sexta-feira, 6 de setembro de 2019

O Caminho da Beleza 43 - XXIV Domingo do Tempo Comum


Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.

(Carlos Drummond de Andrade)


XXIV Domingo do Tempo Comum             15.09.2019
Ex 32, 7-11.13-14              1 Tm 1, 12-17                      Lc 15, 1-32


ESCUTAR

E o Senhor disse ainda a Moisés: “Vejo que este é um povo de cabeça dura” (Ex 32, 9).

Agradeço àquele que me deu força, Cristo Jesus, nosso Senhor, pela confiança que teve em mim ao designar-me para o seu serviço, a mim, que antes blasfemava, perseguia e insultava (1 Tm 1, 12-13).

“Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Lc 15, 20).


MEDITAR

Deixar escapar a ternura é deixar escapar a vida. E como não há vida sem riscos, assim também não há ternura sem riscos. Mas o risco maior é o de não viver a ternura.

(Carlo Rocchetta, 1943-, Itália)


ORAR

            Uma distância para a ternura. Quando se aproximou da casa, ele ouviu a música e as danças... Sigamos mais de perto a letra do evangelho: ele ouviu a sinfonia... Com isso, meus irmãos, nada mais que isso, nós encontramos nossa felicidade. Quando se aproximou... Aproximemo-nos, então, nós também e, para isso, tiremos partido – bom partido - da distância que nos separa ainda dos mais afastados. Se temos bom ouvido, se temos o ouvido fino e amável do coração, é bom estar mais longe. Mantenhamos nosso ouvido límpido, preservando, corrigindo nosso coração das dissonâncias que poderiam produzir nele todo sentimento de amargura, de cólera e de inveja. Porque de nada serviria ouvir de longe a sinfonia se a escutamos com um ouvido embrutecido... O ouvido se exercita e se encanta, antes, pela distância do som que lhe chega como um clarão, como um cheiro logo reconhecido de terra natal. Talvez não haja música a não ser aquela da qual se foi exilado e que se reconhece por tê-la antes escutado, mesmo que as circunstâncias desse antes, no fogo da emoção, nos escapem. Desejo e Memória são os anjos guardiões da música, suas musas, se preferirem. E a música? A música, em uma palavra, é a Colheita, mais distante. Há decididamente, ao largo dessa história, o espaço. Na realidade, são três. Há a distância que ainda separa o filho mais velho da sinfonia: quando se aproximou, ele escutou... Há a distância que ainda separa o pai do filho que retorna: quando ele ainda estava longe, seu pai o viu. E depois, certamente, no início, há a distância – definitivamente concreta – que o filho colocou entre o pai e ele: ele partiu para uma região longínqua. Tudo isso anda junto: retire essa última distância e as duas outras não têm mais razão de ser e, certamente, isso seria prejudicial aos olhos, à alegria dos olhos, porque não haveria mais o filho a se ver acorrer; prejudicial ao ouvido, à alegria do ouvido, porque não haveria mais a sinfonia a se pressentir ao longe. Não haveria mais toda essa história da Ternura. A Ternura (outro nome natural para o pai), a Ternura não pode cumular seu bem amado a não ser que haja uma certa distância a se percorrer para o reencontro; esta distância aumenta seu mistério e lhe é mesmo essencial, e vital, pois a Ternura passa o que há de mais luminoso em sua vida – até perdê-la – a percorrer esta distância. A distância não é uma fatalidade, mas este espaço entre dois onde a graça tem razão de ser: ela se mede e se avalia pela régua deste abraço e desse beijo profundo que a anula em um instante, mas sem que se perca a sua memória, porque nunca se esquece uma pessoa que retorna de longe.

(François Cassingena-Trévedy, 1959-, França)

           
CONTEMPLAR

Amizade de Infância, 2018, Sony World Photography Awards 2018, Tofazzal Hossain, Bangladesh, Índia.




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