O Caminho da Beleza 16
Leituras para a travessia da vida
“O conceito
de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento,
amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a
verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia
tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima
alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe
cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
I Domingo da Quaresma 09.03.2014
Gn 2, 7-9 Rm 5, 12.17-19 Mt 4, 1-11
ESCUTAR
“O Senhor Deus formou o homem do pó
da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser
vivente. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs
o homem que havia formado” (Gn 2, 7-8).
“Por um só homem, pela falta de um só
homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de
um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça”
(Rm 5, 17).
“Naquele tempo: o Espírito conduziu
Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta
dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome... Então o diabo o deixou. E
os anjos se aproximaram e serviram Jesus” (Mt 4, 1-2.11).
MEDITAR
“É melhor mal amar, amar a torto e a
direito do que nunca amar, pois o que ama mal pode sempre aprender e descobrir
como amar melhor, mas aquele que não ama está perdido” (Jean-Guy Saint-Arnaud).
“A alma que fica na superfície de si
mesma, que não se habita a si mesma, torna-se estrangeira de si própria. A
interioridade nos faz descobrir verdadeiramente a nós mesmos, Deus e os outros”
(Mestre Eckhart).
ORAR
Somos um misto frágil de pó da terra
e de sopro divino. Por esta razão sempre sofremos a tentação de sucumbirmos ao
pecado da vaidade. Jesus se retira sob o sol de Satanás e sofrerá um batismo de
fogo após o seu batismo de água no Jordão. A sua tentação é proporcional à sua
missão e como a nossa é expressa humanamente: a de ter seus desejos
imediatamente satisfeitos e assegurar a sua sobrevivência; a de experimentar a
sua onipotência e se tornar igual a Deus e, finalmente, a de dominar os homens
e reinar sobre a Terra. O mesmo Espírito que conduz Jesus ao deserto permite
reconhecer em nossos desertos a presença de Deus agindo do nosso lado nas
provas e tentações cotidianas. A tentação não é um mistério de vitrine, mas um
mistério de vertigem que cada um carrega em si, no seu próprio precipício
possível. Na sua agonia, Jesus é abandonado pelos seus, na sua tentação é
abandonado a si mesmo e se reencontra só com todos os possíveis da sua
humanidade. O Enganador se engana: se somos filhos de Deus, é inútil
transformar pedras em pão, pois o Pai dá naturalmente o pão a seus filhos (Mt
6, 11); se somos filhos de Deus é impossível se lançar abaixo, porque seguros
nas mãos de Deus não teremos vertigens e se somos seus filhos será em vão fazer
vilezas e vulgaridades para se ganhar todos os reinos do mundo, porque já somos
herdeiros com o Filho do reino do Pai (Rm 8, 17). Este período de quaresma nos
permite uma profunda revisão no nosso deserto interior para que possamos, como
Jesus, permanecer nos desígnios do Pai. A nossa vitória está na conquista da
lucidez de sermos filhos e filhas bem-amados. O evangelista nos remete à
experiência humana mais profunda que acarreta apreensão e angústia por desfilar
diante dos olhos as imagens mais sedutoras. Há um debate interior que une, na
vida de Jesus, dois momentos cruciais: a solidão do deserto e a solidão do
Jardim das Oliveiras. Jesus não escolhe os bens terrestres, mas a pobreza; não
escolhe o prestígio, mas a humildade e as humilhações; não sucumbe à idolatria
do poder político, mas prefere ser condenado injustamente como “rei dos
judeus”. A tentação do deserto desvela a união diabólica e a natureza maléfica
do poder político e da elite religiosa. A liderança política e religiosa é a
forma institucional visível de uma realidade interna que resiste aos propósitos
de Deus e se empenha em cumprir a sua agenda por meio da injustiça e do poder
opressor. A Igreja de Jesus deve aprender com Ele a não sucumbir à tentação
maior que é a de agir em benefício próprio. Como diz Paulo: “Conheceis a
generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por vós se tornou
pobre para vos enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8, 9).
CONTEMPLAR
A Ceia, Ben Willikens, 1976-1979, acrílico
sobre tela (tríptico), 300 cm x 200 cm (cada painel), Museu Alemão de
Arquitetura, Frankfurt, Alemanha.
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