O Caminho da
Beleza 19
Leituras
para a travessia da vida
“O conceito
de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento,
amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a
verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia
tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima
alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe
cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
IV Domingo da Quaresma
30.03.2014
1 Sm 16, 1.6-7.10-13 Ef 5, 8-14 Jo 9, 1-41
ESCUTAR
“Não
olhes para a sua aparência nem para a sua grande estatura, porque eu o
rejeitei. Não julgo segundo os critérios do homem: o homem vê as aparências,
mas o Senhor olha o coração” (1 Sm 16, 7).
“O que
esta gente faz em segredo, tem vergonha até de dizê-lo. Mas tudo que é
condenável torna-se manifesto pela luz; e tudo o que é manifesto é luz” (Ef 5,
12-13).
“Eu
vim a este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não veem vejam
e os que veem se tornem cegos. Alguns fariseus, que estavam com ele, ouviram
isso e lhe disseram: ‘Porventura também nós somos cegos?’. Respondeu-lhes Jesus:
‘Se fôsseis cegos, não teríeis culpa; mas, como dizeis ‘nós vemos’, o vosso
pecado permanece’”(Jo 9, 39-41).
MEDITAR
“Ele
veio a este mundo para o julgamento, para que os cegos vejam e os que veem
fiquem cegos. Os que se reconhecem nas trevas do erro, recebam a luz eterna que
os libertará da obscuridade de suas faltas. E os arrogantes que pretendem
possuir em si mesmos a luz da justiça, fossem mergulhados com razão, nas suas
próprias trevas: inchados com seu orgulho e seguros de sua justiça, não
procurarem médico para os curar. Teriam acesso ao Pai por Jesus que se declarou
a porta, mas insolentes se orgulharam de seus méritos e permaneceram na sua
cegueira”(Prefácio da Liturgia Moçarábica).
“É o
amor das riquezas que causa a cegueira, a loucura dos homens e a sua
perversidade” (Théognis de Mégare).
“O
pior cego é o que quer ver” (João Guimarães Rosa).
ORAR
A
unção de Davi se passa em Belém, o lugar onde mil anos mais tarde nascerá
Jesus, um lugar insignificante entre os clãs de Judá. Davi, pastor, era o mais
jovem dos filhos de Jessé. Foi o escolhido pelo Senhor, mesmo não sendo o
primogênito conforme a lei. Toda eleição divina é sempre desconcertante, pois a
sua dileção recai sobre os humildes e os pequenos. O Evangelho narra o episódio
da cura do cego na maior festa judaica, a festa das Tendas, impregnada de uma
espera impaciente e fervorosa do Messias. Os filhos das trevas não abrem
nenhuma exceção, mas fazem todas as concessões uma vez que se consideram seus
próprios salvadores. No entanto, o Cristo exige exceções para que possamos amar
os outros. Jesus abre uma exceção na regra intransigente do sábado para curar o
cego. Não concede uma polegada aos defensores aguerridos da Lei e testemunha
que só os que decidem praticar o amor abrem e fazem exceções. O Evangelho de
Jesus encontra o tom da verdade nos humilhados, nos machucados e nos que são
considerados um nada por aqueles que só sabem calcular seus “custos e
benefícios” e investem as suas vidas para “agregar valor” aos sistemas
políticos e religiosos da exclusão. Curar um cego é um ato de Deus e esta
crença está na raiz do mundo judeu que a sabia de cor! No livro do Êxodo,
quando Moisés se inquieta com a missão que Deus lhe confiava, disse: “Perdão,
meu Senhor. Eu não tenho facilidade de falar, nem antes nem agora que falastes
ao teu servo; tenho boca e língua travados. O Senhor replicou: ‘Quem dá a boca
ao homem? Quem o torna mudo ou surdo? Quem faz o que vê ou o cego? Não sou eu,
o Senhor?” (Ex 4, 10-11). O evangelista é incisivo: “Eu vim a este mundo para
exercer um julgamento, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se
tornem cegos”. A cura da cegueira coincide com o nascimento da fé: “Eu creio,
Senhor”, afirma o que agora vê. O que era cego sai, pouco a pouco, da sua noite
enquanto os fariseus chafurdam nas trevas da inveja, da mentira, da contradição
e fazem de Jesus, apesar das evidências, um possuído que não respeita o sábado
e dissipa o mal pelo mal. Paulo reconhece esta cisão e exclama: “Somos o aroma
de Cristo oferecido a Deus para os que se salvam e para os que se perdem. Para
estes, cheiro de morte que mata; para aqueles, fragrância de vida que vivifica”
(2 C0r 2, 15). A declaração pública de Jesus: “Eu sou a Luz do Mundo” (Jo 8,
12) é uma declaração afrontosa aos filhos das trevas espalhados em todas as
instituições políticas, sociais e religiosas que só se preocupam com o poder
para serem servidos e dele se servir. Jesus veio para remover a cegueira dos
homens e, sobretudo, a pior cegueira, a soberba, que é a do cego que quer ver.
Os corações interesseiros são e serão sempre movidos pelo veneno da ingratidão
e, revestidos da hipocrisia das belas
almas, “participam nas obras estéreis das trevas”. Somos nós que nos
julgamos diante da Palavra da Verdade: uns se enclausuram na revolta e na
mentira e outros se abrem cada vez mais à vida, à verdade e à liberdade de
amar. A Igreja de Jesus deve ser humilde para reconhecer, muitas vezes, a sua
cegueira no meio do Povo de Deus que se sente perdido com tanta pompa e com
tanta circunstância. Que o Santo Espírito nos alinhe entre os cegos, os surdos
e os paralíticos, pois é a única condição para que sejamos renovados pela
Páscoa do Senhor e, admiravelmente, recriados para a vida eterna.
CONTEMPLAR
Ele curou os olhos do homem cego, Walter Rane, 1949, óleo sobre tela,
34” x 20”, Coleção da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Salt
Lake City, Utah, Estados Unidos.
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