segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

O Caminho da Beleza 07 - Epifania do Senhor


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

Epifania do Senhor                    05.01.2020
Is 60, 1-6                 Ef 3, 2-3.5-6                       Mt 2, 1-12


ESCUTAR

Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor (Is 60, 1).

Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo por meio do evangelho (Ef 3, 6).

Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho (Mt 2, 12).


MEDITAR

Eu te procurei tal qual os três reis magos
Que caminhavam através de mares e desertos,
Até que um dia uma estrela enviada por ti mesmo
Me trouxe até a sua inefável presença.
Não posso te ofertar o ouro, o incenso e a mirra:
Ofereço-te a minha alma que tu mesmo criaste
Ofereço-te a minha aridez e o meu pecado.
Ilumina agora e sempre todos os que te procuram
E todos aqueles que acreditam no teu fim.
Angústia e escuridão dominam o homem
Porque tu ainda não deste a volta ao mundo.

(Murilo Mendes, 1901-1975, Brasil)


ORAR

    O desígnio de Deus não foi apenas descer sobre a terra, mas de ser ali conhecido, não somente nascer, mas de se fazer conhecer. De fato, é em vista deste conhecimento que temos esta celebração, esse dia insigne da Epifania. Hoje, com efeito, os Magos vieram do Oriente à procura do Sol da justiça em seu nascer, aquele de quem lemos: “Eis um homem: Oriente é seu nome” (Zc 6, 12). Hoje eles adoraram o bebê novo da Virgem, seguindo a direção traçada por uma nova estrela. Mas o que fazem vocês, ó Magos, o que fazem vocês? Vocês adoram uma criança ao peito, numa cabana vulgar, com faixas vulgares! Este seria mesmo Deus? Mas, “Deus reside em seu templo santo; o Senhor tem seu trono nos céus”! (Sl 11, 4). E vocês o procuram num estábulo vulgar, sobre o seio de uma mãe! O que fazem vocês? O que é este ouro que lhe oferecem? Este seria mesmo rei? Mas onde está sua coroa real? Onde está seu trono? Onde está a multidão de seus cortesãos? Um estábulo é um palácio? Uma manjedoura é um trono? Maria e José são a multidão dos cortesãos? Como os sábios se tornaram loucos a ponto de adorar uma criança desprezível, tanto por sua idade como pela pobreza dos seus? Loucos eles se tornaram com efeito! E eles se tornaram para se fazer sábios! O Espírito lhes ensinou de antemão o que mais tarde o apóstolo proclamou: “Aquele que quer ser sábio, se faça louco para ser sábio! Pois como o mundo, com toda a sua sabedoria, não pode reconhecer Deus em sua sabedoria, Deus dispôs salvar os fiéis pela loucura da palavra” (1 Cor 1, 21). E não se devia temer, meus irmãos, que esses Magos não ficassem escandalizados e se sentissem logrados quando eles viram tantas coisas indignas de um rei? Com efeito, da cidade real, onde pensavam encontrar o Rei, eles são guiados até Belém, uma pequena vila! Eles entram num estábulo e acham um bebê envolvido em faixas! Para eles, o estábulo não é sórdido; as faixas não os desagradam; a criança ao peito não os choca: eles se prostram! Eles lhe rendem homenagem como um rei! Eles o adoram como um Deus! Seguramente, aquele que os conduziu aqui é o mesmo que os instruiu. E aquele que os guiou do exterior pela estrela é o mesmo que os ensinou no segredo de seu coração. Essa manifestação do Senhor iluminou esse dia. A santa veneração dos Magos tornou esse dia santo e venerável.

(São Bernardo de Claraval, 1090-1153, França)


CONTEMPLAR

Numa prisão em Manila, 2015, Filipinas, Alan Dejecacion, Califórnia, Estados Unidos. A Unicef afirma que cerca de quatro mil crianças estavam presas em cadeias e centros de detenção do país, em 2005.




quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O Caminho da Beleza 06 - Sagrada Família de Jesus, Maria e José


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

Sagrada Família de Jesus, Maria e José              29.12.2019
Eclo 3, 3-7.14-17               Cl 3, 12-21               Mt 2, 13-15.19-23


ESCUTAR

A caridade feita a teu pai não será esquecida (Eclo 3, 15).

Sede agradecidos. Que a palavra de Cristo, com toda a sua riqueza, habite em vós (Cl 3, 16).

“Herodes vai procurar o menino para matá-lo” (Mt 2, 13).


MEDITAR

Ele armou sua tenda entre nós e nos revelou que o amor não conhece limites nem definições restritivas; ele leva aquele que ama ao ponto de desistir da própria vida pelo bem dos outros. Ele vai acima e além da linha do dever. É claro, isto é extravagante e absurdo, mas o Reino de Deus é para as aventuras da fé. Não é uma recompensa para a mediocridade.

(Manos da Terna Solidão, 1999-, Brasil)


ORAR

        No dia seguinte ao Natal, a Igreja guarda suas vestes brancas de festa e se veste da cor do sangue. Estevão, o mártir que segue primeiro o Senhor na morte, e as crianças inocentes, amamentadas em Belém e Judá, que foram degoladas pelas mãos cruéis dos carrascos, se reúnem em torno do Menino da manjedoura, formando seu séquito. Que significa tudo isso? Onde está agora a alegria das armas celestes? Onde está a felicidade silenciosa da noite santa? Onde está a paz sobre a terra? “Paz sobre a terra aos homens de boa vontade”: mas nem todos são de boa vontade. O poder misterioso do mal envolvia o mundo na noite, assim foi preciso que o Filho do Pai eterno descesse da glória do céu. As trevas cobriam a terra e ele veio como a luz que brilha nas trevas, e as trevas não o receberam. Aos que o acolheram, ele trouxe a luz e a paz: a paz com o Pai do céu, a paz com todos os que são também filhos da luz e filhos do Pai, e a paz profunda do coração; mas não a paz com os filhos das trevas. A estes, o Príncipe da paz não traz a paz, mas a espada. Para eles, ele é a pedra de tropeço sobre a qual se precipitam e que os abate. Eis a grave e dura verdade que não deve atenuar o charme poético do Menino na manjedoura. O mistério da encarnação e o mistério do mal estão estreitamente ligados. À luz descida do céu se opõe, ainda mais escura e lúgubre, a noite do pecado. Os que se ajoelham ao redor da manjedoura são seus filhos da luz: frágeis inocentes, pastores cheios de fé, reis humildes, Estevão, o discípulo inspirado, e João, o apóstolo do amor, e todos que seguiram o chamado do Senhor. Contra eles, na noite inconcebível do embrutecimento e da cegueira, se colocaram os doutores da Lei que, sabendo em que tempo e que lugar nasceria o Salvador, não partiram, contudo, para Belém, e Herodes que queria igualmente matar o senhor da vida. Diante do Menino na manjedoura, os espíritos se dividem. Ele é o Rei dos reis, o senhor da vida e da morte. Ele diz: “Siga-me” e quem não está com ele está contra ele. Ele diz isso a nós também e nos intima a escolher entre a luz e as trevas.

(Santa Edith Stein, 1891-1942, Polônia)


CONTEMPLAR

A Família Gritz, s.d., foram encarcerados no gueto de Berezno, Ucrânia/Polônia, onde foram assassinados pelos alemães e seus colaboradores ucranianos, em agosto de 1942, Arquivo sobre as vítimas da Shoah, Centro Yad Vashem, Jerusalém, Israel.




quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

O Caminho da Beleza 05 - Natal do Senhor


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

Natal do Senhor              25.12.2019
Is 52, 7-10               Hb 1, 1-6                  Jo 1, 1-18

ESCUTAR

Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação (Is 52, 7).

Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra (Hb 1, 3).

E a Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14).


MEDITAR

Vi nascer um deus...
na manjedoura?
no presépio?
no chão, diante do pórtico arruinado, como em Siena o pintou Francesco Giorgio?
na capelinha torta de São Gonçalo do Rio Abaixo?
na big cesta de natal?
                                               ... repousa o Infante esperado.
As luzes em que o esculpiram tornam-lhe o corpo dourado.

O Cristo é sempre novo, e na fraqueza deste menino
há um silencioso motor, uma confidência e um sino.

Nasce a cada dezembro e nasce de mil jeitos.
Temos de pesquisá-lo até na gruta de nossos defeitos.
...
Vi nascer um deus.
Onde, pouco importa.
Como, pouco importa.
Vi nascer um deus
em plena calçada
entre camelôs;
na vitrina da boutique
sorria ou chorava,
não sei bem ao certo;
a luz da boate
mal lhe debuxava
o mínimo perfil.
Vi nascer um deus
entre embaixadores
entre publicanos
entre verdureiros
entre mensalistas,
no Maracanã
em Para-lá-do-mapa,
quando os gatos rondam
a espinha da noite
os mendigos espreitam
os inferninhos
e no museu acordam as telas
informais
e o homem esquece
metade da ciência atômica:
vi nascer um deus.
O mais pobre,
o mais simples.

(Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987, Brasil)


 ORAR

        Senhor Jesus, por tua encarnação aqui embaixo, vieste esposar toda a humanidade. Tu, o Filho do Pai eterno, a Imagem resplandecente de Deus, te despojaste de todos os sinais da divindade e quiseste aparecer a nossos olhos como um homem simples, semelhante a nós todos. E tu foste mais longe ainda:  tu não tiveste vergonha de viver como um pobre. Nascido num estábulo, fugiste para o estrangeiro devido aos poderes de teu tempo, viveste em Nazaré a vida das pessoas mais simples ao ponto de te chamarem filho de José e ninguém suspeitava em ti a presença de Deus. Ao longo de toda sua vida, te sentias alegre em meio às pessoas ordinárias, entre os doentes e os pecadores, entre os loucos de teu tempo, tomando lugar à mesa de Mateus, o publicano, como na de Simão, o fariseu. Tu nos revelas assim a que ponto amas todo homem qualquer que seja, o homem que viestes salvar convidando-o a partilhar a vida de teu pai, a própria vida de Deus. E tu nos mostras assim que a teus olhos, contigo, em seguida a ti, todo homem é capaz de crescer, de se expandir e de descobrir a plenitude do amor a que Deus nos chama. Sim, tu acreditaste nos homens que encontraste. Acreditaste que o menor dentre eles, o mais pobre, o mais leproso era amado e convidado pelo Pai. Tu acreditaste na dignidade de todo homem a quem Deus oferecia sua aliança. Senhor Jesus, eu creio em ti. Mas nesta festa de Natal, ajude-me a não ficar no folclore deste dia, mas a discernir o mistério que tu quiseste nos revelar. Sim, quando se ama, se quer ir sempre mais além no amor. Hoje, por teu nascimento em Belém, Deus entrou em todo o desenrolar da história humana e em todo desenrolar de nossas próprias vidas. Não é mais num céu longínquo que nós devemos te procurar; mas é em nosso entorno, em nosso trabalho, em família que nós podemos descobrir tua presença, Senhor Jesus. Por toda parte onde se ama, por toda parte onde se vive em comunhão uns com os outros, por toda parte onde se reconcilia após alguma desunião, tu estás lá, tu és hoje para sempre o Deus conosco que jamais poderá nos abandonar.

(Bernard Prévost, 1913- , França)


CONTEMPLAR

S. Título, 1979 (?), Yanomami, Claudia Andujar (1931-), Suíça/Brasil.




O Caminho da Beleza 04 - IV Domingo do Advento


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).


IV Domingo do Advento                      22.12.2019
Is 7, 10-14               Rm 1, 1-7                 Mt 1, 18-24


ESCUTAR

“Será que achais pouco incomodar os homens e passais a incomodar até o meu Deus?” (Is 7, 13).

Amados de Deus e santos por vocação, a graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e de nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 1, 7).

Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo (Mt 1, 18).


MEDITAR

Sejais quem fordes! movimento e reflexo fazem-se especialmente para vós, por vós o barco divino singra o divino oceano.
Sejais quem fordes! sois aquele ou aquela para quem a terra é sólida e líquida, sois aquele ou aquela para quem pendem no céu o sol e a lua, pois ninguém mais do que vós é o presente e o passado, ninguém mais do que vós é a imortalidade.

(Walt Whitman, 1819-1892, Estados Unidos)


ORAR

    É certo que as realidades sobrenaturais não podem encontrar na natureza pontos de comparação satisfatórios. Nós vemos bem, contudo, que é de maneira diferente que o raio nasce da luz, a semente da vinha e a flor do ramo ou da árvore. O raio nasce da luz com a mesma natureza dela, sem que se possa dizer que a luz seja o raio, nem o inverso. É assim que o Filho é do Pai, em identidade de substância, sem que todavia o Filho seja o Pai nem que o Pai seja o Filho, mas um e outro são um só e mesmo ser. É por isso que, celebrando a memória deste nascimento de glória, a Igreja canta: “Ó Oriente, raio da luz eterna”. A semente nasce da vinha para torná-la fecunda e lhe dar sua completude, mas ela não corta, nem corrompe e nem fere sua integridade. É assim que na Virgem nasce Deus: ele lhe confere sua plenitude, sua fecundidade, sua consagração – sem ruptura, sem violência, sem estigma. É por isso que, comparando à semente do fruto de seu seio, o Senhor declara pelo profeta: “Eu suscitarei a Davi um rebento legítimo” (Jr 23, 5). Céus, derramai vosso brilho, e que as nuvens façam chover o Justo! Terra, abra-te, e que brote o Salvador!”. É uma terra humilde, fértil, firme, como a bem-aventurada Virgem. E se ela se abre, não é por um alcance material, mas segundo o Espírito, pela fé. E ela faz “brotar o Salvador”. A flor nasce da árvore ou do ramo. É assim que, longe de os destruir, ela os completa; sem ruptura, ela os coroa. É assim que nasceu Deus da Virgem. Sem ruptura, sem dano: “Essa porta permanecerá fechada. Nunca se abrirá e ninguém entrará por ela”, diz Ezequiel (44, 2). Ele é sua fecundidade e sua coroa. É por isso que seu nascimento é comparado ao brotar de uma flor: “Ele fará brotar do tronco de Jessé uma vara, uma flor subirá de suas raízes” (Is 11, 1). Assim pois, “aquele que nasceu nela” nasceu antes do seio maternal de Deus seu Pai como o raio da luz; do seio maternal, ele nasceu da Virgem sua mãe como a semente da vinha; do seio maternal, enfim, ele nasceu como a flor do ramo, da vara e da árvore. O terceiro, como o segundo nascimento, nos é ofertado nesse mundo como lenitivo, o primeiro nos aguarda no céu como recompensa.

(São Boaventura, 1221-1274, Itália)


CONTEMPLAR

O Rio Maine, França, 2019, Jim Brandenburg (1945-), Minnesota, Estados Unidos.




O Caminho da Beleza 03 - III Domingo do Advento


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).


III Domingo do Advento                     15.12.2019
Is 35, 1-6.10                       Tg 5, 7-10                Mt 11, 2-11


ESCUTAR

Dizei às pessoas deprimidas: “Criai ânimo, não tenhais medo!” (Is 35, 4).

Ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima (Tg 5, 8).

“De todos os homens que nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no reino dos céus é maior do que ele” (Mt 11, 11).


MEDITAR

E a morte perderá seu domínio.
Nus, os homens mortos irão confundir-se
com o homem no vento e na lua do poente;
quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos
hão de nos seus braços e pernas brilhar as estrelas.
Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito, lúcido;
mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão de ressurgir;
mesmo que os amantes se percam, continuará o amor;
e a morte perderá o seu domínio.

(Dylan Thomas, 1914-1953, Reino Unido)


ORAR

       Nessa oposição que Jesus estabelece entre a ordem a que pertence ainda João Batista e a ordem nova que Ele inaugura, há uma distância infinita. Esta distância infinita é justamente que, em Jesus, Deus se revela não como um poder que esmaga, fulmina, domina e que faz de nós escravos e súditos, mas Deus se revela como o Amor: Ele não faz senão amar. Como o Amor, frágil. Como o Amor, desarmado. Se João Batista anuncia o tempo da cólera, Jesus anuncia o advento da Generosidade e do Amor. Esta é uma concepção de Deus tão diferente que é preciso escolher inteiramente entre uma e outra: elas são incompatíveis e Nosso Senhor é tão consciente disso que Ele não hesita, após ter feito o elogio mais magnífico de João Batista, de declarar que o menor nesse novo Reino é maior do que ele. O Evangelho coloca Deus em nossas mãos. É a vida de Deus que nos é confiada porque Deus, desde agora, através do rosto de Jesus Cristo, não é mais um Deus-faraó, não é mais um rei, não é mais um dominador, um senhor, não é mais um poder que pode nos destruir. Não é mais alguém que esperamos nos terrores da morte. É uma Mãe, é um Coração, é uma Ternura desarmada que nos espera no mais profundo de nós mesmos, que se entrega em nossas mãos, que se confia ao nosso amor e que só nos chama para a nossa generosidade... o Deus que crê em nós. Nós queremos, portanto, a partir dessa oposição que Jesus Cristo estabelece entre João Batista e Ele mesmo, nós queremos avançar em direção a esse mistério do Natal, ir ao encontro da Infância divina, para aprender justamente que Deus é um amor frágil e desarmado, que se confia à nós, que crê em nós, que conta com nossa generosidade e que nos enobrece com esta confiança infinita que Ele nos faz, porque mesmo aos olhos daquele que não acredita em Deus há uma finalidade magnífica, eterna, porque de toda maneira Deus acredita no homem.

(Maurice Zundel, 1897-1975, Suíça)


CONTEMPLAR

Lá em cima, Índia, Christopher Comeso, 2019 Sony World Photography Awards, Filipinas.




segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

O Caminho da Beleza 02 - Imaculada Conceição de Nossa Senhora


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).




Imaculada Conceição de Nossa Senhora             08.12.2019
Gn 3, 9-15.20                     Ef 1, 3-6.11-12                    Lc 1, 26-38


ESCUTAR

O Senhor Deus chamou Adão, dizendo: “Onde estás?” (Gn 3, 9).

Nós fomos predestinados a ser, para o louvor de sua glória, os que de antemão colocaram a sua esperança em Cristo (Ef 1, 11-12).

“Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1, 28).


MEDITAR

Maria sente que Jesus é seu filho, inteiramente seu, e que ele é Deus. Ela contempla e medita: “Este Deus é meu filho. Esta carne divina é minha carne. Ele é feito de mim, tem meus olhos, e essa forma da sua boca é a forma da minha. Ele se assemelha a mim. É Deus, mas semelhante a mim”. Nenhuma mulher teve, assim, seu Deus só para si. Um Deus muito pequenino, que se pode tomar nos braços e cobrir de beijos, um Deus bem quentinho, que sorri e respira. Um Deus que se pode tocar e está vivo. É por isso mesmo, por ter sido ela a única a quem Deus se entregou tão completamente, deixando-a vê-Lo assim tão absolutamente tal qual Ele é, que nós dizemos que ela é cheia de graça e bendita entre as mulheres.

(Jean-Paul Sartre, 1905-1980, França)


ORAR

   A primeira palavra da parte de Deus a seus filhos, quando o Salvador se aproxima do mundo, é um convite à alegria. É o que escuta Maria: “Alegra-te”. Jürgen Moltmann, o grande teólogo da esperança, a expressou assim: “A palavra última e primeira da grande libertação que vem de Deus não é ódio e sim alegria; não é condenação e sim absolvição. Cristo nasce da alegria de Deus e morre e ressuscita para trazer sua alegria a este mundo contraditório e absurdo”. Porém, a alegria não é fácil. A ninguém se pode forçar que fique alegre; não se pode impor desde fora a alegria. O verdadeiro gozo deve nascer no mais fundo de nós mesmos. Do contrário, será riso exterior, gargalhada vazia, euforia passageira, mas a alegria permanecerá fora, à porta de nosso coração. O novelista alemão Hermann Hesse diz que os rostos atormentados, nervosos e tristes de tantos homens e mulheres se devem a que “a felicidade só a alma pode senti-la, não a razão, nem o ventre, nem a cabeça, nem o bolso”. Mas há algo mais. Como se pode ser feliz quando há tantos sofrimentos sobre a terra? Como se pode rir quando ainda não estão secas todas as lágrimas e brotam diariamente outras novas? Como gozar quando duas terças partes da humanidade se encontram afundadas na fome, na miséria ou na guerra. A alegria de Maria é o gozo de uma mulher crente que se alegra em Deus salvador, a que levanta os humilhados e dispersa os soberbos, a que cumula de bens os famintos e despede vazios os ricos. A alegria verdadeira só é possível no coração daquela que anseia e busca justiça, liberdade e fraternidade para todos. Maria se alegra em Deus porque vem consumar a esperança dos abandonados. Só se pode ser alegre em comunhão com os que sofrem e em solidariedade com os que choram. Só tem direito à alegria quem luta por fazê-la possível entre os humilhados. Só pode ser feliz quem se esforça por fazer felizes aos demais. Só pode celebrar o Natal quem busca sinceramente o nascimento de um homem novo entre nós.

(José Antonio Pagola, 1937-, Espanha)


CONTEMPLAR

Imigrantes nigerianas choram e se abraçam num centro de detenção para refugiados na Líbia, 2016, Daniel Etter (1980-), World Press Photo Contest 2017, Alemanha.