quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

O Caminho da Beleza 05 - Natal do Senhor


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

Natal do Senhor              25.12.2019
Is 52, 7-10               Hb 1, 1-6                  Jo 1, 1-18

ESCUTAR

Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação (Is 52, 7).

Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra (Hb 1, 3).

E a Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14).


MEDITAR

Vi nascer um deus...
na manjedoura?
no presépio?
no chão, diante do pórtico arruinado, como em Siena o pintou Francesco Giorgio?
na capelinha torta de São Gonçalo do Rio Abaixo?
na big cesta de natal?
                                               ... repousa o Infante esperado.
As luzes em que o esculpiram tornam-lhe o corpo dourado.

O Cristo é sempre novo, e na fraqueza deste menino
há um silencioso motor, uma confidência e um sino.

Nasce a cada dezembro e nasce de mil jeitos.
Temos de pesquisá-lo até na gruta de nossos defeitos.
...
Vi nascer um deus.
Onde, pouco importa.
Como, pouco importa.
Vi nascer um deus
em plena calçada
entre camelôs;
na vitrina da boutique
sorria ou chorava,
não sei bem ao certo;
a luz da boate
mal lhe debuxava
o mínimo perfil.
Vi nascer um deus
entre embaixadores
entre publicanos
entre verdureiros
entre mensalistas,
no Maracanã
em Para-lá-do-mapa,
quando os gatos rondam
a espinha da noite
os mendigos espreitam
os inferninhos
e no museu acordam as telas
informais
e o homem esquece
metade da ciência atômica:
vi nascer um deus.
O mais pobre,
o mais simples.

(Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987, Brasil)


 ORAR

        Senhor Jesus, por tua encarnação aqui embaixo, vieste esposar toda a humanidade. Tu, o Filho do Pai eterno, a Imagem resplandecente de Deus, te despojaste de todos os sinais da divindade e quiseste aparecer a nossos olhos como um homem simples, semelhante a nós todos. E tu foste mais longe ainda:  tu não tiveste vergonha de viver como um pobre. Nascido num estábulo, fugiste para o estrangeiro devido aos poderes de teu tempo, viveste em Nazaré a vida das pessoas mais simples ao ponto de te chamarem filho de José e ninguém suspeitava em ti a presença de Deus. Ao longo de toda sua vida, te sentias alegre em meio às pessoas ordinárias, entre os doentes e os pecadores, entre os loucos de teu tempo, tomando lugar à mesa de Mateus, o publicano, como na de Simão, o fariseu. Tu nos revelas assim a que ponto amas todo homem qualquer que seja, o homem que viestes salvar convidando-o a partilhar a vida de teu pai, a própria vida de Deus. E tu nos mostras assim que a teus olhos, contigo, em seguida a ti, todo homem é capaz de crescer, de se expandir e de descobrir a plenitude do amor a que Deus nos chama. Sim, tu acreditaste nos homens que encontraste. Acreditaste que o menor dentre eles, o mais pobre, o mais leproso era amado e convidado pelo Pai. Tu acreditaste na dignidade de todo homem a quem Deus oferecia sua aliança. Senhor Jesus, eu creio em ti. Mas nesta festa de Natal, ajude-me a não ficar no folclore deste dia, mas a discernir o mistério que tu quiseste nos revelar. Sim, quando se ama, se quer ir sempre mais além no amor. Hoje, por teu nascimento em Belém, Deus entrou em todo o desenrolar da história humana e em todo desenrolar de nossas próprias vidas. Não é mais num céu longínquo que nós devemos te procurar; mas é em nosso entorno, em nosso trabalho, em família que nós podemos descobrir tua presença, Senhor Jesus. Por toda parte onde se ama, por toda parte onde se vive em comunhão uns com os outros, por toda parte onde se reconcilia após alguma desunião, tu estás lá, tu és hoje para sempre o Deus conosco que jamais poderá nos abandonar.

(Bernard Prévost, 1913- , França)


CONTEMPLAR

S. Título, 1979 (?), Yanomami, Claudia Andujar (1931-), Suíça/Brasil.




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