A palavra de
Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
XXIII Domingo do Tempo Comum 06.09.2020
Ez
33, 7-9 Rm 13, 8-10 Mt 18, 15-20
ESCUTAR
“Logo que
ouvires alguma palavra de minha boca, tu os deves advertir em meu nome” (Ez 33,
7).
O amor
não faz nenhum mal contra o próximo (Rm 13, 10).
“Onde
dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles” (Mt
18, 20).
MEDITAR
O amor
não tem nada de condescendência. Ele é “duro como a morte”, segundo a
palavra do Cântico. Agradar é muitas vezes o contrário de fazer o bem. O amor
verdadeiro é implacável. Não ama as fraquezas, ama apesar e contra elas, ele
apruma. Porém a sua dureza é a do amor, ele é confiança, abrigo, sustento.
Busca-se a violência na ironia ou no insulto, mas é o amor que é
verdadeiramente duro. Duro com os outros, mas primeiro consigo próprio. Duro
como o diamante, lúcido, transparente e que vai até o fundo. Duro, mas não
ofensivo. A violência mata, a ironia alfineta, o amor penetra o coração e cura.
(Jean
Daniélou, 1905-1974, França)
ORAR
Entre o Egito e o deserto, entre a
escravidão e a liberdade, estende-se uma linha de demarcação. É o momento do
ato decisivo pelo qual nos tornamos homens novos, estabelecidos numa situação
moral totalmente nova. Em termos geográficos, foi o Mar Vermelho, mas na oração
do Senhor é o “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós somos perdoados”.
Esse “como nós somos perdoados” representa o momento em que alcançamos nossa
salvação com as próprias mãos, pois tudo o que Deus faz depende do que nós
fazemos; e isso é de uma extrema importância na vida cotidiana. Se recusamos o
perdão, colocamos em xeque o mistério do amor, nós o recusamos e não há lugar
para nós no Reino. Não podemos ir muito longe se não somos perdoados e não
podemos ser perdoados por muito tempo também se não perdoamos a todos os que
nos fizeram mal. É perfeitamente claro, nítido e preciso que ninguém pode
imaginar estar no Reino de Deus, e pertencer a ele, se a recusa de perdoar
reside em seu coração. Perdoar a seus inimigos é a primeira característica do cristão,
a mais elementar. Se faltamos com isso, não somos cristãos por inteiro, ainda
erramos pelo deserto seco do Sinai. Mas perdoar é uma coisa extremamente
difícil. Admitir o perdão em um momento em que se sente o coração cheio de
mansidão ou num élan de afetividade é relativamente fácil. Mas bem
poucas pessoas sabem exercê-lo sem repreender. Com efeito, o que chamamos
perdão consiste muitas vezes em colocar o outro à prova e nada mais. E ainda,
as pessoas perdoadas ficam felizes quando se trata somente de uma prova e não
de um retorno. Esperamos com impaciência os testemunhos de arrependimento,
queremos estar seguros que o penitente não é mais o mesmo, mas esta situação
pode durar toda uma vida e nossa atitude é absolutamente contrária a tudo o que
ensina o Evangelho e, na verdade, a tudo o que ele nos manda. Assim, a lei do
perdão não é a de um riacho fino na fronteira entre a escravidão e a liberdade;
ela é larga e profunda, é a do Mar Vermelho. Os judeus não o atravessaram
graças aos seus próprios esforços e sobre os barcos feitos com mãos humanas. O
Mar Vermelho se entreabriu pelo poder de Deus. É preciso que Deus os ajude a
atravessá-lo. Mas para ser conduzido por Deus, deve-se comungar com esta
qualidade de Deus que é a capacidade de perdoar.
(Antoine
Bloom, 1914-2003, Suíça)
CONTEMPLAR
Menino
italiano ajuda a atravessar a praça a seu amigo, que perdeu a perna durante
bombardeio das forças aliadas a Nápoles, em 1943, a foto é
de 1944, autoria desconhecida, Itália, em histomania.org/photo/7470.