Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
Sagrada Família de Jesus, Maria
e José
Eclo 3, 3-7.14-17 Cl 3, 12-21 Mt 2, 13-15.19-23
ESCUTAR
“Quem honra o seu pai alcança o perdão dos pecados... quem respeita a
sua mãe é como alguém que ajunta tesouros” (Eclo 3, 4).
“Vós sois amados por Deus, pois sois os seus santos eleitos” (Cl 3,
12).
“José levantou-se de noite, pegou o menino e sua mãe e partiu para o
Egito” (Mt 2, 14).
MEDITAR
Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas
estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às
próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada em ser o centro, e que
acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos.
(Papa Francisco, Evangelii
Gaudium)
ORAR
Na tradição do Antigo
Testamento a família era constituída para procriação e repousava sobre uma
estrutura patriarcal de parentesco cujo principal cuidado era a perpetuação de
uma linhagem. A família de Jesus é
uma reviravolta nesta tradição. Maria, como rezava a tradição, havia sido “prometida
a um homem chamado José, da família de Davi” (Lc 1, 27), mas o Arcanjo Gabriel
lhe anuncia algo absolutamente revolucionário: a nova família será constituída a partir de afinidades eletivas e
escolhas amorosas. José, em sonho, ouviu a palavra do anjo e a respondeu
acolhendo a jovem e a criança que ela carregava no ventre, ainda que não fosse
o autor desta gravidez e nem o genitor deste filho. José confia e se coloca
disponível: "José não tenhas medo de acolher Maria como tua esposa, pois o
que ela concebeu é obra do Espírito Santo”. Uma mulher plena do Espírito de
Deus não pode e nunca poderá ser submissa. Maria, em vigília, ouve a palavra do
anjo e, apesar de temerosa e perturbada confia e se coloca à disposição do
desígnio de Deus. Ouvir a palavra, responder com um sim incondicional e estar absolutamente disponível são os novos
pilares desta nova estrutura familiar na qual o amor recíproco e o crer
sustentam a comunidade cristã e cada família
nas suas plurais formas de existir. José e Maria ensinam – ele em estado de
sono e ela em estado vigília – que devemos estar sempre, consciente ou
inconscientemente, disponíveis para escutar e acolher a palavra de Deus. Não
podemos nos confundir: existe um abismo entre sermos pais e genitores. Um homem
e uma mulher precisam de alguns segundos para se tornar genitores e são estes
que veem seus filhos como propriedade particular, preocupados em fazer crescer
o patrimônio familiar e em continuar o sobrenome da família. Na família de
Deus, gerada a partir de Maria, José e Jesus, ser pai, mãe e filho é uma
aventura de outra natureza. É uma escolha amorosa, uma afinidade eletiva e um
compromisso de entrega para educar e conduzir os seus filhos e filhas para
opções de liberdade que poderão gerar mais vida e mais desejos. Para a
mentalidade retrógada dos que se reduziram à família nuclear burguesa tudo
escandaliza nesta Santa Família. A família de Deus se concretiza de uma forma
extraordinária aos padrões convencionais sacralizados: José, um homem sem
mulher; Maria, uma virgem sem esposo e Jesus, uma criança sem pai. Deus revela,
para todo o sempre, que o mais importante é a adoção pelo coração, o centro da
vida.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller,
mts)
CONTEMPLAR
S. Título, 1979 (?), Yanomami, Claudia Andujar (1931-),
Suíça/Brasil.
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