A palavra de
Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
Natal do Senhor 25.12.2019
Is 52, 7-10 Hb
1, 1-6 Jo 1, 1-18
ESCUTAR
Como são
belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem
anuncia o bem e prega a salvação (Is 52, 7).
Este é o
esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com
o poder de sua palavra (Hb 1, 3).
E a
Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14).
MEDITAR
Vi nascer um deus...
na manjedoura?
no presépio?
no chão, diante do pórtico arruinado, como em
Siena o pintou Francesco Giorgio?
na capelinha torta de São Gonçalo do Rio Abaixo?
na big cesta de natal?
...
repousa o Infante esperado.
As luzes em que o esculpiram tornam-lhe o corpo
dourado.
O Cristo é sempre novo, e na fraqueza deste menino
há um silencioso motor, uma confidência e um sino.
Nasce a cada dezembro e nasce de mil jeitos.
Temos de pesquisá-lo até na gruta de nossos
defeitos.
...
Vi nascer um deus.
Onde, pouco importa.
Como, pouco importa.
Vi nascer um deus
em plena calçada
entre camelôs;
na vitrina da boutique
sorria ou chorava,
não sei bem ao certo;
a luz da boate
mal lhe debuxava
o mínimo perfil.
Vi nascer um deus
entre embaixadores
entre publicanos
entre verdureiros
entre mensalistas,
no Maracanã
em Para-lá-do-mapa,
quando os gatos rondam
a espinha da noite
os mendigos espreitam
os inferninhos
e no museu acordam as telas
informais
e o homem esquece
metade da ciência atômica:
vi nascer um deus.
O mais pobre,
o mais simples.
(Carlos Drummond de
Andrade, 1902-1987, Brasil)
ORAR
Senhor Jesus, por tua
encarnação aqui embaixo, vieste esposar toda a humanidade. Tu, o Filho do Pai
eterno, a Imagem resplandecente de Deus, te despojaste de todos os sinais da
divindade e quiseste aparecer a nossos olhos como um homem simples, semelhante
a nós todos. E tu foste mais longe ainda:
tu não tiveste vergonha de viver como um pobre. Nascido num estábulo,
fugiste para o estrangeiro devido aos poderes de teu tempo, viveste em Nazaré a
vida das pessoas mais simples ao ponto de te chamarem filho de José e ninguém
suspeitava em ti a presença de Deus. Ao longo de toda sua vida, te sentias
alegre em meio às pessoas ordinárias, entre os doentes e os pecadores, entre os
loucos de teu tempo, tomando lugar à mesa de Mateus, o publicano, como na de
Simão, o fariseu. Tu nos revelas assim a que ponto amas todo homem qualquer que
seja, o homem que viestes salvar convidando-o a partilhar a vida de teu pai, a
própria vida de Deus. E tu nos mostras assim que a teus olhos, contigo, em
seguida a ti, todo homem é capaz de crescer, de se expandir e de descobrir a
plenitude do amor a que Deus nos chama. Sim, tu acreditaste nos homens que
encontraste. Acreditaste que o menor dentre eles, o mais pobre, o mais leproso
era amado e convidado pelo Pai. Tu acreditaste na dignidade de todo homem a
quem Deus oferecia sua aliança. Senhor Jesus, eu creio em ti. Mas nesta festa
de Natal, ajude-me a não ficar no folclore deste dia, mas a discernir o
mistério que tu quiseste nos revelar. Sim, quando se ama, se quer ir sempre
mais além no amor. Hoje, por teu nascimento em Belém, Deus entrou em todo o
desenrolar da história humana e em todo desenrolar de nossas próprias vidas.
Não é mais num céu longínquo que nós devemos te procurar; mas é em nosso
entorno, em nosso trabalho, em família que nós podemos descobrir tua presença,
Senhor Jesus. Por toda parte onde se ama, por toda parte onde se vive em
comunhão uns com os outros, por toda parte onde se reconcilia após alguma
desunião, tu estás lá, tu és hoje para sempre o Deus conosco que jamais
poderá nos abandonar.
(Bernard
Prévost, 1913- , França)
CONTEMPLAR
S. Título, 1979
(?), Yanomami, Claudia Andujar (1931-), Suíça/Brasil.
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