Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.
Ez 34,
11-12.15-17 1 Cor 15, 20-26.28
Mt 25, 31-46
ESCUTAR
“Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente e vigiar a ovelha gorda e forte” (Ez 34, 16).
“É preciso que ele reine até
que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser
destruído é a morte” (1 Cor 15, 25-26).
“Em verdade eu vos digo que
todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que
o fizestes!” (Mt 25, 40).
MEDITAR
O Cristo vai aonde não temos coragem de ir. No momento em que o procuramos no templo, ele se acha no estábulo; quando o buscamos entre os padres, ele está entre os pecadores; no instante em que o solicitamos em liberdade, está detido; quando o procuramos ornado de glória, ele está coberto de sangue sobre a cruz.
(Cartas na prisão de um cristão anônimo)
ORAR
Neste domingo se encerra o
ano litúrgico e a Igreja nos faz refletir sobre o julgamento derradeiro. O
título de Rei aflora nas
extremidades da vida de Jesus. No seu nascimento, quando os magos perguntam: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido”
(Mt 2, 2); e na sua Paixão quando, antes de lavar as mãos, Pilatos indaga: “És tu o rei dos judeus” (Mt 27, 11).
Jesus tolera este título apenas nestes dois momentos. Ao longo de sua vida
pública, Ele o recusa explicitamente. Ao invés da analogia do Rei, Ele prefere
a do Pastor. O risco do pastor ao defender as suas ovelhas com a própria vida
exprime melhor a sua relação com os que foram entregues a Ele pelo Pai. Existe uma oposição entre o Pastor e o Rei. O pastor dá a sua vida pelo
rebanho e o rei é defendido pelos seus súditos até a morte; o pastor chama cada
ovelha pelo seu nome e os súditos do rei são anônimos; a voz basta para o
pastor reunir, em torno dele, as suas ovelhas e o rei deve usar da coerção para
manter a coesão do seu reino. Santo Agostinho é enfático: “O Cristo não é Rei enquanto exigiria tributos
e conduzisse exércitos para vencer os inimigos pela guerra. Não! Mas Ele é Rei
– segundo a etimologia possível da palavra latina Rex, derivada do verbo
‘regere’: ‘conduzir’ – enquanto Ele conduz para o Reino aqueles
que creem, esperam e amam”. O
evangelho desvela que o julgamento não é para amanhã, mas ele acontece a
todo instante. E seremos
julgados pelo que não fizemos
por causa da cegueira do coração:
“Senhor, quando foi que te vimos...”.
Nossos olhos estão doentes e são incapazes de descobrir em todas as pessoas a
imagem única do Cristo porque estão emparedados, voltados para dentro de nós,
para a pessoinha que pensamos ser. O evangelho revela que cada pessoa humana é um ícone vivo na qual podemos reconhecer
o Cristo Ressuscitado, pois Ele quer se apresentar ao mundo como Alguém a quem alimentamos, damos
de beber, acolhemos, vestimos, visitamos na prisão, nos hospícios e nos
hospitais. Ele, como um mendigo, bate à nossa porta e nos pede sempre, com a
mão estendida, alguma coisa, pois no seu esvaziamento Ele quer ser nosso devedor. Somos nós que seremos entregues ao Pai porque fomos constituídos Reino de Deus desde o momento em
que nos foi revelado que este reino estava dentro de nós (Lc 17, 21). É preciso ruminar o salmo: “É teu rosto, Senhor, que eu procuro” (Sl
26, 8). Não podemos procurar o rosto do Senhor fechando os olhos e nos
abstraindo do mundo. Quando o Espírito abre os olhos do coração nós vemos o Pai
no rosto de Jesus e Jesus no rosto de cada um de nossos irmãos e irmãs, pois
todo aquele que vê, pelo coração, o rosto de seu irmão vê o rosto de Deus. Nos que são considerados insignificantes, supérfluos e descartáveis habita o Reino de Deus e são eles a realeza que será entregue ao Pai pelo
Cristo Jesus, depois de “destruir toda
autoridade e poder”. A
eles caberão as palavras de ternura e reconhecimento: “Vinde, benditos de meu Pai!”, pois nada pediram que nos custasse,
a não ser pão, teto, algumas palavras de consolo e
pequenos gestos de compaixão.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
S. Título, 1998, França, Paris, Museu
Rodin, Elliot Erwitt (1928-), Magnum Photos, franco-americano.
O juízo definitivo: não nossa relação com o rito, com a lei, com um Deus desencarnado, mas com o Outro, em especial o mais explorado, invisibilizado, oprimido, apequenado!
ResponderExcluir