O Caminho da Beleza 07
Leituras para a travessia da vida
“O
conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos:
conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma
‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que
atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Epifania do Senhor 05.01.2014
Is 60, 1-6 Ef
3, 2-3- 3.5-6 Mt 2, 1-12
ESCUTAR
“Levanta-te,
acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória
do Senhor” (Is 60, 1).
“Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros
do mesmo corpo, são associados a mesma promessa em Jesus Cristo por meio do
evangelho” (Ef 3, 6).
“O rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a
cidade de Jerusalém” (Mt 2, 3).
MEDITAR
“A Igreja Católica exorta seus filhos ao diálogo e à
colaboração com os seguidores das outras religiões, para que dêem o testemunho
da fé e da vida cristã, reconhecendo, servindo e promovendo os bens espirituais
e morais assim como os valores socioculturais presentes nelas” (Nostra aetate, 2).
“Temos de renunciar ao cristianismo, se nos obrigarem
a renunciar a essas dialéticas esquartejantes dos sentimentos cristãos,
reduzindo-as à escala das sentimentalidades cômodas. Temos que romper a
puerilidade de um cristianismo que produz homens delicados e frágeis que nunca
avançam para uma fé comprometida, pois ‘vivem tremendo e murados em suas
defesas’” (Emmanuel Mounier).
ORAR
Hoje é a festa da luz porque
a manifestação do Senhor, a sua epifania, é inseparável da luz. Quando o Senhor
se manifesta, existem os que ao responder se colocam em caminho e buscam. Há
outros, porém, que se escondem e dissimulam as suas vidas e os seus encontros.
Os magos foram tomados de uma imensa alegria enquanto Herodes ficou perturbado
assim como a Jerusalém do poder e do saber. Os sumos sacerdotes e os escribas
foram convocados para uma reunião de emergência e nela manifestam a sua
inquietude e desconfiança. É significativo que a aparição da “bondade de Deus,
nosso Salvador, e seu amor pelos homens” (Tt 3, 4) suscite perturbação nos que
detêm o poder civil e religioso. A presença de Deus que se manifesta na
fraqueza surge como um perigo e uma ameaça para a ordem estabelecida e para as
posições consolidadas. O Cristo constitui uma ameaça para o nosso reino privado
ao colocar em xeque nossos equilíbrios cansados e nossas falsas seguranças. O
Papa Francisco afirma: “Preferem uma vida enjaulada em seus preceitos, em seus
compromissos, em seus planos revolucionários ou em sua espiritualidade
desencarnada” (Homilia 20.12.2013). O cristão lúcido sabe que é melhor a
perturbação do que a indiferença; é melhor a hostilidade do que a neutralidade;
é melhor a recusa do que a ambiguidade. O cristão sabe que é necessário um
coração para assombrar-se e alargar-se. O profeta desvela a expansão da luz e a
sua alegria contagiosa. O evangelista, por sua vez, dá a conhecer o medo dos
sábios cuja busca finda em suas bibliotecas palacianas, no meio dos pergaminhos
cobertos de pó nos quais procuram sentenças definitivas. O caminho, com as suas
imprevisibilidades e surpresas, não é o seu assunto. O coração dos magos é o
coração dos que buscam, apaixonadamente, abrigar o mistério. O coração dos
detentores do poder é árido, mesquinho e intolerante. Os magos nos revelam que
entre o relâmpago do surgimento da estrela e o seu acompanhamento até o último
trecho do caminho seremos assomados por dúvidas, cansaços, perdas e desilusões,
mas, sobretudo, por esperanças. A estrela surge como uma chispa de fogo, acende
o desejo e só volta a brilhar intensa e permanentemente no final quando o
encontro se realiza. A busca não é nunca uma marcha triunfal: implica numerosas
partidas e recomeços e não devemos dela esperar manifestações espetaculares. O
que conta é a perseverança: a capacidade de não desertar, de não ceder ao
desalento, de não se desviar para cômodos refúgios e nem se contentar com conquistas
provisórias; a obstinação para caminhar quando tudo parece inútil, absurdo e impossível.
E o que mais conta ainda é o discernimento de que para adorar a Deus é preciso
nos deter diante do mistério do mundo e saber olhá-lo com amor. Quem olha a vida
amorosamente começará a vislumbrar as vibrações de Deus antes mesmo de ser
envolvido por elas.
CONTEMPLAR
O Retorno dos
Magos,
Giovanni da Modena, c. 1412, afresco,
Basílica de São Petronio, Bolonha, Itália.
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