Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
XVIII Domingo do Tempo Comum 01.08.2021
Ex
16, 2-4.12-15 Ef 4,
17.20-24 Jo 6, 24-35
ESCUTAR
“Por que nos trouxestes a este deserto para matar de fome a toda esta gente?” (Ex 16, 3).
Renunciando à vossa existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade (Ef 4, 22-23).
“Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará” (Jo 6, 27).
MEDITAR
AMOR – VIDA
Vivi entre os homens
Que
não me viram, não me ouviram
Nem
me consolaram.
Eu
fui o poeta que distribui seus dons
E
que não recebe coisa alguma.
Fui
envolvido na tempestade do amor,
Tive
que amar até antes do meu nascimento.
Amor,
palavra que funda e que consome os seres.
Fogo,
fogo do inferno: melhor que o céu.
(Murilo Mendes, 1901-1975, Brasil)
ORAR
Os famintos – que espécie de gente é essa então? Um faminto é
manifestamente um homem que precisa do essencial, não de qualquer objeto apenas
agradável e belo e que a rigor poderia ser dispensado, mas do essencial, do
qual ele não pode privar-se. E não tem nenhum meio de o procurar. Ele não pode
mais do que descer o declive que o conduz à morte. Ele tem fome. Ele deve temer
morrer de fome... Talvez um outro dentre vocês já tenha sido faminto até esse
ponto. Mas penso que no momento o problema de vocês não está aí. O essencial
que pode fazer falta a um homem pode ser simplesmente uma vida que lhe parece
digna de ser vivida. O que ele vê é uma vida estragada, vã e corrompida. Ele
tem fome. O essencial que lhe falta pode ser também um pouco de alegria. Olha ao
seu redor e não encontra nada, absolutamente nada que o possa alegrar
realmente. Por isso ele está faminto. O essencial talvez seja uma verdadeira
afeição que alguém experimentasse por ele. Mas ninguém pode amá-lo. Nesse ponto
ele tem fome. E se o essencial que lhe faz falta for uma boa consciência? Quem
não gostaria e não deveria ter boa consciência? Pois bem! Só pode estar
faminto. A carência essencial poderia ser a certeza ao menos de uma só coisa.
Mas ele tem em si apenas incertezas, o desespero o ameaça. É assim que ele tem
fome. Então o essencial para ele é um esclarecimento a respeito de Deus. Mas o
que aprendeu até aí não lhe disse nada, não tinha o que fazer, não queria nada.
E agora, é dessa coisa essencial que ele tem fome. Foi desses famintos que
alguém disse: “ele os cumulou de bens”. Ele não se contentou em lhes dar uma
pequena compensação, uma gulodice, um presente de Natal barato ou mesmo caro,
qualquer coisa do gênero das migalhas da mesa do rico para Lázaro. Não, ele os
nutriu, matou-lhes a sede e os alegrou à saciedade. “Fez chover do céu
torrentes de amor”. Fez deles, que eram os mais pobres, os mais ricos dos
homens, tornando-se seu irmão, um faminto que grita com eles e por eles: “Meu
Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”. Pois colocou-se ao lado deles para
afastar deles e tomar sobre si toda fraqueza, todo absurdo, todo pecado, toda
miséria deles. Pagando com sua pessoa, assumiu por eles, a causa contra o
diabo, contra a morte, contra tudo que lhes pudesse fazer a vida triste,
corrupta e sombria. Tomou tudo isso sobre si para lhes dar em troca o que era
dele: a glória, a honra, a alegria dos filhos de Deus.
(Karl Barth, 1886-1968, Suíça)
CONTEMPLAR
Choque de Cultura, 2020, Jon Kolkin, Monovisions Photography Awards, 2020, Estados Unidos.
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