terça-feira, 10 de julho de 2012

O Caminho da Beleza 34 - XV Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 34
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



XV Domingo do Tempo Comum                  15.07.2012
Am 7, 12-15            Ef 1, 3-14                 Mc 6, 7-13



ESCUTAR


“Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros” (Am 7, 14).


“Ele nos fez conhecer o mistério da sua vontade (...) para levar à plenitude o tempo estabelecido e recapitular em Cristo, o universo inteiro: tudo o que está nos céus e tudo o que está sobre a terra” (Ef 1, 9).


“Quando entrares numa casa, ficai ali até vossa partida. Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!” (Mc 6, 10-11).



MEDITAR


“O primeiro cristão que entrou no céu e no paraíso foi um ladrão crucificado ao lado de Jesus. Isto é justo, pois a Igreja de Jesus deve acolher a todos, especialmente, os que a vida é um lodaçal” (Timothy Radcliffe).


“Não julgar. Todos os erros são iguais. Só há um erro: não ter capacidade para alimentar-se de luz. Pois, uma vez abolida esta capacidade, todos os erros são possíveis. ‘Meu alimento é fazer a vontade d’Aquele que me enviou’. Não existe nenhum outro bem fora dessa capacidade.” (Simone Weil, A gravidade e a graça).



ORAR


Há sempre um risco a correr quando estamos confiantes de que o Senhor decidiu nos fazer conhecer o mistério da sua vontade: o de “levar à plenitude o tempo estabelecido e recuperar em Cristo o universo inteiro: tudo o que está nos céus e tudo o que está sobre a terra”. O Pai tudo nos deu no seu Filho Amado e este dom recapitula tudo o que Deus realizou, realiza e realizará em favor de todos os homens e mulheres. O Filho enviado é o portador não de ameaças e castigos, mas das bênçãos do Pai. As bênçãos de Deus nem sempre são carícias e, algumas vezes, seus dons podem ser pedras toscas lançadas pela boca dos profetas contra as consciências adormecidas ou acomodadas. As nossas instituições religiosas são avessas às críticas e nos mostram que as denúncias proféticas são boas e justas desde que dirigidas aos “de fora” e que as desordens existem sempre em casa alheia. O cardeal Martini hipotecou sua absoluta solidariedade ao Papa Bento XVI na sua visita à Milão, em maio de 2012: “Que a Igreja perca dinheiro, mas que não perca a si mesma. Porque o que aconteceu pode nos aproximar do Evangelho e ensinar a Igreja a não apontar para os tesouros da terra”. Somos ágeis em levantar a voz quando se trata de condenar os erros dos outros, mas lerdos quando se trata de fazê-la ouvir contra as castas entranhadas na hierarquia curial romana acostumada aos conchavos, adulações e conspirações.  O profeta será sempre um intruso, mas um intruso enviado por Deus. Jesus anuncia a condição para quem o segue: o risco da pobreza. O Cristo está mais preocupado com o que devemos levar do que com o que precisamos possuir. Jesus nos faz saber que o Evangelho não tem necessidade de meios humanos apelativos ou excessivamente chamativos, pois a força da Boa Nova está nela mesma e não nos meios usados nos espetáculos de massa orquestrados pelos padres e pastores da última geração high tech. A missão deve ser pobre para que a imponência dos meios não faça desaparecer a sua essência ao invés de multiplicá-la. Se nos perdermos na programação da missão, no definir de antemão as opções prioritárias, no público alvo, nas tarefas específicas, nas regras, nos conteúdos corretos, poderemos nos esquecer do mais importante da jornada: que é necessário partir. Somos exímios doutores na “invenção” de roteiros pré-estabelecidos que nos garantam sucessos, mas analfabetos nos roteiros que nos impulsionem às partidas. Vivemos numa eterna e visível contradição: pregamos o respeito às pessoas, mas as trituramos com as “nossas verdades”; produzimos toneladas de documentos sobre a pobreza e gastamos fortunas de dinheiro para publicá-los, ainda que saibamos que são poucos os que os leem, estudam e se regem por eles; fazemos prognósticos, mas estamos mergulhados no vazio do presente. Jesus nos alerta que o risco fundamental para os que O seguem é sempre o dos passos e não o das disputas e por esta razão “recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas”. Somos chamados a ir “dois a dois” para viver a realidade existencial de que só podemos falar de Deus se partilharmos os mesmos riscos, mas, sobretudo, o amor fraterno. Sempre serão necessárias, minimamente, duas pessoas que se apoiam, se acompanham e se conduzem mutuamente para que a experiência humana possa amadurecer em verdade, adquirir valor aos olhos de Deus e se tornar edificante para os outros. Este dar-se-o-que-se-é, ainda que seja pouco, multiplica-se ao cêntuplo como se o elo da partilha se tornasse uma espiral que se alarga sem cessar. Não vivemos somente de pão, mas do amor que ousa se afirmar e ao entrarmos neste universo de confiança e fraternidade, seremos capazes de transformar tudo em milagre de Deus: a angústia em certeza, a pobreza em riqueza, a necessidade em saciedade, a tristeza em alegria e a aridez interior em ternura. Jesus testemunha que o gesto de amor, por menor que seja, transforma e revoluciona tudo. E Paulo nos confirma: “Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança e paciência. O amor jamais acaba” (1 Cor 13, 7).



CONTEMPLAR


O Caminho para Emaús, Daniel Bonnell, óleo sobre tela, Georgia, Estados Unidos.









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