terça-feira, 4 de novembro de 2025

O Caminho da Beleza 53 - Cristo, Rei do Universo

Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).


Cristo, Rei do Universo                       24.11.2013

2 Sm 5, 1-3              Cl 1, 12-20               Lc 23, 35-43

 

ESCUTAR

“Tu apascentarás o meu povo Israel e serás o seu chefe” (2 Sm 5, 2).

“Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino do seu Filho amado” (Cl 1, 13).

“Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado” (Lc 23, 42).

 

MEDITAR

Ninguém dá o que não tem. Se um homem não se aceita plena e verdadeiramente, tanto em sua inteireza como em sua fragilidade, ele tampouco pode se dar inteiramente a outra pessoa nem aceitar inteiramente a outra pessoa.

(Todd A. Salzman e Wichael G. Lawler)

Nessas andanças arriscadas podem cometer erros. Podem até receber uma carta da Congregação para a Doutrina da Fé recriminando suas atitudes. Não se preocupem! Expliquem e sigam adiante! Abram portas e façam algo, onde a vida clama! Prefiro uma Igreja que comete erros a uma Igreja que adoece por ficar fechada.

(Papa Francisco)

 

ORAR

    Davi tem uma investidura real plebiscitária: “Todas as tribos de Israel vieram encontrar com Davi em Hebron e disseram-lhe: ‘Aqui estamos. Somos teus ossos e tua carne’”. Jesus, o Cristo, da descendência de Davi, ao contrário, é contestado em sua realeza: o povo adota uma posição neutra e oportunista; os soldados o insultam e a inscrição colocada sobre a sua cabeça é uma zombaria. Somente um delinquente comum o reconhece como rei. Davi foi vitorioso com a força das armas nas suas batalhas; Jesus, ao contrário, aparece sobre a cruz como perdedor, pois são os seus inimigos que possuem as armas. Onde está a cruz, não há lugar para sinais de força. A tortura foi o seu manto, os espinhos a sua coroa, a proscrição o seu cetro, as provocações e os escárnios foram a sua aclamação. Cristo quer ser reconhecido como rei unicamente por meio de uma adesão livre, no amor, sem coação alguma e nenhuma imposição. Cristo é um Rei vencido pela força, mas vitorioso na fraqueza da ternura e jamais poderá aceitar a honra das armas nem que seja por puro adorno. No calvário, Cristo está coroando não uma conquista espetacular, mas uma obra de reconciliação e de paz. Cristo em seu “palácio” oferece asilo aos “malfeitores” que nele encontram um refúgio seguro e se cerca de súditos “pouco recomendáveis”. Um destes o reconhece explicitamente como rei e se converte no primeiro cidadão do seu Reino. O Reino do Cristo é o reino do Inocente condenado, da inocência achincalhada. É o Reino invisível Daquele que faz irromper no mundo a dimensão do perdão e o perdão para todos, inclusive para os que brilham por sua covardia, pois são os que sempre lavam as mãos. A Igreja de Jesus é sempre ameaçada pelo triunfalismo, em nome do Cristo Rei, para garantir um império como o dos ditadores e não perder o domínio e o privilégio de suas conquistas terrenas. O desafio está lançado no alto do Calvário: ou empenhamos nossas vidas para o serviço aos outros, ou procuraremos o poder e nos converteremos em seus escravos. O “bom ladrão” não obtém de Cristo a salvação física, como pretendia o seu parceiro, mas a salvação total. Jesus, o Rei e Messias crucificado, reúne todo o universo e nos revela, para todo o sempre, que a felicidade em Deus consiste em ser o dom de si mesmo.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

O Bom Ladrão, 1885, Joaquín Sorolla (1863-1923), óleo sobre tela, 217 x 105 cm, Espanha.




 

 

O Caminho da Beleza 52 - XXXIII Domingo do Tempo Comum

Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).


XXXIII Domingo do Tempo Comum                    

Ml 3, 19-20             2 Ts 3, 7-12             Lc 21, 5-19

 

ESCUTAR

Eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha (Ml 3, 19).

“Quem não quer trabalhar, também não deve comer” (2 Ts 3, 10).

“Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome dizendo: ‘Sou eu!’ e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente” (Lc 21, 8).

 

MEDITAR

Crescemos na escola de Caifás, um professor que nos obrigou a copiar milhões de vezes no caderno de nossa existência que poder, riqueza e prestígio são os pilares de um mundo feliz. Frente a esta aprendizagem gravada a fogo na alma de nossa cultura, o caminho até a felicidade distópica do Reino – serviço, pobreza e humildade – exige uma conversão social e pessoal nada fácil e nem evidente.

(José Laguna)

Há que dizer a verdade, toda a verdade, nada mais que a verdade. Dizer cruamente a verdade crua, preocupadamente a verdade que causa dano, tristemente a verdade triste. Quem não proclama a verdade quando a conhece se torna cúmplice dos mentirosos e dos covardes.

(Charles Pèguy)

 

ORAR

    Teremos sempre que enfrentar a hora decisiva e a lucidez exige afrontar a soberba e a injustiça que tem raiz e ramos dentro de nós. Temos que atiçar o fogo ardente para queimar como palha tudo o que dentro de nós faz parte de um mundo decrépito e inaceitável aos olhos de Deus. Devemos aniquilar a astúcia humana que cultiva a ilusão de que pode possuir o segredo do momento e, por esta razão, tentamos o Senhor: “Mestre, quando vai ser isto? E qual será o sinal que tudo isto está para suceder?”. São sempre as mesmas e tediosas perguntas repetidas até a náusea – “quando?” e “como?” – para que possamos aniquilar o risco de sermos surpreendidos. Jesus nos apela à perseverança, pois “é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”, pois os dias dos homens, os dias do antes também são dias do Senhor, dias em que se desenvolve o juízo. O único tempo certo é o tempo da conversão. A existência do cristão encontra o seu ponto de equilíbrio no concreto do compromisso cotidiano sério e sereno, evitando os extremos opostos do fanatismo e da inércia. Paulo fez-se construtor de tendas para sobreviver do próprio trabalho e não onerar a comunidade eclesial e Jesus afirma que do templo não “ficará pedra sobre pedra”: “O Senhor repudiou o seu altar, desfez o seu santuário, afundou na terra as portas, quebrou os ferrolhos, estendeu o prumo e não retirou a mão que derrubava” (Lm 2, 5-9). No lugar do Templo, Deus oferece uma tenda que, em sua provisoriedade, é necessária como resguardo e lugar de encontro dos nômades. E ainda assim continuam a perguntar: “O fim do mundo é para amanhã?”. Jesus dá a resposta: “O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: ‘Está aqui, está ali, pois o Reino de Deus está no meio de nós’” (Lc 17, 20-21). E podemos responder tranquilamente: “Não, o fim anunciado é hoje” e por mais que na arrogância queiramos materializar os símbolos de proteção e poder em fortalezas, templos, palácios e igrejas de pedra, Aquele que nasceu numa manjedoura, que morreu suspenso numa cruz e saiu vivo e nu de um túmulo despojado, garante, para todo o sempre, que somos o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em nós (cf. 1 Cor 3, 16).

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Oscar Romero de El Salvador, ícone, anônimo.




 

 

O Caminho da Beleza 51 - Dedicação da Basílica de Latrão

Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).


Dedicação da Basílica de Latrão    

Ez 47, 1-2.8-9.12              1 Cor 3, 9-11.16-17                       Jo 2, 13-22

 

ESCUTAR

“Suas folhas não murcharão e seus frutos jamais se acabarão: cada mês darão novos frutos, pois as águas que banham as árvores saem do santuário” (Ez 47, 12).

“Vós sois lavoura de Deus, construção de Deus” (1 Cor 3, 9).

“Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio” (Jo 2, 16).

 

MEDITAR

Por que... nos acostumamos a ver como se destrói o trabalho digno, se despeja a tantas famílias, se expulsa os camponeses, se faz a guerra e se abusa da natureza? Porque neste sistema se retirou o homem, a pessoa humana, do centro, substituindo-o por outra coisa. Porque se rende um culto idolátrico ao dinheiro. Porque se globalizou a indiferença.

(Papa Francisco)

Uma má religião torna-nos insensíveis, incapazes de vida corporal. O culto do verdadeiro Deus faz-nos corporalmente vivos, apalpando, saboreando, cheirando, vendo e ouvindo. A realização plena de nosso ser, dom de Deus, significa aspirar à vitalidade em todos os nossos sentidos.

(Timothy Radcliffe)

 

ORAR

    A Basílica de Latrão, catedral da Igreja de Roma, é considerada a mãe de todas as igrejas. O palácio de Latrão, propriedade da família imperial, tornou-se, no século IV, a habitação particular do Papa. Constantino doou ao papa Melquiades (310-314) o palácio onde se encontrava a “Casa de Fausta”, a residência da mulher do Imperador na qual o Papa celebrou um Concílio. Foi a sede oficial do bispo de Roma do século IV ao XIV e por isso representa o ideal institucional da Igreja Romana que, saída da fase de perseguição e de martírio, fez sua entrada triunfal na sociedade imperial romana. Durante séculos, ela foi o emblema da liturgia pontifical que moldou o estilo de celebração de todas as igrejas do Ocidente. O Evangelho mostra Jesus enxotando os mercadores do Templo porque enganam os mais simples para acumular dinheiro e bens. Uma Igreja oficializada por um imperador, na Casa de Fausta, só poderia ter no seu DNA o germe e a voracidade de tudo o que é fausto e ostensivo. Jesus nos revela que o novo templo é o seu Corpo Ressuscitado, pois, com sua morte e ressurreição, destruiu todo o limite local e geográfico para a sua presença espiritual. Paulo clama em Atenas: “Deus não habita em templos feitos pelas mãos dos homens” (At 17, 24). Devemos estar atentos ao calor que conferimos aos templos, aos ritos e aos objetos sacros. Não podemos idolatrá-los e nem lhes conferir um valor mágico, pois o cristianismo é uma prática que brota do nosso encontro pessoal com Jesus, com a nossa consciência e com o Espírito que nos ilumina e conduz aos outros. Nossos templos não podem se tornar fetiches e nem marcos idolátricos para os cultos burocráticos em que os altos funcionários eclesiásticos oferecem os lugares de honra para os mais ricos e poderosos da sociedade. Nossos pastores parecem desdenhar do veredicto de Jesus: “Eu vos asseguro: um rico dificilmente entrará no reino de Deus. Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino de Deus” (Mt 19, 24). É chegado o momento em que a Casa de Fausta deve ser abandonada como o símbolo de uma época histórica em que Igreja e Império celebraram um casamento espúrio e perverso. É chegada a hora em que a Igreja de Jesus deve estar próxima dos mais necessitados, praticando-se como uma Igreja pobre entre os pobres. Tendo, com Ele, o “mesmo sentir e pensar” e oferecendo o testemunho da sua identidade com Cristo Jesus que “despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se igual ao ser humano e aparecendo como qualquer homem, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz!” (Fl 2, 7-8). É chegado o momento, e já quase passou, de cumprir o que proclamou o Papa João XXIII na abertura do Vaticano II: “Está na hora de abrir as janelas para limpar a poeira de Constantino grudada na cadeira de Pedro”.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Cristo purificando o Templo, c. 1655, Bernardino Mei (1612-1676), óleo sobre tela,  104,1 x 141 cm, Siena, Itália.