O Caminho da Beleza 14
Leituras para a travessia da vida
“O
conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos:
conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma
‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que
atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
VII Domingo do Tempo Comum 23.02.2014
Lv 19, 1-2.17-18 1
Cor 3, 16-23 Mt 5,
38-48
ESCUTAR
“Amarás o teu
próximo como a ti mesmo” (Lv 19, 18).
“Acaso não
sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?” (1 Cor
3, 16).
“Porque, se
amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis?” (Mt 5, 46).
MEDITAR
“No Brasil,
nosso compromisso com a alegria, a festa, a irresponsabilidade, nos faz
rejeitar a memória e abandonar os projetos de reparação de injustiças passadas
[...] Temos pressa em ‘perdoar’ os inimigos, com medo de parecer ressentidos –
mas o ressentimento, afeto que não ousa dizer seu nome, se esconde justamente
nas formações reativas do esquecimento apressado, tão característico da
sociedade brasileira” (Maria Rita Kehl).
“O desafio para a Igreja é tornar-se aquele tipo de comunidade que
pode falar de Deus de modo convincente, o que quer dizer um espaço de
misericórdia, de admiração recíproca, de alegria e liberdade. Se nos virem como
pessoas receosas, com medo do mundo e uns dos outros, como é que alguém poderá
acreditar numa só palavra do que dizemos?” (Timothy Radcliffe)
ORAR
O templo de Deus somos nós. Somos igrejas de pedras vivas e em nosso
corpo o Espírito fez morada. Todo gesto nosso é sagrado e cada passo é o de um
templo que se move: somos santuários peregrinos. Paulo afirma que a sabedoria
mundana pode progredir ao máximo possível, mas nunca chegará a roçar a
sabedoria de Deus, pois para alcançá-la, devemos transformar a sabedoria deste
mundo em loucura. A vocação específica do cristão é a loucura. São Francisco de
Assis pregava: “Cristo me chamou de idiota e de simples para que seguisse a
loucura da Cruz: Quero que sejas um novo louco no mundo e, com obras e
palavras, pregues a loucura da Cruz”. Devemos ser honestos como alguns
discípulos que tiveram a lealdade de protestar: “Este discurso é bem duro: quem
poderá escutá-lo” (Jo 6, 60). E em seguida abandonaram a sinagoga porque o
alimento da Palavra se tornara, para eles, indigesto. As palavras do Cristo
devem nos incomodar e nos arrancar da nossa tranquilidade cotidiana para que
não se tornem meras palavras que passam pelos nossos ouvidos estéreis sem nunca
atingir e fecundar o nosso coração. A vocação do cristão é uma vocação para o
extraordinário. O próprio Cristo nos questiona: “Se saudais somente os vossos irmãos,
o que fazeis de extraordinário?”. A vocação do cristão é a de superar as
medidas calculadas: “Dai e vos darão: recebereis uma medida generosa, calcada,
sacudida e transbordante. A medida que usardes será usada para vós”(Lc 6, 38).
É a vocação de ir além do impossível para superar a justiça dos fariseus e dos
mestres da Lei. O teólogo luterano Bonhoeffer pregava: “Aonde não existe este
fator singular, extraordinário, não existe nada de cristão”. Os cristãos se
fazem visíveis pelo extraordinário: perdoar, dar sem calcular, amar os
inimigos, orar pelos perseguidores, desejar aos malvados todo bem possível,
saudar os que mostram o seu rosto feroz, mas, sobretudo, amar os que não amam
ninguém e que ninguém ama. Não devemos nos preocupar e nem complicar. Se agir
de uma maneira extraordinária nos incomoda, devemos saber que demos o primeiro
passo para a salvação, pois, finalmente, estamos abandonando o caminho da normalidade. O evangelho não é
concêntrico, mas excêntrico. O cristianismo não é uma forma de auto-realização,
pois Jesus não era Narciso. Amém!
CONTEMPLAR
Cristo em silêncio, Odilon Redon, 1895-99,
pastel sobre papel, 58 cm x 46 cm, Musée du Petit Palais, Avignon, França.
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