O
Caminho da Beleza 51
Leituras
para a travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele
que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do
belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que
cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as
devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia”
(D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Dedicação
da Basílica de Latrão 09.11.2014
Ez 47,
1-2.8-9.12 1 Cor 3,
9-11.16-17 Jo 2,
13-22
ESCUTAR
“Suas
folhas não murcharão e seus frutos jamais se acabarão: cada mês darão novos
frutos, pois as águas que banham as árvores saem do santuário” (Ez 47, 12).
“Vós
sois lavoura de Deus, construção de Deus” (1 Cor 3, 9).
“Não
façais da casa de meu Pai uma casa de comércio” (Jo 2, 16).
MEDITAR
“Por
que... nos acostumamos a ver como se destrói o trabalho digno, se despeja a
tantas famílias, se expulsa os camponeses, se faz a guerra e se abusa da
natureza? Porque neste sistema se retirou o homem, a pessoa humana, do centro,
substituindo-o por outra coisa. Porque se rende um culto idolátrico ao
dinheiro. Porque se globalizou a indiferença” (Francisco, servo dos servos de
Deus).
“Uma má
religião torna-nos insensíveis, incapazes de vida corporal. O culto do
verdadeiro Deus faz-nos corporalmente vivos, apalpando, saboreando, cheirando,
vendo e ouvindo. A realização plena de nosso ser, dom de Deus, significa
aspirar à vitalidade em todos os nossos sentidos” (Timothy Radcliffe).
ORAR
A Basílica de Latrão, catedral da Igreja
de Roma, é considerada a mãe de todas as igrejas. O palácio de Latrão,
propriedade da família imperial, tornou-se, no século IV, a habitação
particular do Papa. Constantino doou ao papa Melquiades (310-314) o palácio
onde se encontrava a “Casa de Fausta”, a residência da mulher do
Imperador na qual o Papa celebrou um Concílio. Foi a sede oficial do bispo de
Roma do século IV ao XIV e por isso representa o ideal institucional da Igreja
Romana que, saída da fase de perseguição e de martírio, fez sua entrada
triunfal na sociedade imperial romana. Durante séculos, ela foi o emblema da
liturgia pontifical que moldou o estilo de celebração de todas as igrejas do
Ocidente. O evangelho mostra Jesus enxotando os mercadores do Templo porque
enganam os mais simples para acumular dinheiro e bens. Uma Igreja oficializada
por um imperador, na Casa de Fausta, só poderia ter no seu DNA o germe e a voracidade de tudo o que é fausto e ostensivo. A
Mensagem do Sínodo da Palavra, porém, não deixa dúvidas: “O cristão tem, pois, a missão de anunciar
esta Palavra divina de esperança, compartindo-a com os pobres e os que sofrem,
mediante o testemunho de sua fé no Reino de verdade e vida, de santidade e
graça, de justiça, de amor e paz, mediante a aproximação amorosa que não julga
nem condena, mas que sustenta, ilumina, conforta e perdoa, seguindo as palavras
de Cristo: ‘Venham a mim, todos os que estão cansados e agoniados e eu lhes
darei descanso” (Mt 11, 28). Jesus nos revela que o novo templo é o seu
Corpo Ressuscitado, pois, com sua morte e ressurreição, destruiu todo o limite
local e geográfico para a sua presença espiritual. Paulo clama em Atenas: “Deus não habita em templos feitos pelas mãos
dos homens” (At 17, 24). Devemos estar atentos ao calor que conferimos
aos templos, aos ritos e aos objetos sacros. Não podemos idolatrá-los e nem
lhes conferir um valor mágico, pois o cristianismo é uma prática que brota do
nosso encontro pessoal com Jesus, com a nossa consciência e com o Espírito que
nos ilumina e conduz. Nossos templos não podem se tornar fetiches e nem marcos
idolátricos para os cultos burocráticos em que os altos funcionários
eclesiásticos oferecem os lugares de honra para os mais ricos e poderosos da
sociedade. Nossos pastores parecem
desdenhar do veredicto de Jesus: “Eu
vos asseguro: um rico dificilmente entrará no reino de Deus. Eu vos repito: é
mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no
reino de Deus” (Mt 19, 24). O Papa João Paulo II reiterava na sua
primeira Encíclica: “A missão da Igreja
é a mesma de Cristo” (RH 7, 12, 18) e nesta Igreja de Jesus “suas mãos tocam repetidamente corpos enfermos
ou infectados, suas palavras proclamam a justiça, infundem valor aos infelizes
e concedem perdão aos pecadores” (Mensagem final do Sínodo da Palavra).
É chegado o momento em que a Casa de Fausta deve ser abandonada como o
símbolo de uma época histórica em que Igreja e Império celebraram um casamento
espúrio e perverso. É chegada a hora em que a Igreja de Jesus deve estar
próxima dos mais necessitados, praticando-se como uma Igreja pobre entre os pobres.
Tendo, com Ele, o “mesmo sentir e
pensar” e oferecendo o testemunho da sua identidade com Cristo Jesus que
“despojou-se, assumindo a forma de
escravo e tornando-se igual ao ser humano e aparecendo como qualquer homem,
humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz! (Fl 2,
7-8). É chegado o momento, e já quase passou, de cumprir o que proclamou o Papa
João XXIII na abertura do Vaticano II: “Está na hora de abrir as janelas para
limpar a poeira de Constantino grudada na cadeira de Pedro”.
CONTEMPLAR
Expulsão dos Mercadores do Templo, 1824, Alexander Ivanov (1806-1858),
esboço, Rússia.
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