O
Caminho da Beleza 47
Leituras
para a travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele
que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do
belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que
cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as
devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia”
(D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Nossa Senhora Aparecida 12.10.2014
Est 5,
1b-2; 7, 2b-3 Ap 12,
1-5 Jo 2, 1-11
ESCUTAR
“Concede-me a vida, eis o meu pedido, e a vida do
meu povo, eis o meu desejo!” (Est 7, 3).
“Apareceu no céu um grande sinal” (Ap 12, 1).
“Eles não têm mais vinho” (Jo 2, 3).
MEDITAR
“A mesa em comum com o
hóspede é o espaço em que o alimento é compartilhado, e o comer se torna
‘convívio’, ocasião de comunhão vital: é à mesa, à mesa compartilhada, que o
ser humano tem a oportunidade, todas as vezes renovada, de se libertar do seu
ser ‘devorador’ – do alimento e do outro – e de se tornar mais uma vez, a cada
dia, uma pessoa de comunhão” (Enzo Bianchi).
“Soou a hora da história do
mundo em que o amor do irmão homem, como problema e como realidade, une os
cristãos e os não-cristãos. Eis porque também chegou a hora em que é necessário
ver que o amor cristão, naquilo que tem de mais íntimo, ultrapassa o
cristianismo: ultrapassa, derramando-se na extensão total do mundo. Mais do que
isto, é necessário compreender que este movimento de superação constitui a
essência do cristianismo” (Hans Urs von Balthasar).
ORAR
O tema das Bodas é marcante em toda a nossa tradição
judaico-cristã. Ele realça a dimensão amorosa e terna da Aliança do Senhor com
a abundância proclamada pelo profeta Joel: “Acontecerá naquele dia que as serras estarão suando vinho novo, os morros
escorrendo leite (Jl 4, 18). O evangelista revela que todo rito
legalista é estéril. A água só se converte em vinho depois de retirada das
talhas, pois antes era apenas uma água que lavava o exterior das pessoas que
cumpriam a norma rígida da Lei. Jesus nos faz saber que não podemos jamais nos
fechar num ritualismo legalista que endurece os corações e entristece os
espíritos. Agora a água, transformada em vinho, é oferecida aos
borbotões para todos na festa nupcial. Este
vinho representa o cumprimento da promessa de abundância: “Vinde comer meus
manjares e beber o vinho que misturei” (Pr 9, 4-5) e “Vinde a mim vós que me
amais, e saciai-vos de meus frutos; recordar-me é mais doce do que o mel,
possuir-me é melhor que os favos” (Eclo 24, 20-21). O vinho
é a alegria do homem reconciliado consigo mesmo, com seu próximo e com seu
Deus. A festa de Caná é o momento de um novo parto tanto para Jesus como para
Maria que auxilia o rito de passagem de seu Filho que sai do silêncio para o
início da vida pública. Confiante que o Filho, embriagado pelo Espírito, estava
cumprindo a vontade do Pai, Maria ordena sem hesitar: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Como escreve a psicanalista
Françoise Dolto: “Talvez, tenha sido
nesse momento, nas bodas de Caná, que Maria se tornou a Mãe de Deus!”. A
água convertida em vinho é, simbolicamente, o novo parto em que a Mãe – água e
sangue – gera o Filho para o mundo e para a vida em abundância – pão e vinho –
sendo Ele mesmo a Vinha da qual somos os ramos. A essência deste milagre está na revelação de que Jesus tem
compaixão pela necessidade dos outros e que o amor fraterno é sempre estar
pronto a responder a estas necessidades, sejam quais forem. Com
Maria se antecipa o milagre da fé pascal e se antecipa para nós, seus filhos e
filhas, a mesma fé para que ninguém duvide de que Jesus seja capaz de renascer
e expandir a alegria das Bodas do Cordeiro para toda a humanidade convidada,
agora e sempre, para o Seu banquete nupcial. O gesto de entrega de Jesus será glorificado na Cruz como uma exaltação embriagada de amor e de amar que
foi iniciada em Caná.
CONTEMPLAR
Bodas em Caná, 2014,
Katie Hoffman, óleo sobre tela, 18” x 18”, Denver, Colorado, Estados Unidos.
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