Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
Epifania do Senhor
Is 60, 1-6 Ef
3, 2-3a.5-6 Mt 2, 1-12
ESCUTAR
“Levanta-te,
acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória
do Senhor” (Is 60, 1).
“Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do
mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo por meio do
evangelho” (Ef 3, 6).
“O rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a
cidade de Jerusalém” (Mt 2, 3).
MEDITAR
A Igreja Católica exorta seus filhos ao diálogo e à
colaboração com os seguidores das outras religiões, para que deem o testemunho
da fé e da vida cristã, reconhecendo, servindo e promovendo os bens espirituais
e morais assim como os valores socioculturais presentes nelas.
(Nostra Aetate,
2)
Temos de renunciar ao cristianismo, se nos obrigarem a
renunciar a essas dialéticas esquartejadoras dos sentimentos cristãos,
reduzindo-as à escala das sentimentalidades cômodas. Temos que romper a
puerilidade de um cristianismo que produz homens delicados e frágeis que nunca
avançam para uma fé comprometida, pois “vivem tremendo e murados em suas
defesas”.
(Emmanuel Mounier)
ORAR
Hoje é a festa da luz porque a manifestação do Senhor, a sua epifania, é inseparável da luz. Quando o Senhor se manifesta, existem os que ao responder se colocam em caminho e buscam. Há outros, porém, que se escondem e dissimulam as suas vidas e os seus encontros. Os magos foram tomados de uma imensa alegria enquanto Herodes ficou perturbado assim como a Jerusalém do poder e do saber. Os sumos sacerdotes e os escribas foram convocados para uma reunião de emergência e nela manifestam a sua inquietude e desconfiança. É significativo que a aparição da “bondade de Deus, nosso Salvador, e seu amor pelos homens” (Tt 3, 4) suscite perturbação nos que detêm o poder civil e religioso. A presença de Deus que se manifesta na fraqueza surge como um perigo e uma ameaça para a ordem estabelecida e para as posições consolidadas. O Cristo constitui uma ameaça para o nosso reino privado ao colocar em xeque nossos equilíbrios cansados e nossas falsas seguranças. O Papa Francisco afirma: “Preferem uma vida enjaulada em seus preceitos, em seus compromissos, em seus planos revolucionários ou em sua espiritualidade desencarnada” (Homilia 20.12.2013). O cristão lúcido sabe que é melhor a perturbação do que a indiferença; é melhor o compromisso do que a neutralidade; é melhor a recusa do que a ambiguidade. O cristão sabe que é necessário um coração para assombrar-se e alargar-se. O profeta desvela a expansão da luz e a sua alegria contagiosa. O evangelista, por sua vez, dá a conhecer o medo dos sábios cuja busca finda em suas bibliotecas palacianas, no meio dos pergaminhos cobertos de pó nos quais procuram sentenças definitivas. O caminho, com as suas imprevisibilidades e surpresas, não é o seu assunto. O coração dos magos é o coração dos que buscam, apaixonadamente, abrigar o mistério. O coração dos detentores do poder é árido, mesquinho e intolerante. Os magos nos revelam que entre o relâmpago do surgimento da estrela e o seu acompanhamento até o último trecho do caminho seremos assomados por dúvidas, cansaços, perdas e desilusões, mas, sobretudo, por esperanças. A estrela surge como uma chispa de fogo, acende o desejo e só volta a brilhar intensa e permanentemente no final quando o encontro se realiza. A busca não é nunca uma marcha triunfal: implica numerosas partidas e recomeços e não devemos dela esperar manifestações espetaculares. O que conta é a perseverança: a capacidade de não desertar, de não ceder ao desalento, de não se desviar para cômodos refúgios e nem se contentar com conquistas provisórias; a obstinação para caminhar quando tudo parece inútil, absurdo e impossível. E o que mais conta ainda é o discernimento de que para adorar a Deus é preciso nos deter diante do mistério do mundo e saber olhá-lo com amor. Quem olha a vida amorosamente começará a vislumbrar as vibrações de Deus antes mesmo de ser envolvido por elas.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
S. Título, s.d., da série “O Congado”, Jorge Quintão, Minas Gerais,
Brasil.
Epifania é festa da Luz, da possibilidade da iluminação. Sigamos a estrela-guia, o brilho da magia! Bela reflexão, Manos! Gracias!
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