Muitos pensam de modo
diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos
modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que
temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens
e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)
Não temos um só Pai? Não nos
criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)
Solenidade
de Pentecostes 04.06.2017
At 2,
1-11 1 Cor 12, 3-7.12-13 Jo 20, 19-23
ESCUTAR
Todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os
discípulos falar em sua própria língua (At 2, 6).
A cada um é dada a manifestação do Espírito em
vista do bem comum (1 Cor 12, 7).
E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e
disse: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 22).
MEDITAR
Um
dia que Deus estava a dormir
E
o Espírito Santo andava a voar,
Ele
foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com
o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com
o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com
o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz...
Depois
fugiu para o sol
E
desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje
vive na minha aldeia comigo.
É
uma criança bonita de riso e natural.
Limpa
o nariz ao braço direito,
Chapinha
nas poças de água,
Colhe
as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira
pedras aos burros,
Rouba
a fruta dos pomares
E
foge a chorar e a gritar dos cães.
E,
porque sabe que elas não gostam
E
que toda a gente acha graça,
Corre
atrás das raparigas
Que
vão em ranchos pelas estradas
Com
as bilhas às cabeças
E
levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo...
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
(Alberto Caieiro, O guardador de rebanhos).
ORAR
Sempre
tentamos administrar o Espírito: dividi-Lo em doses e regulamentá-Lo. Temos a
ilusão de que podemos usá-Lo para garantir a ordem e avalizar nossas decisões
como se fosse o árbitro nos jogos cujas regras foram por nós fixadas. Temos
medo de nos deixar habitar pelo vento e pelo fogo. A nova criação nasce de um
colossal incêndio, pois o Espírito vem e acende uma paixão. O Espírito de Deus
brinca, se diverte e incita nossos versos e vidas a correr entre as línguas de
fogo. A vida no Espírito, como fogo e o vento, é incontrolável, imprevisível e
não pode ser programada jamais. Os homens e as mulheres de Pentecostes
surpreendem não porque são comedidos e discretos, mas porque parecem
excessivos, irregulares e loucos. Os discípulos são arremessados para fora de
casa pelo vento intempestivo. A blasfêmia imperdoável contra o Espírito é
ignorar a sua força, manter-se afastado dela e ter medo de ser queimado pelo
fogo. É pretender que Ele se reduza a uma mera e sutil fissura nas paredes ao
invés de portas e janelas abertas. É falar da coragem cristã sem ter tentado
oferecer ao menos a metade do espaço que concedemos ao medo. É falar de
Pentecostes sem ter experimentado a sua embriaguez. O Espírito é um refazer
constante e um renascimento. Pentecostes nos conduz a uma nova geografia
amorosa do mundo. Todos os símbolos do Espírito são elementos em movimento, mas
um movimento para os outros. Ao sermos habitados pelo Espírito, o coração se dilata
e se banha de amor divino. O Espirito é um fogo cuja vinda é palavra e cujo
silêncio é luz (Efrem da Síria). Somente o silêncio fala todas as línguas e a
linguagem do Espírito é o silêncio oferecido ao Verbo. O Espírito que faz bater
o coração de Deus é também o sopro que faz bater o coração do Homem.
CONTEMPLAR