Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
XXIV Domingo do Tempo Comum 15.09.2019
Ex 32, 7-11.13-14 1
Tm 1, 12-17 Lc 15,
1-32
ESCUTAR
E o
Senhor disse ainda a Moisés: “Vejo que este é um povo de cabeça dura” (Ex 32,
9).
Agradeço
àquele que me deu força, Cristo Jesus, nosso Senhor, pela confiança que teve em
mim ao designar-me para o seu serviço, a mim, que antes blasfemava, perseguia e
insultava (1 Tm 1, 12-13).
“Quando
ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao
encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Lc 15, 20).
MEDITAR
Deixar
escapar a ternura é deixar escapar a vida. E como não há vida sem riscos, assim
também não há ternura sem riscos. Mas o risco maior é o de não viver a ternura.
(Carlo
Rocchetta, 1943-, Itália)
ORAR
Uma distância para a
ternura. Quando se aproximou da casa, ele ouviu a música e as danças...
Sigamos mais de perto a letra do evangelho: ele ouviu a sinfonia... Com
isso, meus irmãos, nada mais que isso, nós encontramos nossa felicidade. Quando
se aproximou... Aproximemo-nos, então, nós também e, para isso, tiremos partido
– bom partido - da distância que nos separa ainda dos mais afastados. Se temos bom
ouvido, se temos o ouvido fino e amável do coração, é bom estar mais longe.
Mantenhamos nosso ouvido límpido, preservando, corrigindo nosso coração das
dissonâncias que poderiam produzir nele todo sentimento de amargura, de cólera
e de inveja. Porque de nada serviria ouvir de longe a sinfonia se a escutamos
com um ouvido embrutecido... O ouvido se exercita e se encanta, antes, pela
distância do som que lhe chega como um clarão, como um cheiro logo reconhecido de
terra natal. Talvez não haja música a não ser aquela da qual se foi exilado e
que se reconhece por tê-la antes escutado, mesmo que as circunstâncias desse antes,
no fogo da emoção, nos escapem. Desejo e Memória são os anjos guardiões da
música, suas musas, se preferirem. E a música? A música, em uma palavra, é a
Colheita, mais distante. Há decididamente, ao largo dessa história, o espaço.
Na realidade, são três. Há a distância que ainda separa o filho mais velho da
sinfonia: quando se aproximou, ele escutou... Há a distância que ainda
separa o pai do filho que retorna: quando ele ainda estava longe, seu pai o
viu. E depois, certamente, no início, há a distância – definitivamente concreta
– que o filho colocou entre o pai e ele: ele partiu para uma região
longínqua. Tudo isso anda junto: retire essa última distância e as duas
outras não têm mais razão de ser e, certamente, isso seria prejudicial aos
olhos, à alegria dos olhos, porque não haveria mais o filho a se ver acorrer;
prejudicial ao ouvido, à alegria do ouvido, porque não haveria mais a sinfonia
a se pressentir ao longe. Não haveria mais toda essa história da Ternura. A
Ternura (outro nome natural para o pai), a Ternura não pode cumular seu bem
amado a não ser que haja uma certa distância a se percorrer para o reencontro;
esta distância aumenta seu mistério e lhe é mesmo essencial, e vital, pois a
Ternura passa o que há de mais luminoso em sua vida – até perdê-la – a
percorrer esta distância. A distância não é uma fatalidade, mas este espaço
entre dois onde a graça tem razão de ser: ela se mede e se avalia pela régua
deste abraço e desse beijo profundo que a anula em um instante, mas sem que se
perca a sua memória, porque nunca se esquece uma pessoa que retorna de longe.
(François
Cassingena-Trévedy, 1959-, França)
CONTEMPLAR
Amizade
de Infância, 2018, Sony World Photography Awards 2018,
Tofazzal Hossain, Bangladesh, Índia.
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