapitular em Cristo, o universo inteiro:
tudo o que está nos céus e tudo o que está sobre a terra” (Ef 1, 9).
“Quando entrares numa casa, ficai ali até vossa partida. Se em algum
lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a
poeira dos pés, como testemunho contra eles!” (Mc 6, 10-11).
MEDITAR
“O primeiro cristão que entrou no céu e no paraíso foi um ladrão
crucificado ao lado de Jesus. Isto é justo, pois a Igreja de Jesus deve acolher
a todos, especialmente, os que a vida é um lodaçal” (Timothy Radcliffe).
“Não julgar. Todos os erros são iguais. Só há um erro: não ter
capacidade para alimentar-se de luz. Pois, uma vez abolida esta capacidade,
todos os erros são possíveis. ‘Meu alimento é fazer a vontade d’Aquele que me
enviou’. Não existe nenhum outro bem fora dessa capacidade.” (Simone Weil, A gravidade e a graça).
ORAR
Há sempre um risco a correr quando estamos
confiantes de que o Senhor decidiu nos fazer conhecer o mistério da sua
vontade: o de “levar à plenitude o tempo estabelecido e recuperar em Cristo o
universo inteiro: tudo o que está nos céus e tudo o que está sobre a terra”. O
Pai tudo nos deu no seu Filho Amado e este dom recapitula tudo o que Deus realizou,
realiza e realizará em favor de todos os homens e mulheres. O Filho enviado é o
portador não de ameaças e castigos, mas das bênçãos do Pai. As bênçãos de Deus
nem sempre são carícias e, algumas vezes, seus dons podem ser pedras toscas
lançadas pela boca dos profetas contra as consciências adormecidas ou
acomodadas. As nossas instituições religiosas são avessas às críticas e nos
mostram que as denúncias proféticas são boas e justas desde que dirigidas aos
“de fora” e que as desordens existem sempre em casa alheia. O cardeal Martini
hipotecou sua absoluta solidariedade ao Papa Bento XVI na sua visita à Milão,
em maio de 2012: “Que a Igreja perca dinheiro, mas que não perca a si mesma.
Porque o que aconteceu pode nos aproximar do Evangelho e ensinar a Igreja a não
apontar para os tesouros da terra”. Somos ágeis em levantar a voz quando se
trata de condenar os erros dos outros, mas lerdos quando se trata de fazê-la
ouvir contra as castas entranhadas na hierarquia curial romana acostumada aos
conchavos, adulações e conspirações. O
profeta será sempre um intruso, mas um intruso enviado por Deus. Jesus anuncia
a condição para quem o segue: o risco da pobreza. O Cristo está mais preocupado
com o que devemos levar do que com o que precisamos possuir. Jesus nos faz
saber que o Evangelho não tem necessidade de meios humanos apelativos ou
excessivamente chamativos, pois a força da Boa Nova está nela mesma e não nos
meios usados nos espetáculos de massa orquestrados pelos padres e pastores da
última geração high tech. A missão
deve ser pobre para que a imponência dos meios não faça desaparecer a sua
essência ao invés de multiplicá-la. Se nos perdermos na programação da missão, no
definir de antemão as opções prioritárias, no público alvo, nas tarefas
específicas, nas regras, nos conteúdos corretos, poderemos nos esquecer do mais
importante da jornada: que é necessário partir. Somos exímios doutores na
“invenção” de roteiros pré-estabelecidos que nos garantam sucessos, mas
analfabetos nos roteiros que nos impulsionem às partidas. Vivemos numa eterna e
visível contradição: pregamos o respeito às pessoas, mas as trituramos com as
“nossas verdades”; produzimos toneladas de documentos sobre a pobreza e
gastamos fortunas de dinheiro para publicá-los, ainda que saibamos que são
poucos os que os leem, estudam e se regem por eles; fazemos prognósticos, mas
estamos mergulhados no vazio do presente. Jesus nos alerta que o risco
fundamental para os que O seguem é sempre o dos passos e não o das disputas e por
esta razão “recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um
cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de
sandálias e que não levassem duas túnicas”. Somos chamados a ir “dois a dois”
para viver a realidade existencial de que só podemos falar de Deus se partilharmos
os mesmos riscos, mas, sobretudo, o amor fraterno. Sempre serão necessárias,
minimamente, duas pessoas que se apoiam, se acompanham e se conduzem mutuamente
para que a experiência humana possa amadurecer em verdade, adquirir valor aos
olhos de Deus e se tornar edificante para os outros. Este dar-se-o-que-se-é, ainda que seja pouco, multiplica-se ao cêntuplo
como se o elo da partilha se tornasse uma espiral que se alarga sem cessar. Não
vivemos somente de pão, mas do amor que ousa se afirmar e ao entrarmos neste
universo de confiança e fraternidade, seremos capazes de transformar tudo em
milagre de Deus: a angústia em certeza, a pobreza em riqueza, a necessidade em
saciedade, a tristeza em alegria e a aridez interior em ternura. Jesus
testemunha que o gesto de amor, por menor que seja, transforma e revoluciona
tudo. E Paulo nos confirma: “Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé,
esperança e paciência. O amor jamais acaba” (1 Cor 13, 7).
CONTEMPLAR
O Caminho para Emaús, Daniel
Bonnell, óleo sobre tela, Georgia, Estados Unidos.
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