O Caminho da Beleza 30
Leituras para a
travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente
diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo
tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma
beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
Santíssima Trindade 15.06.2014
Ex 34, 4-6-6.8-9 2 Cor 13, 11-13 Jo 3, 16-18
ESCUTAR
“Moisés
gritou: ‘Senhor, Senhor! Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em
bondade e fiel’” (Ex 34, 6).
“Irmãos,
alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, cultivai a
concórdia, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco” (2 Cor 13,
11).
“Deus
amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que
nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
MEDITAR
“A
Trindade e a Cruz são os dois polos do cristianismo, as duas verdades
essenciais: uma, a alegria perfeita e a outra a perfeita infelicidade. O
conhecimento de uma e de outra e da sua misteriosa unidade é indispensável”
(Simone Weil)
“Quem não consegue mais ouvir o irmão, em
breve também não conseguirá mais ouvir a Deus. Estará sempre falando, também,
perante Deus. Aqui começa a morte da vida espiritual, e no fim restará só o
palavreado piedoso, a condescendência clericalesca que sufoca com palavras
piedosas” (Dietrich Bonhoeffer).
ORAR
A Trindade revela o dinamismo vital que faz a
comunidade eclesial viver. A comunidade deve ser o lugar de visibilidade em que
não temos medo da verdade seja qual for e onde cada um reconhece o direito de
expressar livremente o seu pensamento e o de fazê-lo com coragem. Uma
comunidade em que as murmurações e as dissimulações correm soltas pelos becos e
bares elas só poderão ser superadas por uma reciprocidade respeitosa e lúcida.
A comunidade cristã não se basta a si mesma, mas deve buscar a comunhão: “Tende
os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2,5). A comunidade sem comunhão é
uma esquálida referência e uma casca vazia de conteúdo. A comunidade eclesial
não é uma simples justaposição de pessoas que temem acolher-se, reciprocamente,
na verdade: “Alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos,
cultivai a concórdia e vivei em paz”. A comunidade não é uma uniformidade
niveladora, quase sempre pela rasura, mas a comunhão de pessoas plurais e
diversas. O primado da comunidade não é a disciplina, mas o amor. A dinâmica
vital da comunidade é a fraternidade que se converte no sinal do amor do Pai,
revelado pelo Filho e infundido em nossos corações no Espírito. Ela testemunha
e proclama o nome de Deus como revelado a Moisés: “Misericordioso e clemente, paciente,
rico em bondade e fiel”. Se a comunidade cristã não reflete o amor trinitário
desaparece o sinal específico do amor e ela se reduz a um espelho que não
reflete nenhuma imagem. Quando afirmamos o primado do amor na comunidade
valorizamos a centralidade da pessoa e o valor supremo é a valorização das
diferenças. O amor é dinâmico: se expande e circula. Somos tentados a forjar um
Deus à nossa imagem e conceituá-lo como o contrário do homem e, por esta razão,
nos contentamos com a acomodação de encerrar Deus num puro ato de contemplação e
numa suposta e feliz autossuficiência. A Boa Nova da revelação da Trindade é
que existem diferenças entre si e, portanto, a vida divina não se define como
um eterno retorno narcisista sobre si, pelo êxtase. Cada pessoa só existe em
relação às outras pessoas e é esta relação que as constitui como diferentes. É
uma dança amorosa que jamais termina, pois nela a comunhão brota da
interdependência e da intercomunicação. Meditemos as palavras de Emmanuel
Mounier: “Eu preciso do olhar dos meus amigos para saber quem eu sou”.
CONTEMPLAR
Abrão e
os três anjos, Marc Chagall, 1966, óleo sobre tela, 190 cm x
292 cm, Musée National Message Biblique Marc Chagall, Nice, França.
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