Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
XXXIII Domingo do Tempo Comum
Pr 31, 10-13.19-20.30-31 1 Ts 5, 1-6 Mt
25, 14-30
ESCUTAR
“Uma mulher forte, quem a encontrará? Ela vale muito
mais do que as jóias” (Pr 31, 10).
“Vós mesmos sabeis perfeitamente que o dia do Senhor
virá como ladrão, de noite” (1 Ts 5, 2).
“Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá
em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mt 25,
29).
MEDITAR
Nada é grave senão perder o amor. Descobrir uma intimidade com Deus... Contemplá-lo também no rosto do homem... Devolver fisionomia humana ao homem desfigurado... Eis uma única e mesma luta: a do amor. Sem o amor, para que a fé? Para que chegar a queimar nossos corpos nas chamas? Nas nossas lutas... nada é grave a não ser perder o amor.
(Roger Schutz)
ORAR
Somos chamados a não enterrar a vida e nem a esterilizá-la completamente. Somos chamados a romper a obsessiva preocupação com a segurança e a afirmar diante de todos a maravilha do risco de existir para transformar o mundo. Somos chamados para o seguimento de um Jesus comprometido e não para coexistir com uma fé sufocada pelo conformismo e pela indolência. O cristão se questiona sempre sobre o que semeia ao seu redor; a quem contagiamos com a esperança e como aliviaremos a angústia que faz sofrer nossos amados e amadas. Não somos chamados a conservar a Palavra em potes herméticos de vinagre e sal, mas proclamar a Boa Nova que, ao transformar vidas, introduz o Reino de Deus no mundo. O teólogo von Balthasar é enfático: “Ninguém se converterá a Cristo porque existe um magistério, os sete sacramentos, um direito canônico, um clero, os núncios apostólicos ou um gigantesco aparato eclesiástico. Alguém se converte ao Cristo porque encontrou um cristão que, por meio da sua existência e exemplo, manifestou que é precisamente, no meio da vida que se dá um seguimento de Cristo digno de fé”. A parábola de hoje faz eco a um provérbio africano que reza “Quem te ama te dá sementes” e Deus nos entrega um tesouro pessoal apesar dos nossos limites, faltas e defeitos. Somos convidados a gastar este tesouro saindo de nós mesmos, arriscando-nos no meio da vida e, desta maneira, participando da alegria do Senhor. Jesus nos deixa livres para nos aventurar na travessia e sermos fecundos. Existem os que empacam, enterram seus talentos, se emburrecem e vivem, literalmente, enfezados. Suas vidas passam despercebidas e melancólicas e a presença do Senhor é temida e transforma-se num fardo. A nossa fé nos garante que o Senhor nunca entrega nada a ninguém sem garantir os meios para que expanda e frutifique a sua doação. O cristão sabe que deve ousar o quanto puder, pois na fé e no amor não se calcula e nem se poupa para que não se perca tudo. O papa Bento XVI exorta: “Tenha a coragem de ousar com Deus! Tente! Não tenha medo Dele! Tenha a coragem de arriscar a fé! Tenha a coragem de arriscar a bondade! Tenha a coragem de arriscar o coração puro! Comprometei-vos com Deus. Então verás que, precisamente, por isso a tua vida se tornará grande e iluminada, não mais entediada, mas plena de infinitas surpresas, porque a bondade infinita de Deus jamais se esgota!”. Não existem lugares e nem situações fechadas para a presença cristã. O espetáculo mais deprimente é aquele no qual um cristão esconde seu talento, mascara a sua fé, dissimula a sua pertença a Cristo, sepulta a Palavra ou a utiliza para seus projetos mesquinhos. A maior deformação é a vileza de uma Igreja satisfeita que se isola para usufruir, contemplar e defender os talentos recebidos. O cristão comprometido com o anúncio da Boa Nova sabe que guardar não é o mesmo que semear. A Igreja não foi instituída para preservar os dons de Deus, mas para multiplicá-los para todos. Não podemos empacar as nossas vidas e a dos outros e fenecermos estanques no mesmo lugar. Como afirma Guimarães Rosa: “Burro só não gosta é de principiar viagens... O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo” (Guimarães Rosa).
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
S. Título, 2016, Alessandra Tarantino (1974-), Associated Press
Images, Roma, Itália.
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