Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos
Drummond de Andrade)
XXXII Domingo do Tempo Comum 10.11.2019
2 Mc 7, 1-2.9-14 2
Ts 2, 16-3, 5 Lc 20,
27-38
ESCUTAR
“Prefiro
ser morto pelos homens, tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia
nos ressuscitará” (2 Mc 7, 14).
Que o
Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo
(2 Ts 2, 5).
“Deus não
é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele” (Lc 20, 38).
MEDITAR
Eu
acredito que a vida humana pode ser vivida tão profundamente e que o amor pode
ser vivido tão poderosamente que a encarnação se produz efetivamente sem
cessar. Deus não é um homem celeste, uma força exterior ou um parente que
julga. Deus é o espírito criador que faz sair ordem do caos. Deus é a força de
vida que emerge de início na consciência, depois na consciência de si, numa auto-transcendência,
e, por fim, em nós não sabemos como. Deus é o amor que cria o bem-estar, o Ser
nas profundezas de nosso ser, a Fonte de onde toda vida procede.
(John
Shelby Spong, 1931-, Estados Unidos)
ORAR
Na primeira leitura, no Evangelho:
finalmente, os sete irmãos e sua mãe, os sete irmãos e a única esposa: todo
mundo morre. E esse ponto final nos espera também. O morrer nos chegará. Um
acidente incontornável. Um revés inelutável? Morrer mártir não é uma simples sentença
de vida. Isso acontece quando se arrisca uma vida plena, doada. Não é morrer
sem filhos. O sangue dos mártires é semente do cristão. Morrer: um só pode
viver essa misteriosa passagem. Jesus, como todo mundo, está morto: morto
crucificado sob Pôncio Pilatos. Sua morte não é o ponto final, mas o ponto do
cumprimento: ele venceu a morte. Todavia... a morte continua seu trabalho. A
morte violenta cotidiana em torno de nós, a morte daqueles que nós amamos. Eles
foram realmente arrancados desta terra. A morte é o ponto firme e obrigatório
da nossa fé na Ressurreição. É a partir desse lugar de dor, de angústia e de
sofrimento, é daí que se eleva em nós, em todo homem, a questão: é o fim, há um
depois, um além? Esse lugar – uma cova, um muro, um abismo, uma porta, uma
passagem – é para se viver... Ele está em nós e nós passamos nosso tempo
ocultando-o. São Bento em sua Regra (RB 4) teve a atenção de nos recomendar
entre os instrumentos da arte espiritual: “Desejar a vida eterna com todo o
ardor de sua alma” (RB 4, 46); “Ter cada dia diante dos olhos a morte que nos
espreita” (RB 4, 47). Então sim, esse monge tinha razão de dizer a seu amigo,
pouco tempo antes de sua morte: no céu, veja, nós seremos felizes por nossas
amizades humanas. Esse além da Luz e do Amor: eis que ele vem ao nosso
encontro. Esse além está acessível: Jesus nos abre o acesso dele: Eu sou a
Ressurreição e a Vida (Jo 11, 25). Aquele que come minha carne e bebe
meu sangue terá a vida eterna (Jo 6, 54). Jesus nos dá acesso em seu Eu
sou de Filho e toda a multidão torna-se Reino de irmãos, homens e mulheres,
enfim em relação verdadeira, enfim frente a frente à luz, porque o amor do Pai,
o amor no qual Jesus é amado está neles, em nós: vida eterna. Comunhão de Amor,
Plenitude, Espírito Santo.
(Christophe
Lebreton, 1950-1995, França, monge mártir do Mosteiro Atlas de Tibhirine, Argelia)
CONTEMPLAR
Viagem
Espiritual, 2015, margem do rio Ganges, Haridwar, Índia, Monochrome
Photography Awards 2017, Rajesh Satankar, Mumbai, Índia.
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