sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O Caminho da Beleza 51 - XXXII Domingo do Tempo Comum


Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.

            (Carlos Drummond de Andrade)


XXXII Domingo do Tempo Comum                       10.11.2019
2 Mc 7, 1-2.9-14                2 Ts 2, 16-3, 5                    Lc 20, 27-38


ESCUTAR

“Prefiro ser morto pelos homens, tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará” (2 Mc 7, 14).

Que o Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo (2 Ts 2, 5).

“Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele” (Lc 20, 38).


MEDITAR

Eu acredito que a vida humana pode ser vivida tão profundamente e que o amor pode ser vivido tão poderosamente que a encarnação se produz efetivamente sem cessar. Deus não é um homem celeste, uma força exterior ou um parente que julga. Deus é o espírito criador que faz sair ordem do caos. Deus é a força de vida que emerge de início na consciência, depois na consciência de si, numa auto-transcendência, e, por fim, em nós não sabemos como. Deus é o amor que cria o bem-estar, o Ser nas profundezas de nosso ser, a Fonte de onde toda vida procede.

(John Shelby Spong, 1931-, Estados Unidos)


ORAR

        Na primeira leitura, no Evangelho: finalmente, os sete irmãos e sua mãe, os sete irmãos e a única esposa: todo mundo morre. E esse ponto final nos espera também. O morrer nos chegará. Um acidente incontornável. Um revés inelutável? Morrer mártir não é uma simples sentença de vida. Isso acontece quando se arrisca uma vida plena, doada. Não é morrer sem filhos. O sangue dos mártires é semente do cristão. Morrer: um só pode viver essa misteriosa passagem. Jesus, como todo mundo, está morto: morto crucificado sob Pôncio Pilatos. Sua morte não é o ponto final, mas o ponto do cumprimento: ele venceu a morte. Todavia... a morte continua seu trabalho. A morte violenta cotidiana em torno de nós, a morte daqueles que nós amamos. Eles foram realmente arrancados desta terra. A morte é o ponto firme e obrigatório da nossa fé na Ressurreição. É a partir desse lugar de dor, de angústia e de sofrimento, é daí que se eleva em nós, em todo homem, a questão: é o fim, há um depois, um além? Esse lugar – uma cova, um muro, um abismo, uma porta, uma passagem – é para se viver... Ele está em nós e nós passamos nosso tempo ocultando-o. São Bento em sua Regra (RB 4) teve a atenção de nos recomendar entre os instrumentos da arte espiritual: “Desejar a vida eterna com todo o ardor de sua alma” (RB 4, 46); “Ter cada dia diante dos olhos a morte que nos espreita” (RB 4, 47). Então sim, esse monge tinha razão de dizer a seu amigo, pouco tempo antes de sua morte: no céu, veja, nós seremos felizes por nossas amizades humanas. Esse além da Luz e do Amor: eis que ele vem ao nosso encontro. Esse além está acessível: Jesus nos abre o acesso dele: Eu sou a Ressurreição e a Vida (Jo 11, 25). Aquele que come minha carne e bebe meu sangue terá a vida eterna (Jo 6, 54). Jesus nos dá acesso em seu Eu sou de Filho e toda a multidão torna-se Reino de irmãos, homens e mulheres, enfim em relação verdadeira, enfim frente a frente à luz, porque o amor do Pai, o amor no qual Jesus é amado está neles, em nós: vida eterna. Comunhão de Amor, Plenitude, Espírito Santo.

(Christophe Lebreton, 1950-1995, França, monge mártir do Mosteiro Atlas de Tibhirine, Argelia)


CONTEMPLAR

Viagem Espiritual, 2015, margem do rio Ganges, Haridwar, Índia, Monochrome Photography Awards 2017, Rajesh Satankar, Mumbai, Índia.




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