Mantinha-se
firme, como se visse o Invisível! (Hb 11, 27)
III Domingo do Tempo Comum 24.01.2021
Jn 3, 1-5.10 1 Cor 7, 29-31 Mc
1, 14-20
ESCUTAR
Vendo Deus suas obras de conversão e que os ninivitas se afastavam do mau caminho, compadeceu-se e suspendeu o mal que tinha ameaçado fazer-lhes (Jn 3, 10).
A figura deste mundo passa (1 Cor 7, 31).
“O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1, 15).
MEDITAR
Sempre que se começa a ter amor a alguém, assim no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.
(João Guimarães Rosa, 1908-1967, Brasil).
ORAR
O
amor cristão do próximo e a fraternidade possuem um significado e uma dignidade
inteiramente diferentes se os vemos como uma maneira concreta de realizar o
amor de Deus e não como uma obrigação secundária, imposta como um mandamento
divino. Tudo se passa em nossa vida cristã como se devêssemos obter nossa
salvação só pela oração, pela recepção dos sacramentos, pela participação na
Eucaristia, pela fuga diante do pecado ou pelo perdão dos pecados; tudo se
passa como se, para realizar esse objetivo, devêssemos evitar as grandes faltas
contra as obrigações que temos para com o próximo. Mas a vida cristã não surgiria
com toda uma outra luz se o adágio “salva tua alma” se transformasse por
inteiro, natural e automaticamente, em “salve teu próximo”? Considerando a vida
cristã ordinária, parece que a consciência moral do cristão médio é dominada
pela ideia de que o amor do próximo é realizado quando não lhe fazemos nada de
mal e satisfazemos às obrigações específicas que ele tem o direito de exigir.
Mas, na verdade, o “mandamento” de amar nosso próximo, em união com o amor de
Deus, nos demanda romper nosso egoísmo, ultrapassar a ideia de que aquele amor do
próximo seria, no fundo, apenas uma regulamentação inteligente de exigências
recíprocas e um acordo unicamente fundado sobre o par “dar e receber”. Na
realidade, o amor do próximo só atinge sua verdadeira dimensão na renúncia aos
cálculos, na disposição de amar sem esperar por recompensa, na aceitação da
loucura da cruz. Se compreendemos efetivamente que o amor de Deus e o amor do
próximo são apenas um, esse último toma um novo valor: ele deixa seu papel de
exigência particular, implicando esforços limitados e controláveis, para ocupar
o lugar da nossa realização completa: é à totalidade de nosso ser que ele
dirige todas as interpelações, bem além das obrigações normais, mas é apenas
assim que chegamos à mais alta liberdade que há, a liberdade vis-à-vis a nós
mesmos. Eis, em conclusão, as certezas de nossa fé cristã: o amor por Deus e
pelo próximo – esse amor que é mais do que um mandamento e do que uma prática
imposta por dever – ele é o único a poder trazer a salvação à humanidade; ele é
a significação última da Lei e dos Profetas; ele pode surgir mesmo na humildade
de uma vida ordinária e, portanto, na humildade da última renúncia e do último
abandono a Deus, que nos associa ao ato derradeiro de Jesus sobre a cruz. Uma
fraternidade que seja trazida pelo amor de Deus e que encontre sua realização
neste amor, eis o ápice de nosso destino. E este ápice é uma possibilidade
oferecida a todo homem.
(Karl Rahner, 1904-1984, Alemanha)
CONTEMPLAR
S. Título, s.d., autoria desconhecida, fonte: pexels/pixabay.
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