O Caminho da Beleza 35
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
XVI Domingo do Tempo Comum 22.07.2012
Jr 23, 1-6 Ef 2, 13-18 Mc 6, 30-34
ESCUTAR
“Vós dispersastes o meu rebanho, e o afugentastes e não cuidastes
dele. E eu reunirei o resto de minhas ovelhas de todos os países para onde foram
expulsas e as farei voltar a seus campos, e elas reproduzirão e multiplicarão.
Suscitarei para elas novos pastores que as apascentam; não sofrerão mais o medo
e a angústia, nenhuma delas se perderá, diz o Senhor” (Jr 23, 2-4).
“Ele, de fato, é a nossa paz: do que era dividido, ele fez uma
unidade. Em sua carne ele destruiu o muro de separação: a inimizade” (Ef 2,
14).
“Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como
ovelhas sem pastor” (Mc 6, 34).
MEDITAR
“Se a Igreja for se apresentar como instituição de poder, ou sistema
ideológico ou simples tradição religiosa, as pessoas não encontrarão mais nela
as respostas para as suas verdadeiras ou mais profundas perguntas. Esta é uma
das razões decisivas para o abandono do Cristianismo: seu modelo de vida, como
parece claro, não convence. Parece limitar o homem em tudo, estragar a sua
alegria de viver, limitar a sua liberdade tão preciosa e conduzi-lo não ao mar
aberto, mas à angústia e ao sufocamento” (Bento XVI).
“Nós amamos a vida e nada somos. Ancoramos no amor e não amamos a não
ser o que somos. E o que somos?” (Carlos Nejar).
ORAR
O profeta é incisivo e denuncia os pastores que
dispersaram e afugentaram o rebanho; não tomaram conta dele e, agora, o próprio
Deus o fará, dando novos pastores para que o rebanho não sofra mais de angústia
e de medo. O Senhor revela que o pecado maior é descuidar das pessoas e da
atenção que cada uma merece: “nenhuma delas se perderá”. Nosso pesado aparato
burocrático nos deixa pouco tempo para as pessoas. Somos conclamados a orar
pedindo pastores, mas esquecemos de que nada adiantará se nos faltam ovelhas
numa messe quase nula e de idade avançada. Paulo é enfático e proclama que
Cristo derrubou o ódio que era o muro que nos separava; não só os muros de
pedra, mas os muros de defesa e exclusão. Cristo aniquilou todos os muros pelo
primado do amor manifestado na sua morte violenta na cruz. A exigência radical
do amor supera toda “a Lei com seus mandamentos e decretos” e destrói a inimizade
aninhada no coração de cada um. Jesus nos apela, cotidianamente, a impedir que
a vida se apague por causa de um ativismo sem alma que não liberta as forças
vitais, mas as consome e as esgota: “havia, de fato, tanta gente chegando e
saindo que não tinham tempo nem para comer”. O seguimento de Jesus implica em
aceitar que seremos incomodados em nossos planos e em nossas lógicas
individuais e, às vezes, excludentes. Não podemos negar a compaixão e nem
subordinar a dor das pessoas ao ritmo dos nossos expedientes individuais para
que não transformemos nossos irmãos e irmãs num estorvo que nos impedirá de
reconhecer neles o Cristo Ressuscitado que nos interpela a todo instante: “Tive
fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era estrangeiro e me
acolheste, estava nu e me vestiste, estive enfermo e cuidaste de mim, preso e
fostes ver-me” (Mt 25, 35-36). Devemos nos entregar inteiros, mas precisamos
nos subtrair por um momento para esta aparente atividade improdutiva que é a
oração. Jesus ensina que a solidão é um meio privilegiado de comunhão. Não
podemos nos converter em pastores incapazes de apascentar porque nos
autocondenamos ao esgotamento estéril e patético dos que, a todo custo, só
sabem perseguir e correr atrás das ovelhas. Jesus revela que o pastor só perde
suas ovelhas quando perde algo dentro de si mesmo e, então, os elos se rompem,
voltam a serem erguidos os muros da separação, pois foi perdida a dinâmica do élan vital com o Pai, pelo Filho no
Espírito Santo. Uma vida cristã é um aprendizado de estar com o coração aberto
a todo instante. Jesus nos precedeu percorrendo as estradas poeirentas,
entrando nas cidades, fazendo o bem, acolhendo os párias, sentando com os
pobres e comendo à mesa com os pecadores. Jesus sofreu a malícia e os sarcasmos
dos poderes religiosos e imperiais. Jesus testemunhou que fracassar não é crime
e nem pecado. O crime e o pecado são, orgulhosamente, contentarmo-nos com os
objetivos medíocres em toda a nossa travessia. Vamos tentar, mais uma vez,
ensinar nossos jovens e as futuras gerações a destruir os muros da inimizade e
as fronteiras da intolerância e, com ousadia, esperança e risco, fazê-los
arrancar o grito preso na garganta e parado no ar: “Deixem o sol entrar!”.
CONTEMPLAR
Foto-montagem, autoria desconhecida, s.d.
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