O Caminho da Beleza 29
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
X Domingo do Tempo Comum 09.06.2013
1 Rs 17, 17-24 Gl 1, 11-19 Lc 7, 11-17
ESCUTAR
“Eis aqui o teu filho vivo” (1 Rs
17, 23).
“Asseguro-vos, irmãos, que o
evangelho pregado por mim não é conforme critérios humanos. Com efeito, não o
recebi nem aprendi de homem algum, mas por revelação de Jesus Cristo” (Gl 1,
11).
“Ao vê-la, o Senhor sentiu
compaixão para com ela e lhe disse: ‘Não chores!’. Aproximou-se, tocou o
caixão, e os que o carregavam pararam. Então, Jesus disse: ‘Jovem, eu te
ordeno, levanta-te!’. O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o
entregou à sua mãe” (Lc 7, 13-15).
MEDITAR
“O amor oculta a morte [porque] o
amor é Deus e morrer significa que eu sou um átomo deste amor, que volta ao
geral e eterno manancial” (Léon Tolstoi, Guerra
e Paz).
“O conhecimento do amor é o
fundamento sobre o qual nós estabelecemos a nossa vida: nada mais pode nos
atingir porque o amor pode tudo transformar, transfigurar, mesmo a morte e o
sofrimento” (Pierre Claverie, bispo de Oran, Argélia, assassinado em 1996).
Jesus não
considera normal a morte, pelo contrário, reconhece a sua negatividade. Em
certas ocasiões se sente intimamente comovido, como diante do sepulcro de
Lázaro; outra vez perturbado e triste, no jardim do Getsêmani, diante da
iminência da própria morte. A morte para Jesus não é aceitável porque contradiz
o desígnio de Deus e foi introduzida no mundo pelo diabo: “Deus criou o homem
para a imortalidade e o fez à imagem de seu próprio ser; mas a morte entrou no
mundo pela inveja do diabo e os de seu partido passarão por ela” (Sb 2, 23-24).
O sinal decisivo de que Deus visita o seu povo é o de que o seu Enviado se
apresenta como portador da vida e uma vida eterna que começa a cada novo dia. O
cristão não pode preparar um funeral dos vivos e nem deve mortificar a vida. O
Deus revelado por Cristo é um Deus amante da vida e aquele que O encontra só
pode se tornar o anunciador de uma alegre mensagem de mais vida. Para Jesus, a
morte física é apenas mais um episódio – um sonho – pois Ele é a vida indivisa
e não uma síntese de vida e morte. E a sua compaixão O faz transgredir: viola a
lei e os costumes judaicos ao interromper o funeral e, mais ainda, torna-se impuro ao tocar o suposto cadáver. Jesus
testemunhava que o imaginário profético – “os cegos veem, os coxos andam, os
leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e se anuncia aos
pobres a boa nova” (Is 35, 5; 26, 19; 61, 1) – tornava-se realidade na História
e que a ressurreição dos mortos no final dos tempos havia se transformado numa
ressurreição, aqui e agora, dentro do tempo. Jesus não necessita, como Elias,
nem de uma oração especial de súplica e nem de um ritual externo de transmissão
de vida. Basta, para Ele, a comoção interior expressa num gesto de compaixão. A
compaixão pode nos exigir uma atitude de transgressão, pois o amor é maior do
que tudo e nos leva a confrontar todas as limitações, as imposições e, muitas
vezes, a dizer um não a elas. Amar é também saber dizer não. O apóstolo é, antes
de tudo, um ser que vive em plenitude, não uma múmia, nem um comentador de
códigos e muito menos um organizador de funerais. A Igreja de Jesus, antes de
ser a luz do mundo, tem o dever de ser vida além das instituições e estruturas
necessárias para seu funcionamento interno. Como diz o papa Francisco: “A
Igreja de Jesus não é uma ONG!(...)
Não podemos criar cristãos satélites cuja prática está ditada pelo senso comum
e pela prudência mundana e não pelo seguimento de Jesus” (Homilia de 20.04.
2013). A grande inversão, que canta também Maria no seu Magnificat, não se cumpre sociologicamente, como tantas vezes
desejamos no nosso imediatismo político: a serva humilde não se converte numa
rainha dominante. Mais do que nunca, o poder de Deus é o poder do amor e de
amar, um poder que transforma “as espadas em arados e as lanças em podadeiras” (Is
2, 4) para a construção da Paz e da Justiça.
Foto do local
onde foi assassinada com seis tiros, em 2005, aos 73 anos de idade, a irmã
Dorothy Mae Stang, Anapu, Pará, Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário