Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
XIII Domingo do Tempo Comum 27.06.2021
Sb
1, 13-15; 2, 23-24 2 Cor
8, 7.9.13-15 Mc 5, 21-43
ESCUTAR
Deus não fez a morte, nem tem prazer com a destruição dos vivos. Ele criou todas as coisas para existirem (Sb 1, 13-140.
Conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo: de rico que era, tornou-se pobre por causa de vós, para que vos torneis ricos por sua pobreza (2 Cor 8, 9).
“Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada” (Mc 5, 28).
MEDITAR
Se você tem uma vocação, vá nela! Se você faz viver sua vocação, no que for, a metade de sua vida está resolvida. Se você dribla a vocação, não terá sossego, eu acho. Pode até viver muito bem... Agora, para o que for na vida, se você quer aquilo, faça isso! Se não, metade do teu sentir está desconectada.
(Fernanda Montenegro, 1929-, Brasil)
ORAR
Retornemos a essas duas imagens
femininas que são a mulher enferma e a menina falecida que, sem dúvida,
encarnam duas imagens de uma mesma realidade e esta realidade está no limite
extremo de sua condição. Essas duas imagens femininas encarnam certamente o
feminino do chefe da sinagoga Jairo, seu ‘Ishah, desconhecido por
ele. O nome Jairo, Iaïre em hebreu, significa “fluxo, escoamento” com
uma ideia de “conformidade, tranquilidade”; há a luz nessa palavra, mas as duas
letras Yod cintilam de tal forma que parecem ofuscar o homem que não vê
a luz por detrás da luz, seja nos diferentes níveis da Escritura divina, oculta
na leitura da Peshat, seja na lei. Jairo não sabe nutrir seus discípulos
que, tendo fome, vagam sonâmbulos sobre esse rio tranquilo onde vão procurar alimento
em outro lugar; ele não desperta absolutamente para o novo nascimento a que todo
Homem é convidado, para a supressão da esterilidade de todos os patriarcas. “Ai
de vós, doutores da lei, porque ficastes com a chave do saber; vós mesmos não
entrastes ali e impedistes de entrar os que queriam” (Lc 11, 52). Jairo
personifica bem os responsáveis pelo ensinamento divino qualquer que seja a
tradição à qual pertencem, professores que só podem trair uma vez que não vivem
o que ensinam. É uma lei ontológica traduzida em hebreu pelo verbo Darash,
que significa “procurar, escrutinar”, mas também “exigir”. Esse estudo das
Escrituras santas exige que o estudioso viva o que ele descobre, então as
Escrituras levantarão o véu. Mas se não obedece a esta lei, seu estudo
permanece mental sem descer ao coração, o texto que é Verbo divino se volta
contra o professor, não para puni-lo, mas para despertá-lo... A criança que
Jairo continha, tendo em conta a dimensão de adulto espiritual a que era
convidado a se tornar, esta criança do mundo morre. E esta criança morre porque
a Semente divina na mulher não brotou. Mas a Semente, sendo divina, não pode
morrer, assim o Cristo, que é nela a realização, o fruto, para a humanidade
inteira, apresenta-se com a autoridade que lhe dá sua própria morte e
ressurreição para impor a vida. “Talitha qoumi! Menina, levanta-te!”,
disse à criança, empregando ali esse maravilhoso imperativo do verbo Qom,
cuja primeira letra é o cordão umbilical que liga a terra ao céu, o Homem ao
seu Senhor, numa gestação grandiosa. A gestação se faz logo e a “menina”, Talitha,
“pequeno cordeiro”, se levanta... “Dai-lhe de comer!”, disse Jesus. Jesus
desceu às profundezas da ’Ishah-’Adamah de Jairo; ele encontrou o
demônio deste homem, o do conformismo, o do medo – medo do julgamento do
coletivo das autoridades religiosas, do qual não ousa se retirar; medo de
morrer para nascer à verdadeira vida divina; em uma palavra demônio da traição que desvia o curso do sangue para o exterior
e não lhe permite mais entrar na dinâmica da tríade água-sangue-Espírito, o
sangue passando para o leite que faz crescer o Espírito, ou para o vinho que dá
a embriaguez divina. “Vinde, comprai e comei, vinde, comprai vinho e leite sem
dinheiro e sem pagar nada!... Escutai-me e comereis o que é bom e vossa alma se
deleitará com iguarias suculentas” (Is 55, 1-2).
(Annick de Souzenelle, 1922-, França)
CONTEMPLAR
Aprendendo a nadar, 2018, Alicja Brodowicz, Monovisions Photography Awards 2018, Polônia.
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