segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O Caminho da Beleza 46 - XXVII Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 46
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



XXVII Domingo do Tempo Comum                       05.10.2014
Is 5, 1-7                    Fl 4, 6-9                   Mt 21, 33-43


ESCUTAR

“Vou cantar para o meu amado o cântico da vinha de um amigo meu” (Is 5, 1-7).

“E a paz de Deus, que ultrapassa todo o entendimento, guardará os vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus” (Fl 4, 7).

“Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber os seus frutos” (Mt 21, 34).


MEDITAR

“O verdadeiro problema da Igreja é continuar com uma resignação e um tédio cada vez maior pelos caminhos habituais de uma mediocridade espiritual” (Karl Rahner).

“Senhor, faze que eu tenha fome e sede de justiça. Faze que eu não seja apegado às pequenas coisas que me tranquilizam, a um status quo pelo qual me sinto protegido... Que eu não perca nunca a esperança; que eu saiba contestar, em nome desta esperança em Ti e no homem, todo imobilismo, toda conservação que nega a ação incessante do teu Espírito!” (Ettore Masina).


ORAR

Somos chamados a sermos juízes do amante traído pela vinha amada. O amado cuidou com toda dedicação da sua vinha, mas ela produziu uvas selvagens. O amante esperava frutos bons para que os outros pudessem deles usufruir; o seu amor e dedicação deveriam ser devolvidos em favor dos outros. A canção de amor se converte numa denúncia áspera e cheia de questionamento: “O que poderia eu ter feito a mais por minha vinha e não fiz?”. Somos nós a vinha do Senhor que produzimos uvas selvagens da injustiça, do desamor e da mentira. Apesar de tudo, o Senhor continua tentando nos atrair com canções de amor. A lição do profeta cabe como uma luva para as igrejas que reclamam privilégios, outorgam a si direitos, celebram triunfos passados, mas não produzem frutos de amor. Jesus não pede nada de excepcional, apenas sugere, por meio do Espírito, o possível que devemos produzir e o impossível que devemos esperar do Pai. A Igreja de Jesus foi construída sobre uma pedra desprezada e, até hoje, ela se sustenta sobre a pedra rejeitada e sobre tantas pessoas desprezadas. Paulo nos evoca a produzir frutos verdadeiros, respeitáveis, justos, puros, amáveis, honrados e dignos de louvor. São frutos que podem ser encontrados em outras vinhas que sempre são vinhas do Senhor ainda que não tenham a placa oficial pendurada na porta de entrada. A parábola nos exorta a que não criemos falsas ilusões ao reivindicar um direito de propriedade sobre a salvação e a verdade. Jesus não diz que a vinha será entregue às igrejas ou a uma nova instituição, mas “a um povo que produzirá frutos”. O Reino de Deus está no povo que produz frutos de justiça, de compaixão e que defende os sem direito e os sem voz. “Povo de Deus é o que pratica a justiça em qualquer situação, tempo ou lugar” (Lumen Gentium 9). A maior tragédia que pode suceder ao cristianismo é calar a voz dos profetas, que os sacerdotes se intitulem donos da vinha do Senhor e que o Cristo seja posto de lado por sufocarmos o seu Espírito. Não podemos jamais esquecer que se a Igreja não responder às esperanças que pôs nela o Senhor, Ele abrirá novos caminhos de salvação em povos que produzem frutos.


CONTEMPLAR


A Vinha Encarnada, 1888, Vincent van Gogh (1853-1890), óleo sobre tela, 75 cm x 93 cm, Museu Pushkin, Moscou, Rússia.




terça-feira, 23 de setembro de 2014

O Caminho da Beleza 45 - XXVI Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 45
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



XXVI Domingo do Tempo Comum             28.09.2014
Ez 18, 25-28                      Fl 2, 1-5                   Mt 21, 28-32


ESCUTAR

“Ouvi, vós da casa de Israel: é a minha conduta que não é correta ou, antes, é a vossa conduta que não é correta” (Ez 18, 25).

“Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro” (Fl 2, 3-4).

“Em verdade vos digo que os cobradores e as prostitutas vos precedem no reino de Deus” (Mt 21, 31).


MEDITAR

“Se eu fosse um demônio, para tentar a um grupo religioso sério, pedir-lhe-ia que criasse muitas leis e regras e que logo organizassem sua vida. Os membros desse grupo poderiam pensar que a observância destas leis é o caminho para servir a Deus, mas gradualmente Deus se retiraria. Logo após isto, em nome da busca da verdade, eles propagariam essas leis mediante palavras e ideias... tudo isso em nome de Deus. Pouco a pouco, eles mesmos tomariam o lugar de Deus” (Shigeto Oshida).

“Muitas pessoas esperam ser muito mais santas e perfeitas estando às voltas com grandes coisas e grandes palavras. Buscam e desejam muitas coisas, querendo também as possuir; não obstante olharem tanto para si e para isso e aquilo, e pensarem estar se empenhando atrás do recolhimento interior, não podem acolher uma palavra. Estejais verdadeiramente certos de que essas pessoas estão longe de Deus e fora dessa união” (Mestre Eckhart).


ORAR

O profeta nos faz saber da nossa responsabilidade individual e cada um de nós é responsável pelo momento presente, dono do seu próprio destino e artífice do seu futuro. Se somos o que somos devemos a nós mesmos. Se não somos o que queríamos ter sido não é justo descarregar as culpas nos DNAs familiares. É muito cômodo responsabilizar a sociedade, as estruturas, o ambiente familiar e o sistema. Atualmente as pessoas não se arrependem nem do bem e nem do mal que fazem e continuam sem se perguntar sobre os conteúdos da vida e da direção que caminham. O Evangelho nos mostra dois filhos arrependidos. O primeiro se arrependeu da afirmativa (“...mas não foi”); o segundo, se arrependeu da negativa (“...mas depois se arrependeu e foi”). A Igreja de hoje deve temer mais os consensos superficiais, as aprovações entusiastas, as declarações que nada custam e as aclamações hipócritas. Muita gente diz sempre Sim em qualquer circunstância e em todas as partes. Toda obediência ostensiva é suspeita, pois pode ser um recurso sutil para se esquivar das tarefas mais ingratas. Os aplausos dificilmente abrem para um compromisso concreto e silencioso. Nós, cristãos do século XXI, não inventamos absolutamente nada. Continuamos a viver numa sociedade e em igrejas onde cada um busca o próprio interesse e o próprio êxito; pisando uns sobre os outros para ascender em status e poder. A mensagem da parábola é clara: diante de Deus, o importante não é falar, mas fazer. O decisivo não é prometer ou confessar, mas cumprir a Sua vontade. A tradição rabínica repete: “Os justos dizem pouco e fazem muito; os ímpios dizem muito e não fazem nada”. Os escribas falam constantemente da Lei e o nome de Deus está sempre em seus lábios. Os sacerdotes do Templo louvam a Deus sem descanso e suas bocas estão cheias de salmos. Ninguém duvidaria de que estivessem fazendo a vontade do Pai. Mas as coisas não são sempre como parecem. Os cobradores de impostos e as prostitutas não falam a ninguém de Deus e Jesus tem compaixão para com eles. O Credo que pronunciamos repetitivamente é inócuo se vivemos sem compaixão. Nossos pedidos de paz e justiça são estéreis se nada fazemos para construir uma vida mais digna para todos. Nós, cristãos, construímos magníficos sistemas de pensamento para recolher a doutrina cristã com profundidade. No entanto, a verdadeira vontade do Pai é vingada pelos que traduzem em atos de compaixão o Evangelho de Jesus.


CONTEMPLAR

O Bom Samaritano, 1885, Ferdinand Hodler (1853-1918), óleo sobre tela, Museu de Arte Moderna de Zürich, Suíça.






segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O Caminho da Beleza 44 - XXV Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 44
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



XXV Domingo do Tempo Comum               21.09.2014
Is 55, 6-9                 Fl 1, 20-24.27                    Mt 20, 1-16


ESCUTAR

“Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55, 5-9).

“Só uma coisa importa: vivei à altura do evangelho de Cristo” (Fl 1, 27).

“Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence?” (Mt 20, 15).


MEDITAR

“Deus meu, foi te buscando
Que alguém te encontrou,
Eu, ao contrário, te encontrei fugindo de ti.
Foi mediante a busca que alguém te achou,
Eu descobri que eras Tu quem outorga a busca.
Tu mesmo eras o caminho que permite chegar até Ti.
Tu eras o princípio e serás o final.
Tu eras tudo e isso me basta.
Tudo mais é loucura”.
(Abdolah Ansari)

“Rabi Baruch procura um meio de explicar que Deus é um companheiro de exílio, um solitário abandonado, um estranho não reconhecido entre os homens. Um dia, seu neto brincava de esconde-esconde com outro pequeno garoto. Ele se esconde, mas o outro desiste de procurar e se vai. A criança vai até seu avô em lágrimas. Então, com os olhos também cheios de lágrimas, Rabi Baruch se lamenta: ‘Deus diz a mesma coisa: Eu me escondo, mas ninguém vem me procurar’” (Martin Buber).


ORAR

     “Ide para a minha vinha”, diz o Senhor e tudo se joga num instante, numa ocasião que não se pode deixar passar. Se não abrirmos os olhos, nos colocarmos de pé e não respondermos ao chamado, faltaremos ao encontro decisivo da nossa vida. Este é o momento favorável e o dia da salvação (2 Cor 6, 2) e não haverá outros mais favoráveis. Não podemos pedir “um tempo” para considerar a oferta, para avaliar o convite e responder numa próxima vez. O Senhor nos quer encontrar hoje, pois qualquer hora é hora para Ele desde que seja a hora do nosso Sim. Os caminhos do Senhor e seus pensamentos podem não coincidir, rigorosamente, com os nossos. Ao encontrarmos o Senhor a entrega há de ser inteira e despojada. Para encontrá-Lo, devemos, primeiro, renunciar aos nossos pensamentos sobre Ele. A deformação da imagem de Deus é o perigo que correm as pessoas religiosas. Quanto mais o Senhor se revela tanto mais se faz misterioso e sempre sua revelação nos desconcerta e nos escandaliza. O chamado à vinha é graça e o prêmio é dom, pois a alegria do Senhor é dar sem medida. Deus nos fala da gratuidade e nós respondemos a Ele, falando da “justiça” com suas clausulas, códigos e regras. A generosidade de Deus sempre cria problemas e, muitas vezes, se torna um obstáculo para a fé e um perigo para a moral daqueles que rechaçam os que consideram indignos e pecadores. A parábola não se dirige aos pecadores, mas aos bons e justos que devem se questionar sobre suas reações diante dos comportamentos surpreendentes e escandalosos de Deus. Não é fácil acreditar nesta bondade insondável de Deus que nos fala Jesus. Podemos nos escandalizar que Deus seja bom para com todos, mereçam ou não; sejam crentes ou agnósticos; invoquem seu nome ou vivam de costas para Ele. Deus é assim e o melhor que podemos e devemos fazer é deixar que Ele seja o que é, sem apequená-Lo com nossas ideias, esquemas e frustrações.


CONTEMPLAR

À Meia-Noite, 2005, Michael Triegel (1968-), técnica mista sobre MDF, 80 cm x 126,5 cm, coleção particular, Fundação São Mateus, Berlim, Alemanha.





segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O Caminho da Beleza 43 - Exaltação da Santa Cruz

O Caminho da Beleza 43
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



Exaltação da Santa Cruz                     14.09.2014
Nm 21, 4-9              Fl 2, 6-11                 Jo 3, 13-17


ESCUTAR

“Por que nos fizestes sair do Egito para morrermos no deserto? Não há pão, falta água e já estamos com nojo desse alimento miserável” (Nm 21, 5).

“Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação” (Fl 2, 6).

“Deus não enviou o Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3, 17).


MEDITAR

O Deus meu e de todos,
Que tenho feito até hoje no mundo,
Senão te invocar para que surjas,
Senão me desesperar porque sou pó?
Dilata minha visão,
Dilata poderosamente minha alma,
Faze-me referir todas as coisas ao teu centro,
Faze-me apreciar formas vis e desprezíveis,
Faze-me amar o que não amo.
(Murilo Mendes)

Esse é justamente o tema maravilhoso da Bíblia que assusta a tantos: que o único sinal visível de Deus no mundo seja a cruz. Cristo não é arrebatado gloriosamente da terra para o céu, seu destino é a cruz. E precisamente lá onde está a cruz está próxima a ressurreição. Onde todos ficam desconsertados diante de Deus, onde todos se desesperam com Deus, é exatamente lá que Deus está bem perto e Cristo está vivamente presente (Dietrich Bonhoeffer).


ORAR

No mito africano-egípcio da origem da Vida, a serpente Atum será apresentada como o primeiro Deus que emergindo das águas primordiais cuspia outros deuses e toda a criação. Para os egípcios, no meio dos quais Moisés foi criado, a serpente representava a conservação da vida, a vida salvaguardada e reencontrada. A serpente colocada num lenho e levantada por Moisés era feita de uma liga trinitária de estanho, cobre e zinco e brilhava intensamente refletindo a luz do sol. É uma serpente dos ares e de luz e, segundo os mitos primevos africanos, carrega o vento e fogo e, por isso, neutraliza a doença e a morte. No Evangelho de João, a imagem reaparece com outra densidade simbólica: a de um Jesus Serpente que cura e regenera e que sintetiza toda a humanidade levantada e libertada. Levantado na Cruz, expira sobre o mundo todo o seu sopro de vida e o seu corpo é como o bronze brilhante – símbolo solar que reflete a luz divina do alto. De Jesus, levantado e ungido pelo sol, procede a vida e sua luz coloca às claras a bondade e a maldade do proceder de cada um de nós. O Filho da Luz irradia uma verdade que desarma todas as víboras da conspiração e da hipocrisia que nos espreitam. O Homem Levantado, este Jesus Serpente, é destinado a ser visto como presença salvadora do Pai e ponto de convergência do encontro divino/humano, de onde flui a Vida em abundância. No prólogo de João, a luz brilhava no meio das trevas e chegava até o mundo iluminando todo homem (Jo 1, 9). Antes, podíamos aceitar ou não a luz; agora podemos ou não praticar o amor, pois o Corpo Crucificado de Jesus ainda continua sofrendo nos corpos fustigados dos nossos irmãos e irmãs. O Cristo espera de nós que sejamos capazes de sujar de vida os olhos claros de morte que nos rodeiam e espreitam para que, ao expirarmos nosso sopro de vida, consumemos as obras de amor e justiça que conseguimos.


CONTEMPLAR


Pietá, El Greco, c. 1592, óleo sobre tela, 120 cm x 145 cm, Starvos Niarchos Collection, Paris, França.



segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O Caminho da Beleza 42 - XXIII Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 42
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



XXIII Domingo do Tempo Comum                        07.09.2014
Ez 33, 7-9                Rm 13, 8-10                       Mt 18, 15-20


ESCUTAR

“Quanto a ti, filho do homem, eu te estabeleci como vigia para a casa de Israel. Logo que ouvires alguma palavra da minha boca, tu os deve advertir em meu nome” (Ez 33, 7).

“Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a lei” (Rm 13, 8).

“Pois, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles” (Mt 18, 20).


MEDITAR

“Para o voo ser inteiro é preciso ter duas asas: a verdade e a sua transparência” (Guilherme Zamoner).

“Nossa experiência de Deus é como o ato de nadar num eterno oceano de amor ou interagir com a presença despercebida do ar: inspiramos amor e expiramos amor. Essa experiência é onipresente, onisciente e onipotente. Jamais se esgota, sempre se expande. Quando procuro descrever essa realidade, as palavras me falham, então simplesmente digo o nome Deus” (John Shelby Spong).


ORAR

“Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo”. As dívidas mais importantes e vitais que temos são dívidas de amor. Sempre estaremos em débito, porque ao pagar as dívidas do presente as do futuro surgirão. O cristão sempre ficará, por amor, a dever alguma coisa para alguém. O amor é um crédito que os outros exibem diante de nós sempre e em todas as partes. Quando servimos os pobres não fazemos mais do que pagar nossas dívidas de amor. O profeta nos apela a sermos sempre sentinelas do amor. Não vigias da disciplina e da intolerância e nem vigias que não dormem para acusar os inimigos, mas se tornam sonolentos quando se trata de defender a prática do amor. O cristão age em comunidade sob o signo da corresponsabilidade. Cada um é sentinela do seu irmão para resgatar a prepotência assassina de Caim: “Sou eu o guarda do meu irmão? Quem não ama é assassino e as vozes do sangue dos não-amados clamarão aos céus”(Gn 4, 10). Ser sentinela não significa comportar-se como espião ou polícia do outro, pois antes de criticar o próximo é necessário demonstrar nosso cuidado, nossa atenção, e fazê-lo acreditar que é amado, apesar de tudo. O amor, a paciência, a misericórdia e o respeito são a luz indispensável para a correção fraterna dos nossos irmãos. Mais do que discipliná-lo é preciso chamá-lo a deixar-se amar. A correção fraterna exige o abandono de qualquer superioridade, pois todos partilhamos da mesma fragilidade e miséria. Nunca dizer: “Olha o que você fez!”, mas “Veja o que somos capazes de fazer”. E para aquele que se auto-exclui da comunidade devemos ainda mais amor. Na Igreja de Jesus não podemos estar por inércia nem por costume ou medo. Devemos estar reunidos em seu nome e alimentando-nos do seu Evangelho. Reunir-se em nome de Jesus é criar um espaço para viver a existência em torno Dele e do Seu horizonte. Um espaço definido não pelos limites das doutrinas, dos costumes e práticas, mas pelos horizontes de amor. O cristão não conhece limites, mas horizontes. Devemos ser uma luz no meio de uma Igreja debilitada pela rotina e paralisada pelos medos. A renovação da Igreja começa sempre no coração de dois ou três crentes que se unem em nome de Jesus: a presença de Deus está onde existe a presença fraterna. Meditemos em nosso coração o livro dos Provérbios: “O homem cercado de muitos amigos tem neles sua desgraça, mas existe um amigo mais unido que um irmão” (Pr 18, 24).


CONTEMPLAR

Acolhida (detalhe), Eduardo Spiller, 1983, foto, Curitiba, Brasil.