Mantinha-se firme, como se visse o Invisível! (Hb 11, 27)
IV Domingo do Tempo
Comum 31.01.2021
Dt 18, 15-20 1 Cor 7, 32-35 Mc 1, 21-28
ESCUTAR
“O Senhor teu Deus fará surgir para
ti, da tua nação e do meio de teus irmãos, um profeta como eu: a ele deverás
escutar” (Dt 18, 15).
O que eu desejo é levar-vos ao que é
melhor, permanecendo junto ao Senhor, sem outras preocupações (1 Cor 7, 35).
“Que queres de nós, Jesus nazareno?
Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus” (Mc 1, 24).
MEDITAR
Abram-me todas as portas!
Por força que hei de
passar!...
Sou EU, um universo
pensante de carne e osso, querendo passar,
E que há de passar por
força, porque quando quero passar sou Deus!
Tirem esse lixo da minha
frente!
Metam-se em gavetas essas
emoções!
Daqui pra fora,
políticos, literatos,
Comerciantes pacatos,
polícia, meretrizes, souteneurs,
Tudo isso é a letra que
mata, não o espírito que dá a vida.
O espírito que dá a vida
neste momento sou EU!
Que nenhum filho da... se
me atravesse no caminho!
O meu caminho é pelo
infinito fora até chegar ao fim!
Se sou capaz de chegar ao
fim ou não, não é contigo,
É comigo, com Deus, com o
sentido – eu da palavra Infinito...
Pra frente!
Meto esporas!
Sinto as esporas, sou o
próprio cavalo em que monto,
Porque eu, por minha
vontade de me consubstanciar com Deus,
Posso ser tudo, ou posso
ser nada, ou qualquer coisa,
Conforme me der na
gana... Ninguém tem nada com isso...
(Fernando Pessoa, 1888-1935, Portugal)
ORAR
A voz de Jesus se eleva
incrivelmente cortante. É a primeira vez que aparece em público e, no entanto, ele
o faz com uma coragem total e absoluta, chamando-nos a uma escolha
incondicional e nos deixando livres para fazê-la, de uma maneira totalmente diferente
da dos escribas. “O que significa isso?” perguntavam-se as pessoas na
sinagoga de Cafarnaum. Marcos pretendia dizer que essa cura de um “possuído”
significava nada menos do que o acontecimento de uma nova era. Doravante os
seres humanos devem enfim compreender que eles não têm outro mestre a não ser
Deus. E se continuamos a perguntar o que é um demônio ou o que sobressai dele só
há uma resposta possível: tudo o que conduz o homem a se agarrar ao menor fio
de palha como se ali fosse a salvação; tudo o que o atrela aos poderes que não
são Deus; tudo o que o constrange a uma lógica contrária à da criação; tudo o
que o arrasta a um processo infinito de destruição. É preciso escolher: de um
lado, há Deus que nos quer pessoas vivas por si próprias; de outro o poder da
angústia que nos obriga, de uma certa maneira, a só existir em coletividade e
que nos destrói até nos tornar irreconhecíveis. Isso pode nos conduzir à situação
dilacerante desse relato em que qualquer um chega a acreditar e a dizer de si
mesmo que é impuro para viver, que não é ele mesmo, que quer somente que o
deixem em paz. Só tocamos aparentemente toda a profundidade do demoníaco no
homem se compreendemos a que ponto a aspiração à pureza e à perfeição pode se transformar
em negação de si, ódio de si e destruição de si, desde que nos tornamos
prisioneiros do sistema de coerção dos outros. É preciso escolher entre os
“espíritos”, em outras palavras, entre duas atitudes espirituais: a tolerância
infinita com a qual Deus acompanha passo a passo sua criatura ou a rigidez dos
“puros”, dos guardiões da lei, das pessoas de eternos bons princípios. O poder
de Deus se fixa no coração do homem e sua impotência muitas vezes provém de uma
religião que é feita apenas de medo. Depois desse milagre na sinagoga de
Cafarnaum, os tempos novos surgiram e a escolha a fazer é agora clara. É
preciso, entretanto, toda nossa firmeza para banir o poder de nossos velhos
medos.
(Eugen Drewermann, 194o-, Alemanha)
CONTEMPLAR
Memento Mori (Lembre-se da Morte), 2019, Denis
Buchel, Moldávia, Urban Photos Awards.
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