A palavra de Deus é viva e eficaz e mais
cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
XXII Domingo do Tempo Comum 02.09.2018
Dt 4, 1-2.6-8 Tg 1, 17-18.21-22.27 Mc
7, 1-8.14-15.21-23
ESCUTAR
“Nada acrescenteis, nada tireis à
palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus que vos
prescrevo. Vós os guardareis, pois, e os poreis em prática” (Dt 4, 2.6).
Sede praticantes da Palavra e não
meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos (Tg 1, 22).
“Este povo me honra com os lábios,
mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam” (Mc
7, 6-7).
MEDITAR
Temos de destruir o ídolo de Deus –
imaginado como uma pessoa grande e poderosa e, habitualmente, pensado no
masculino – que nos dá ordens e diz o que devemos fazer, para que Ele goste de
nós (...) Tantas vidas têm sido crucificadas pelo culto deste ídolo estranho.
Temos de descobrir o Deus que é fonte da liberdade, transbordando mesmo no
âmago do nosso ser e concedendo-nos a existência em cada momento.
(Timothy Radcliffe, 1945-, Reino
Unido).
ORAR
O
ensinamento de Jesus exige dos cristãos operar um discernimento profundo e
sutil para saber fazer a distinção entre a vontade de Deus expressa pela Lei e
as tradições religiosas, que são elaborações humanas que às vezes aventuram-se
a substituir os mandamentos, até compelindo aqueles que as seguem a ignorar ou
mesmo a contradizer a vontade de Deus. A boa nova do Evangelho deve sair e
ressoar livremente e de forma clara, de maneira que os homens saibam e
respondam a isso como uma exigência humanizante. Não esqueçamos disso: o
espiritual e o que obedece mesmo a Lei de Deus é sempre o que é mais humano e o
mais humanizante... Marcos nos relata uma discussão que opõe Jesus aos fariseus
e aos escribas, homens religiosos que conheciam bem a Lei de Deus e que se
gabavam de a colocar em prática. Esses homens religiosos são doentes de
hipocrisia, isto é, têm a atitude dos que dissimulam; pelos lábios parecem
adorar Deus e estar em comunhão com ele, mas seu coração na realidade está bem
longe de Deus (cf. Is 29, 13) ... Eles obedecem a preceitos humanos e são os
campeões de observância das leis; desenvolveram, no entanto, mais
profundamente, a arte de não obedecer à vontade de Deus, uma vez que obedecem
exteriormente a tantas exigências, fixadas por eles mesmos, sem que Deus lhes
tenha jamais pedido! Esses proclamados “justos” (cf. Mc 2, 17) acabam assim por
nutrir a necessidade de serem admirados pelas pessoas, e como verdadeiros
“sepulcros caiados” (Mt 23, 27) se esforçam a cada dia por edificar a sua
própria reputação de santidade... Jesus denuncia aqui a trava típica de muitos homens
religiosos – os de sua época como os de todos os tempos – para quem o serviço
do altar é mais importante que o serviço destinado a Deus; a obediência
legalista mais capital que as ações realizadas segundo a vontade de Deus e que
consideram que a religião é muito mais essencial que o fato de se amar Deus com
todo seu coração, com todo seu espírito e com todas suas forças e ao próximo
como a ti mesmo (cf. Mc 12, 30-31; Dt 6, 5; Lv 19, 18). Pois bem, o
cristianismo é uma religião que exige sair das malhas da religião, quer dizer, deve
sempre passar pelo crivo do Evangelho toda a proposição que nos é feita e toda
obediência que se queira realizar. Realizando esse discernimento, os cristãos
devem reconhecer com lucidez qual é a origem do mal: ela não se encontra nunca
nos outros ou em realidades externas, mas está enraizada no coração do homem,
nessa profundidade onde se decidem os sentimentos, os pensamentos, as ações.
Sim, o crente é chamado a distinguir em seu próprio coração a fonte de suas
ações contra a vontade de Deus: não lançar pois a responsabilidade sobre os
outros quando cedemos à tentação ao ponto de cometer pecado; não fazer dos
hábitos humanos, mesmo quando são bons, um elemento essencial para servir a
Deus; e, sobretudo, não transformar nossas observâncias num púlpito que nos
autorizaria a nos erigir como juízes para com os outros.
(Enzo Bianchi, 1943-, Itália)
CONTEMPLAR
O lado obscuro,
1999, Casper Dalhoff (1972-), Dinamarca.
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