O
Caminho da Beleza 17
Leituras
para a travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele
que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do
belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que
cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as
devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia”
(D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
II
Domingo da Quaresma
16.03.2014
Gn 12,
1-4 2 Tm 1, 8-10 Mt 17, 1-9
ESCUTAR
“Sai da tua terra, da tua família e da casa do teu
pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar. Farei de ti um grande povo e te
abençoarei: engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma benção.
Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti
serão abençoadas todas as famílias da terra!” (Gn 2, 1-3).
“Esta graça foi revelada agora, pela manifestação de
nosso Salvador, Jesus Cristo. Ele não só destruiu a morte, como também fez
brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho” (2 Tm, 10).
“Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão e
os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado
diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas
como a luz” (Mt 17, 1-2).
MEDITAR
“Todos nós seríamos transformados se tivéssemos a
coragem de ser o que somos” (Marguerite Yourcenar).
“Quando o grande Antonio estava à beira da morte,
ouviu um irmão que falava dele: ‘Ele foi tão grande como Moisés’. Então Antonio
abriu um olho e disse: ‘Como você está longe da verdade, irmão. No além Deus
não me perguntará: ‘Por que você não foi como Moisés?’, mas ‘Por que você não
foi Antonio?’” (Apoftegma [Sentença]
dos Padres do Deserto).
ORAR
Após a
prova do deserto, o episódio da Transfiguração é a iluminação que desperta a
esperança. O relato faz brilhar, por antecipação, a glória de Deus na paixão do
Cristo. A nuvem luminosa que cobre a todos é a mesma que criou o mundo no
primeiro dia do Gênesis e a que envolveu Maria na Anunciação. É o mesmo
Espírito que consagra o pão e o vinho em Corpo e Sangue de Cristo para a vida
do mundo. A Transfiguração é uma resposta à indignação de Pedro uns dias antes
ao ouvir de Jesus o anúncio de sua Paixão: “Deus te livre, Senhor! Tal coisa
não te acontecerá” (Mt 16, 22). Jesus recebe no monte Tabor a sustentação
psicológica e espiritual mais significativa no decorrer do seu ministério.
Jesus tem a garantia de que o doloroso caminho que vai percorrer O conduzirá à
glória. A Transfiguração é a antítese do Calvário. Nela, Jesus, glorificado,
está entre as duas mais ilustres personagens da história de Israel: Moisés que
recebera a revelação de Deus e as tábuas da lei na sarça ardente; e Elias que a
recebera na brisa leve e ligeira que o fazia vivenciar o Deus da Ternura.
Apesar desta visão gloriosa, o chefe dos apóstolos e seus companheiros terão
que pregar o Cristo Crucificado entre dois ladrões. Nesta antítese se edifica a
solidez de uma fé na qual repousa toda a fé da Igreja de Jesus. Os apóstolos
testemunharam a ressurreição da filha de Jairo e a transfiguração de Jesus para
que proclamassem a ligação íntima entre Ressurreição e Transfiguração. Apesar
de tudo, toda vocação autêntica é uma missão a serviço dos outros, anunciada e
testemunhada em nossas vidas pela exclamação do salmista: “A terra está plena
do seu amor e transborda em toda a terra a sua graça” (Sl 119, 64). O Papa
Bento XVI nos exortava: “Somente quem se faz livre para Deus e suas exigências,
abre-se ao outro que chama à porta do seu coração” (Sermão de Cinzas, 2008). A
Transfiguração de Jesus antecipa a certeza da sua Ressurreição dentre os
mortos, como será com cada um de nós pela graça e pelo amor de Deus ao se
cumprir a profecia de Daniel: “Continuei olhando, e na visão noturna notei vir
nas nuvens do céu uma figura humana, que se aproximou do ancião e foi
apresentada diante dele. Deram-lhe poder real e domínio: todos os povos, nações
e línguas o respeitarão. Seu domínio é eterno e não passa, seu reino não terá
fim” (Dn 7, 13-14). Neste mundo e nestas igrejas comprometidas com uma moral do
espetáculo, que estimula o ardor religioso individual sem nenhum compromisso
comunitário, um Jesus Morto é
absolutamente comum e sem atrativos de sedução. Para nós, além do Jesus da
História, devemos estar intimamente ligados ao Cristo da Fé e Neste o que conta
não é o fenômeno da luz, mas a humanidade de Jesus que durante a sua travessia
testemunhou e praticou para todos e com todos, sem exceção ou discriminação,
suas entranhas de misericórdia.
CONTEMPLAR
Transfiguração, Lewis Bowman, 2008, óleo sobre tela, espátula, 18” x 24”, original sem moldura, Texas, Estados Unidos.
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