O Caminho da Beleza 28
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
IX Domingo do Tempo Comum 02.06.2013
1 Rs 8, 41-43 Gl 1, 1-2.6-10 Lc 7, 1-10
ESCUTAR
“Senhor, escuta então do céu onde
moras e atende a todos os pedidos desse estrangeiro, para que todos os povos
conheçam o teu nome e o respeitem” (1 Rs 8, 43).
“Se eu ainda estivesse preocupado
em agradar aos homens, não seria servo de Cristo” (Gl 1, 10).
“Eu vos declaro que nem mesmo em
Israel encontrei tamanha fé” (Lc 7, 9).
MEDITAR
“Abbá Euloge, um dia, não
conseguia esconder sua tristeza. – Por que estás triste, Abbá, perguntou-lhe um
outro ancião. – Porque eu começo a duvidar da inteligência dos irmãos a
respeito das grandes realidades de Deus. Já é a terceira vez que lhes mostrando
uma peça de linho sobre a qual desenhei um pequeno ponto vermelho, ao
perguntar-lhes o que viam, todos me responderam: ‘um pequeno ponto vermelho’ e
jamais nenhum deles me respondeu que via uma peça de linho” (Apophtegma dos Padres do Deserto).
“Há milhares de anos o homem
compreendeu que nada é mais terrível do que cultivar a idolatria, porque o
ídolo não passa de um pedaço de madeira. Ou bem o sagrado está presente sempre,
ou não existe. É ridículo pensar que o sagrado existe no topo da montanha e não
no vale, no domingo ou no shabbath
mas não no resto da semana” (Peter Brook).
ORAR
Salomão
inaugura um enorme templo e, imediatamente, se dá conta de que naquela
construção majestosa e imponente, o Senhor se encontra restrito e intimidado:
“Mas, é possível que Deus habite na terra? Se não cabes no céu e no mais alto
do céu, quanto menos neste templo que construí!” (1 Rs 8, 27). O infinito de
Deus não pode ser aprisionado num espaço finito como uma construção de pedra
ainda que estupenda. Deus se faz presente no lugar em que os homens e as
mulheres se encontram, sejam de religiões e culturas diversas, estrangeiros ou
não. A Igreja de Jesus deve realizar uma comunhão com todos. O Papa Francisco
nos adverte sobre as comunidades religiosas fechadas: “A sua vida comunitária
para defender a verdade, porque elas acreditam que defendem a verdade, é sempre
a calúnia e o fofocar... Realmente, são comunidades fofoqueiras, que falam
contra, destroem o outro e olham para dentro, sempre para dentro, cobertas por
um muro. Comunidades que não sabem nada de carícias, mas sabem do dever e se
fecham numa observância aparente” (Homilia da Casa de Santa Marta, 28.04.2013).
O papa reafirma o primado da misericórdia contra o farisaísmo daqueles que se
satisfazem em “bater nos outros e condenar os outros”. Não temos o direito de
transferir ao templo do Senhor as fronteiras que nos dividem, as discriminações
que fazemos e as exclusões que decretamos aos que não são como nós. Na Igreja
de Jesus, ninguém deve se sentir estranho e nem privilegiado; não pode existir
um “complexo de não-pertença” e nem a postura presunçosa de querer distribuir
“carteirinhas de autenticidade cristã”, como se fossemos depositários de uma
marca – inexistente – que comprova a “legitimidade” do produto. O Senhor
vincula o Seu Nome no templo em que se mesclam as diversidades para a alegria
de se orar juntos. O Senhor não acolhe as pessoas segundo as nossas
preferências redutoras e seletivas, mas acolhe de acordo com a liberdade
infinita do seu amor universal. É preciso aprender a orar com os outros, isto
é, com todos. O evangelista reitera a importância dada por Jesus e o seu
assombro com a fé de um pagão: “Jesus ficou admirado”. Normalmente nos
evangelhos são os ouvintes que ficam admirados com as palavras de Jesus. Aqui é
Jesus quem se admira e fica quase aturdido. Lucas sublinha a Sua admiração diante
da fé extraordinária e verdadeira do centurião por ser um estrangeiro. Uma fé
que sequer tinha necessidade da presença do Cristo em sua casa, pois este homem
confiava no poder de Sua palavra mesmo à distância. O evangelho de hoje, mais
do que se referir ao milagre da cura de um pobre homem, apresenta o milagre
sensacional da fé de um pagão. Paulo prega que o Evangelho não deve servir para
agradar aos homens e nem ser manipulado para agradar a quem o anuncia, pois
este evangelho não seria o de Jesus. O papa Francisco exorta: “Só uma
comunidade livre, com a liberdade de Deus e do Espírito Santo, é capaz de ir em
frente e se difundir. Como são as nossas comunidades? São abertas ao Espírito Santo
que nos leva sempre à frente para difundir a Palavra de Deus, ou são
comunidades fechadas, com todos os mandamentos precisos, que carregam sobre os
ombros dos fiéis tantos mandamentos, como o Senhor havia dito aos fariseus?”
(Homilia da Casa de Santa Marta, 28.04.2013).
CONTEMPLAR
O Chamado de São Mateus (detalhe do rosto do Cristo), Michelangelo
Merisi, Caravaggio, 1599-1600, óleo sobre tela,
322 x 340 cm, Igreja de São Luís
dos Franceses, Roma, Itália.