Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
V Domingo da Quaresma
Ez 37, 12-14 Rm 8, 8-11 Jo 11, 1-45
ESCUTAR
“Porei em vós o meu
espírito, para que vivais, e vos colocarei em vossa terra. Então sabereis que
eu, o Senhor, digo e faço – oráculo do Senhor” (Ez 37, 14).
“E se o Espírito daquele que
ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou
Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio
do seu Espírito que mora em vós” (Rm 8, 11).
“Então Jesus disse: Eu sou a
ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra viverá. E todo aquele
que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês isso?” (Jo 11, 25-26).
MEDITAR
Tudo o que é votado à morte vem terminar na minha vida; tudo o que se torna outono encalha na praia da minha primavera; tudo o que se desfaz em podridão vem nutrir as minhas flores.
(Hans Urs von Balthasar)
Deus somente sabe o túmulo dos tempos e Ele aí bate. Ele fala e o que já está sepultado se levanta, sai da sombra e avança para Ele, pois a morte se retirou diante do Deus da Páscoa.
(Patrice de la Tour du Pin)
ORAR
Lázaro representa toda a humanidade
sepultada e atada aos nós da morte que Jesus, por terna compaixão, salvará ao
se entregar livremente por amor. Ressuscitar é desatar os nós que nos prendem à
realidade cruel de uma sociedade civil e religiosa sustentada pela ganância e
pela competição; a uma sociedade que incentiva a promiscuidade do amor; a uma
política que tolera e incentiva a corrupção; a igrejas que abandonam o seu papel
profético e fazem todas as concessões para esposarem os privilégios do poder.
Jesus não é um dos ressuscitados.
Jesus é a Ressurreição! A travessia cristã é uma contradição permanente: temos
a certeza da morte, mas vivemos esta certeza na imprevisibilidade do quando e do como. Para um cristão, em espírito e verdade, morrer é aprender a
se lançar no abismo das entranhas do Amor onde começou a Vida. Na sua mística
do viver, a Igreja de Jesus confronta os poderes políticos e religiosos e os
coloca em xeque a partir da dimensão espiritual de suas vidas. A fidelidade de
Deus é mais forte do que a morte. Ele soprará seu Espírito para fazer viver o
seu povo e abrirá os túmulos da desesperança. A escolha é nossa: podemos nos
fechar sobre nós mesmos num movimento autodestruidor e suicida ou acolher o
transbordamento da ressurreição dada por Deus que é vida em plenitude e
abundância. Vivemos tempos sombrios em que “nossos olhos se ressecaram, nossa
esperança se extinguiu” (Ez 37, 11). Jesus testemunha que para Ele o mais
importante é vencer a morte do que afastar a doença. Amar, para o Cristo, não é
arrancar do leito, mas dos Infernos, pois o que prepara para nós, lázaros da
existência, não é um remédio para nossas enfermidades, mas a glória da
Ressurreição (cf. Pedro Chrisólogo, Sermão
63). Meditemos esta frase desconcertante de Jesus: “Lázaro está morto. Mas
por causa de vós, alegro-me por não ter estado lá, para que creiais”. E Aquele
que chorou a morte do amigo nos fez saber para todo o sempre de que era
necessária esta morte, daquele que Ele amava, para que a nossa fé sepultada com
Lázaro ressuscitasse com Ele para a glória bendita de Deus. Somos chamados à
liberdade do Espírito, basta ouvirmos no mais íntimo de nós e arriscar na
travessia o apelo de Jesus que ecoará até o fim dos tempos: “Desatai-o e
deixai-o caminhar!”.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Dom Hélder Câmara, s.d., autoria desconhecida.
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