quinta-feira, 23 de novembro de 2023

O Caminho da Beleza 53 - Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.

Ez 34, 11-12.15-17            1 Cor 15, 20-26.28              Mt 25, 31-46

 

ESCUTAR

“Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente e vigiar a ovelha gorda e forte” (Ez 34, 16).

“É preciso que ele reine até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte” (1 Cor 15, 25-26).

“Em verdade eu vos digo que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25, 40).

 

MEDITAR

O Cristo vai aonde não temos coragem de ir. No momento em que o procuramos no templo, ele se acha no estábulo; quando o buscamos entre os padres, ele está entre os pecadores; no instante em que o solicitamos em liberda­de, está detido; quando o procuramos ornado de glória, ele está coberto de sangue sobre a cruz.

(Cartas na prisão de um cristão anônimo)

 

ORAR

Neste domingo se encerra o ano litúrgico e a Igreja nos faz refletir sobre o julgamento derradeiro. O título de Rei aflora nas extremidades da vida de Jesus. No seu nascimento, quando os magos perguntam: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido” (Mt 2, 2); e na sua Paixão quando, antes de lavar as mãos, Pilatos indaga: “És tu o rei dos judeus” (Mt 27, 11). Jesus tolera este título apenas nestes dois momentos. Ao longo de sua vida pública, Ele o recusa explicitamente. Ao invés da analogia do Rei, Ele prefere a do Pastor. O risco do pastor ao defender as suas ovelhas com a própria vida exprime melhor a sua relação com os que foram entregues a Ele pelo Pai. Existe uma oposição entre o Pastor e o Rei. O pastor dá a sua vida pelo rebanho e o rei é defendido pelos seus súditos até a morte; o pastor chama cada ovelha pelo seu nome e os súditos do rei são anônimos; a voz basta para o pastor reunir, em torno dele, as suas ovelhas e o rei deve usar da coerção para manter a coesão do seu reino. Santo Agostinho é enfático: “O Cristo não é Rei enquanto exigiria tributos e conduzisse exércitos para vencer os inimigos pela guerra. Não! Mas Ele é Rei – segundo a etimologia possível da palavra latina Rex, derivada do verbo ‘regere’: ‘conduzir’ – enquanto Ele conduz para o Reino aqueles que creem, esperam e amam”. O evangelho desvela que o julgamento não é para amanhã, mas ele acontece a todo instante. E seremos julgados pelo que não fizemos por causa da cegueira do coração: “Senhor, quando foi que te vimos...”. Nossos olhos estão doentes e são incapazes de descobrir em todas as pessoas a imagem única do Cristo porque estão emparedados, voltados para dentro de nós, para a pessoinha que pensamos ser. O evangelho revela que cada pessoa humana é um ícone vivo na qual podemos reconhecer o Cristo Ressuscitado, pois Ele quer se apresentar ao mundo como Alguém a quem alimentamos, damos de beber, acolhemos, vestimos, visitamos na prisão, nos hospícios e nos hospitais. Ele, como um mendigo, bate à nossa porta e nos pede sempre, com a mão estendida, alguma coisa, pois no seu esvaziamento Ele quer ser nosso devedor. Somos nós que seremos entregues ao Pai porque fomos constituídos Reino de Deus desde o momento em que nos foi revelado que este reino estava dentro de nós (Lc 17, 21). É preciso ruminar o salmo: “É teu rosto, Senhor, que eu procuro” (Sl 26, 8). Não podemos procurar o rosto do Senhor fechando os olhos e nos abstraindo do mundo. Quando o Espírito abre os olhos do coração nós vemos o Pai no rosto de Jesus e Jesus no rosto de cada um de nossos irmãos e irmãs, pois todo aquele que vê, pelo coração, o rosto de seu irmão vê o rosto de Deus. Nos que são considerados insignificantes, supérfluos e descartáveis habita o Reino de Deus e são eles a realeza que será entregue ao Pai pelo Cristo Jesus, depois de “destruir toda autoridade e poder”. A eles caberão as palavras de ternura e reconhecimento: “Vinde, benditos de meu Pai!”, pois nada pediram que nos custasse, a não ser pão, teto, algumas palavras de consolo e pequenos gestos de compaixão.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

S. Título, 1998, França, Paris, Museu Rodin, Elliot Erwitt (1928-), Magnum Photos, franco-americano.




Um comentário:

  1. O juízo definitivo: não nossa relação com o rito, com a lei, com um Deus desencarnado, mas com o Outro, em especial o mais explorado, invisibilizado, oprimido, apequenado!

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