terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O Caminho da Beleza 12 - V Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 12
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



V Domingo do Tempo Comum                     09.02.2014
Is 58, 7-10               1 Cor 2, 1-5             Mt 5, 13-16



ESCUTAR

“Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá” (Is 58, 7-8).

“Eu estive junto de vós com fraqueza e receio, e muito tremor” (1 Cor 2, 3).

“Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5, 16).



MEDITAR

“A prática do amor e da compaixão nada tem que ver com implicações religiosas ou com o que quer que seja de sagrado. É uma questão de sobrevivência. A compaixão é o fator essencial” (Dalai Lama).

“Um ser espiritual irradia o amor em que vive e não busca doutrinar, convencer. Não é nada mais que um outro. Faz o que tem de fazer. É ele mesmo quase sem se dar conta [...] Pode-se falar dele, de seu comportamento, mas o que emana de sua pessoa é inexplicável, pertence ao que há de mais vivo, de mais estimulante. Ele é surpreendente, até mesmo ‘chocante’, mas esse choque é revelador de uma outra coisa que não pode ser explicada – ele está com Deus” (Françoise Dolto).



ORAR

Somos chamados a praticar boas obras e nos abstermos de atitudes ameaçadoras e da maledicência. Nossa oração só alcançará Deus quando o amor fraterno alcançar o próximo. Deus nos diz, “Estou aqui”, unicamente ao que responde, “Eis-me aqui”, quando alguém bate em sua porta. Basta de andarmos como cegos de um lado para o outro e irmos longe para acender uma luz e deixarmos os mais próximos às escuras. A Luz se oferece aos outros com modéstia e delicadeza e o Cristo sobre a cruz se manifesta na sua fraqueza para que aprendamos a falar da Cruz do Cristo em tom humilde e palavras sinceras. O evangelista revela que para sermos luz do mundo não devemos ter a pretensão de brilhar. Devemos esquecer a ilusão de dar a luz aos outros e desterrar a obscuridade e o caos que nos rodeiam com um pouco da loucura de Deus. O homo sapiens produziu e continua a produzir catástrofes em todos os níveis. É a hora de nos convertemos em homo demens e caminharmos no caminho do risco, do excesso e da provocação. O papa Francisco nos assegura: “No governo, a prudência é uma virtude, mas a audácia também é”. E o Papa exorta a sermos uma igreja que tropeça porque caminha em frente do que uma igreja que se acomoda e se resguarda de tudo e de todos. Pés parados não topam com nenhuma pedra. O mundo de hoje não necessita da beatice de olhos mortiços e pescoços pendurados, nem de intelectuais refinados, nem de doutores que prescrevem receitas, nem de lideranças vanguardistas. O mundo de hoje precisa de loucos, de artistas e de poetas. De homens e mulheres entusiasmados, cheios de Deus, capazes de realizar gestos insólitos e surpreendentes na sua fantasia; provocadores em sua liberdade para quem as bem-aventuranças são uma desconcertante sinfonia em que tudo será um milagre porque tudo será virado pelo avesso. Neste mundo de pactos medíocres, em que grassa uma subcultura política, social e religiosa, devemos fazer eco ao grito do escritor russo Dostoiévski: “A beleza salvará o mundo!”. Sigamos os passos de São Francisco que se autonomeava o louco e o idiota de Deus e dessa maneira levava alegria a todos: de homo demens converteu-se em homo ludens. Na iconografia católica, o Menino Jesus no colo de Maria segura em suas mãos frágeis uma bola e esta bola é o mundo com o qual brinca o Menino. O nosso cristianismo está enfermo da sisudez e do escrúpulo; aprisionado a uma religiosidade supersticiosa pendurada em fetiches que materializam a nossa debilidade espiritual e a nossa fé infantilizada. Sem alegria, somos como “cegos conduzindo outros cegos” e cairemos todos num buraco (Mt 15, 14). Sem o sal que nos queima, perderemos o sabor e a chama amorosa da ternura que nos deve consumir, pois “todos vão ser salgados com o fogo” (Mc 9, 49). Se não nos tornarmos crianças lúdicas, se não nos convertermos em loucos, poetas, artistas e se não tivermos em nós o sal e o fogo, jamais conheceremos o gozo que invade todo o anúncio de Cristo. Está mais do que na hora de nos deixarmos seduzir pela loucura, pela alegria e pela ternura de Deus para que salgados pelo fogo do seu amor e da sua misericórdia não apodreçamos justapostos e isolados nas nossas falsas seguranças. Não podemos continuar cristãos decorativos, pois Deus não nos seduz quando nos é imposto nos nossos cérebros, mas quando possui, porque precisa, os nossos loucos corações.



CONTEMPLAR


Madona e o Menino Jesus segurando o globo (detalhe), Fra Angelico, 1433-35, Igreja e Convento de São Marco, Florença, Itália (Fonte: Nicolo Orsi Battaglini/Art Resource, New York, Estados Unidos).




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