Muitos pensam de modo
diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos
modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que
temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens
e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)
Não temos um só Pai? Não nos
criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)
XVI Domingo do Tempo Comum 23.07.2017
Sb 12, 13.16-19 Rm 8, 26-27 Mt 13, 24-43
ESCUTAR
Ensinaste
ao teu povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora
esperança de que concedes o perdão aos pecadores (Sb 12, 19).
O
Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir nem
como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor com gemidos
inefáveis (Rm 8, 26).
“Enquanto
todos dormiam, veio o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi embora”
(Mt 13, 25).
MEDITAR
Diálogo
entre o venerável Uddálaka a seu filho Shvetaketu:
“Vai
e traze-me um fruto da árvore nyagrodha.”
“Aqui
está, venerável.”
“Abre-o.”
“Feito,
venerável.”
“Que
vês no interior?”
“Vejo-o,
venerável, todo cheio de sementes.”
“Abre
uma delas.”
“Feito,
venerável.”
“Que
vês em seu interior?”
“Nada,
venerável.”
Então
lhe disse:
“Da
coisa sutil que tu de modo algum percebes, querido filho, dessa coisa sutil
surgiu certamente essa enorme árvore nyagrodha. Acredita, querido filho, o que
constitui essa coisa sutil, aquilo de que surgiu o universo, isso é o real, é a
alma, és tu, ó Shvetaketu”.
(Chhandogya-Upanishad VI, 11-12, Hinduismo)
ORAR
O Reino de Deus é sempre um início minúsculo e
insignificante. O Reino começa em alguma parte sem que ninguém se dê conta
disto. Deus vem à terra como uma semente, um fermento ou um rebento. Jesus é
semeador e semente ao mesmo tempo. Devemos aprender a delicadeza de Deus, sua
solicitude e benevolência. Não podemos ceder à inquietude e nem nos deixar
devorar pela ansiedade. Respeitemos a vida, não a sufoquemos e vivamos todas as
suas possibilidades. Seja qual for o momento em que nos encontramos, não é mais
do que um ponto de partida. Devemos suspeitar das transformações espetaculares
e dos resultados imediatos, pois as coisas que deixam um sinal profundo tomam
sempre a vereda da lentidão. A parábola do joio revela a hipocrisia descarada
em que vivemos: com o propósito de arrancar o mal procuramos nos desembaraçar do
que nos molesta, nos causa fastio e ameaça as nossas ambições. Se formos
intempestivos, poderemos arrancar o trigo. Não existe nenhum campo que seja
somente de grão bom. Quando julgamos os outros sem considerar o joio que habita
em nossos corações, transformamo-nos em sinal de discórdia. O Papa Francisco
disse: “O hipócrita é capaz de matar uma comunidade. Fala com docilidade, mas
julga brutalmente as pessoas. O hipócrita é um assassino e começa sempre com a
adulação. A linguagem da hipocrisia é a linguagem do engano; é a mesma
linguagem da serpente com Eva. No final, utiliza a mesma linguagem do diabo
para destruir as comunidades” (Homilia de Santa Marta, 06.06.2017). Temos que
nos precaver do farisaísmo cristão fruto do fanatismo em criar igrejas
perfeitas, puras, mas separadas umas das outras. Os verdadeiros malvados são os
que, em vez de se empenhar no humilde esforço da prática do Evangelho (Mt 7,
21-23) arrogam-se a tarefa que é da competência de Deus. São os campeões de uma
fé arrogante, presunçosa, e estão sempre prontos para suspeitar uns dos outros.
Deus deseja nos ouvir em oração, mas não suporta ouvir nossos desejos
minúsculos, insuficientes, mesquinhos e deformados. O Papa Francisco colocou na
porta de seu quarto uma tabuleta com o escrito: “Proibido lamentar-se”, para
que não sejamos possuídos pela síndrome do “vitimismo” que nos diminui o humor
e a capacidade para enfrentar os desafios. Deus não deseja o que nós desejamos.
O Espírito sempre vem em nosso socorro para suprir a debilidade das nossas
preces. No mais fundo dos nossos corações, está o Espírito e Deus sabe qual é o
desejo do Espírito. Fraudamos Deus não pelo que fazemos por Ele, mas,
sobretudo, porque não O permitimos fazer maravilhas conosco.
CONTEMPLAR
Sem Título, s.d.,
Barcelona, Martin Molinero (1975-), Buenos Aires, Argentina.
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