A palavra de
Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
XXI Domingo do Tempo Comum 23.08.2020
Is
22, 19-23 Rm 11, 33-36 Mt 16, 13-20
ESCUTAR
“Eu o
farei levar aos ombros a chave da casa de Davi; ele abrirá, e ninguém poderá
fechar; ele fechará, e ninguém poderá abrir” (Is 22, 22).
Ó profundidade
da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são inescrutáveis os seus
juízos e impenetráveis os seus caminhos! (Rm 11, 33).
“Tudo o
que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra
será desligado nos céus” (Mt 16, 19).
MEDITAR
“Ama-me
mais, Senhor, para te querer”.
Busca-me
mais, para melhor te achar.
Desassossegue-me,
por não te buscar.
Desassossegue-me,
por te reter.
Poda-me
mais, para mais te florescer.
Desnuda-me,
para não te encobrir.
Ensina-me
a acolher, para te esperar.
Olha-me
em todos, para em todos te ver.
Como
te deixar ser só Tu mesmo,
sem
te reduzir, sem te manipular?
Como,
crendo em Ti, não te proclamar
igual,
maior, melhor que o cristianismo?
(Pedro
Casaldáliga, 1928-2020, Catalunha/Brasil)
ORAR
Tu és o
Cristo, declara Pedro. Tu és Pedro, responde em eco Jesus no
vivo da conversação, sem dúvida a mais altamente paritária que o Evangelho nos
há relatado, esse entre-dois, esse diá-logo às vezes dinâmico e franco
sendo decididamente o espaço no qual se desvela todo o mistério e todo o
ministério da Igreja. Eu te darei as chaves, prossegue Jesus. Tudo o
que desligares sobre a terra, será desligado nos céus. Eis San Pietro in
Vincoli, tal como Roma o venera, em outro lugar que aquele, presumido, de sua
Confissão. Pedro, preso nos laços que seu Senhor lhe faz entrever como seu
futuro: quando fores velho, estenderás as mãos e um outro te cingirá e te
levará para onde não queres ir (Jo 21, 18). Pedro cortando os laços que
entravavam todo o elán pessoal ou coletivo em direção ao seu Senhor,
tendo de início desatado a si próprio: Eu sou teu servo, o filho de tua
serva. Quebrastes os meus grilhões. Vou te oferecer o sacrifício da ação de
graças (Sl 115, 16-17). O anjo tocou Pedro no ombro e o acordou: “Levanta-te!
Depressa!”, disse-lhe. E as correntes caíram-lhes das mãos (At 12, 7). Pedro
ligado e desligado, não segundo seu capricho, mas para a realização do serviço
universal que seu Senhor lhe confiou. E notemos bem que há uma ordem, ou mais
exatamente que o gesto de ligar está aqui ordenado a um certo gesto de desligar
mais fundamental; que o ligar é correlativo a um desligar mais
compreensivo e mais vasto. Porque, no momento em que ele prende os
homens à sua rede, a vocação de Pedro é a de colocá-los em liberdade (Lc 5,
10). Agi, ele disse, como homens livres, não como homens que fazem da
liberdade um véu sobre sua malícia, mas como servos de Deus (1 Pd 2, 16). E
a vocação da Igreja construída sobre Pedro é naturalmente fazer entrar a
humanidade na liberdade da glória dos filhos de Deus (Rm 8, 21), nessa liberdade
que temos em Cristo Jesus (Gl 2, 4), segundo as expressões de Paulo.
Instância maior da libertação no coração do homem e no coração da história (se
bem que certos membros seus possam falhar sempre nesta tarefa ou
ofuscar a claridade dessa imagem), a Igreja está fundamentalmente a serviço do
Cristo-Verdade que torna livre (Jo 8, 32; 14, 6). Portadora da vida de
seu Senhor ressuscitado, ela oferece aos homens, em particular pelos
sacramentos, os meios de viver segundo a lei do Espírito que dá a vida em
Cristo Jesus e que liberta da lei do pecado e da morte (Rm 8, 2).
Discípula d’Aquele que abre o espírito à inteligência das Escrituras (Lc 24,
45), ela se abre a si mesma como um espaço de interpretação viva da
Palavra. Ela nos faz livres entre as palavras, como entre os mortos. Livres no
meio das tentações e das tribulações do mundo, para que o mundo inteiro possa
exclamar, como o rei Nabucodonossor diante das três pessoas jovens que ele
lançou amarradas na fornalha: eu vi homens em liberdade que passeavam em
meio ao fogo (Dn 3, 23-24). Amém.
(François
Cassingena-Trévedy, 1959-, França)
CONTEMPLAR
O
cavaleiro tímido, 1958-59, entre Los Angeles e a Cidade do México,
William Tynan (1930-2016), Estados Unidos, Monochrome Photography Awards, 2014.
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