segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O Caminho da Beleza 40 - XXI Domingo do Tempo Comum

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).


XXI Domingo do Tempo Comum                23.08.2020

Is 22, 19-23            Rm 11, 33-36                     Mt 16, 13-20

 

ESCUTAR

“Eu o farei levar aos ombros a chave da casa de Davi; ele abrirá, e ninguém poderá fechar; ele fechará, e ninguém poderá abrir” (Is 22, 22).

Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são inescrutáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos! (Rm 11, 33).

“Tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16, 19).

 

MEDITAR

“Ama-me mais, Senhor, para te querer”.

Busca-me mais, para melhor te achar.

Desassossegue-me, por não te buscar.

Desassossegue-me, por te reter.

 

Poda-me mais, para mais te florescer.

Desnuda-me, para não te encobrir.

Ensina-me a acolher, para te esperar.

Olha-me em todos, para em todos te ver.

 

Como te deixar ser só Tu mesmo,

sem te reduzir, sem te manipular?

Como, crendo em Ti, não te proclamar

igual, maior, melhor que o cristianismo?

 

(Pedro Casaldáliga, 1928-2020, Catalunha/Brasil)

 

ORAR

       Tu és o Cristo, declara Pedro. Tu és Pedro, responde em eco Jesus no vivo da conversação, sem dúvida a mais altamente paritária que o Evangelho nos há relatado, esse entre-dois, esse diá-logo às vezes dinâmico e franco sendo decididamente o espaço no qual se desvela todo o mistério e todo o ministério da Igreja. Eu te darei as chaves, prossegue Jesus. Tudo o que desligares sobre a terra, será desligado nos céus. Eis San Pietro in Vincoli, tal como Roma o venera, em outro lugar que aquele, presumido, de sua Confissão. Pedro, preso nos laços que seu Senhor lhe faz entrever como seu futuro: quando fores velho, estenderás as mãos e um outro te cingirá e te levará para onde não queres ir (Jo 21, 18). Pedro cortando os laços que entravavam todo o elán pessoal ou coletivo em direção ao seu Senhor, tendo de início desatado a si próprio: Eu sou teu servo, o filho de tua serva. Quebrastes os meus grilhões. Vou te oferecer o sacrifício da ação de graças (Sl 115, 16-17). O anjo tocou Pedro no ombro e o acordou: “Levanta-te! Depressa!”, disse-lhe. E as correntes caíram-lhes das mãos (At 12, 7). Pedro ligado e desligado, não segundo seu capricho, mas para a realização do serviço universal que seu Senhor lhe confiou. E notemos bem que há uma ordem, ou mais exatamente que o gesto de ligar está aqui ordenado a um certo gesto de desligar mais fundamental; que o ligar é correlativo a um desligar mais compreensivo e mais vasto. Porque, no momento em que ele prende os homens à sua rede, a vocação de Pedro é a de colocá-los em liberdade (Lc 5, 10). Agi, ele disse, como homens livres, não como homens que fazem da liberdade um véu sobre sua malícia, mas como servos de Deus (1 Pd 2, 16). E a vocação da Igreja construída sobre Pedro é naturalmente fazer entrar a humanidade na liberdade da glória dos filhos de Deus (Rm 8, 21), nessa liberdade que temos em Cristo Jesus (Gl 2, 4), segundo as expressões de Paulo. Instância maior da libertação no coração do homem e no coração da história (se bem que certos membros seus possam falhar sempre nesta tarefa ou ofuscar a claridade dessa imagem), a Igreja está fundamentalmente a serviço do Cristo-Verdade que torna livre (Jo 8, 32; 14, 6). Portadora da vida de seu Senhor ressuscitado, ela oferece aos homens, em particular pelos sacramentos, os meios de viver segundo a lei do Espírito que dá a vida em Cristo Jesus e que liberta da lei do pecado e da morte (Rm 8, 2). Discípula d’Aquele que abre o espírito à inteligência das Escrituras (Lc 24, 45), ela se abre a si mesma como um espaço de interpretação viva da Palavra. Ela nos faz livres entre as palavras, como entre os mortos. Livres no meio das tentações e das tribulações do mundo, para que o mundo inteiro possa exclamar, como o rei Nabucodonossor diante das três pessoas jovens que ele lançou amarradas na fornalha: eu vi homens em liberdade que passeavam em meio ao fogo (Dn 3, 23-24). Amém.

(François Cassingena-Trévedy, 1959-, França)

 

CONTEMPLAR

O cavaleiro tímido, 1958-59, entre Los Angeles e a Cidade do México, William Tynan (1930-2016), Estados Unidos, Monochrome Photography Awards, 2014.



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