O
Caminho da Beleza 53
Leituras
para a travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele
que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do
belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que
cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as
devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia”
(D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Jesus Cristo Rei do Universo 23.11.2014
Ez 34, 11-12. 15-17 1 Cor 15, 20-26.28 Mt 25, 31-46
ESCUTAR
“Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a
extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente e vigiar a ovelha
gorda e forte” (Ez 34, 16).
“É preciso que ele reine até que todos os seus
inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a
morte” (1 Cor 15, 25-26).
“Em verdade eu vos digo que todas as vezes que
fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt
25, 40).
MEDITAR
“O Cristo vai aonde não temos coragem de
ir. No momento em que o procuramos no templo, ele se acha no estábulo; quando o
buscamos entre os padres, ele está entre os pecadores; no instante em que o
solicitamos em liberdade, está detido; quando o procuramos ornado de glória,
ele está coberto de sangue sobre a cruz” (Cartas na prisão de um cristão
anônimo).
“Dificilmente se pode gozar da experiência
do amor a Deus se se desconhece o amor humano. Dificilmente se pode perseverar
no amor humano se não se descobre nele uma alma divina, por assim dizê-lo. O
verdadeiro amor é algo mais do que uma projeção voluntarista ou um mero
sentimentalismo... Deus não habita só nos montes do nada; também tem sua morada
nos “vales frondosos” dos seres humanos. É o mesmo amor humano em que reside a
Divindade. Um amor divino que não se encarne no amor ao próximo, para citar a
frase evangélica, é pura mentira (1 Jo 4, 20)” (Raimon Panikkar).
ORAR
Neste domingo se encerra o ano litúrgico de 2014 e a
Igreja nos faz refletir sobre o julgamento derradeiro. O título de Rei aflora nas extremidades da
vida de Jesus. No seu nascimento, quando os magos perguntam: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido”
(Mt 2, 2); e na sua Paixão quando, antes de lavar as mãos, Pilatos indaga: “És tu o rei dos judeus”(Mt 27, 11).
Jesus tolera este título apenas nestes dois momentos. Ao longo de sua vida
pública, Ele o recusa explicitamente. Ao invés da analogia do Rei, Ele prefere
a do Pastor. O risco do pastor ao defender as suas ovelhas com a própria vida
exprime melhor a sua relação com os que foram entregues a Ele pelo Pai. Existe uma oposição entre o Pastor e o Rei. O pastor dá a sua vida pelo
rebanho e o rei é defendido pelos seus súditos até a morte; o pastor chama cada
ovelha pelo seu nome e os súditos do rei são anônimos; a voz basta para o
pastor reunir, em torno dele, as suas ovelhas e o rei deve usar da coerção para
manter a coesão do seu reino. Santo Agostinho é enfático: “O Cristo não é Rei enquanto exigiria tributos
e conduzisse exércitos para vencer os inimigos pela guerra. Não! Mas Ele é Rei
– segundo a etimologia possível da palavra latina Rex, derivada do verbo
‘regere’: ‘conduzir’ – enquanto Ele conduz para o Reino aqueles
que creem, esperam e amam”. O
evangelho desvela que o julgamento não é para amanhã, mas ele acontece a
todo instante. E seremos
julgados pelo que não fizemos
por causa da cegueira do coração:
“Senhor, quando foi que te vimos....”.
Nossos olhos estão doentes e são incapazes de descobrir em todas as pessoas a
imagem única do Cristo porque estão emparedados, voltados para dentro de nós,
para a pessoinha que pensamos ser. O evangelho revela que cada pessoa humana é um ícone vivo na qual podemos reconhecer
o Cristo Ressuscitado, pois Ele quer se apresentar ao mundo como Alguém a quem alimentamos, damos
de beber, acolhemos, vestimos, visitamos na prisão, nos hospícios e nos
hospitais. Ele, como um mendigo, bate à nossa porta e nos pede sempre, com a
mão estendida, alguma coisa, pois no seu esvaziamento Ele quer ser nosso devedor. Somos nós que seremos entregues ao Pai porque fomos constituídos Reino de Deus desde o momento em
que nos foi revelado que este reino estava dentro de nós (Lc 17, 21). É preciso ruminar o salmo: “É teu rosto, Senhor, que eu procuro” (Sl
26, 8). Não podemos procurar o rosto do Senhor fechando os olhos e nos
abstraindo do mundo. Quando o Espírito abre os olhos do coração nós vemos o Pai
no rosto de Jesus e Jesus no rosto de cada um de nossos irmãos e irmãs, pois
todo aquele que vê, pelo coração, o rosto de seu irmão vê o rosto de Deus. Nos que são considerados insignificantes, supérfluos e descartáveis habita o Reino de Deus e são eles a realeza que será entregue ao Pai pelo
Cristo Jesus depois de “destruir toda
autoridade e poder”. A
eles caberão as palavras de ternura e reconhecimento: “Vinde, benditos de meu Pai!”, pois nada pediram que nos custasse,
somente pão, teto, algumas palavras de consolo e
pequenos gestos de compaixão.
CONTEMPLAR
Compaixão do Pai
(detalhe), início do séc XVII, grupo da terra cota, h: 89 cm , Museu Nacional
da Renascença, Écouen, Paris, França.
Nenhum comentário:
Postar um comentário