O Caminho da Beleza 27
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Santíssima Trindade 26.05.2013
Pv 8, 22-31 Rm 5, 1-5 Jo 16, 12-15
ESCUTAR
“Assim fala a sabedoria de Deus: O Senhor me possuiu como primícias de
seus caminhos, antes de suas obras mais antigas; desde a eternidade fui constituída,
desde o princípio, antes das origens da terra” (Pv 8, 22-23).
“Irmãos, justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação
do Senhor nosso, Jesus Cristo” (Rm 5, 1).
“Tenho ainda muita coisa a dizer-vos, mas não sois capazes de as
compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá
à plena verdade”(Jo 16, 12-13).
MEDITAR
“Alguns de nós acreditam que Deus
é Todo-Poderoso e que pode fazer tudo, e que Deus é Todo-Sabedoria e sabe como
fazer tudo. Mas que Deus é Todo-Amoroso e quer amar tudo, aqui nós nos
contemos. E essa ignorância atrapalha a maioria dos amantes de Deus, como eu
vejo (...) Deus quer ser pensado como nosso Amante” (Julian de Norwich).
“O amor é o único ímpeto que é
suficientemente avassalador para nos forçar a deixar o confortável abrigo da
nossa individualidade bem protegida, a pôr de lado a concha inexpugnável da
auto-suficiência e rastejar nus para a zona do perigo, lá para a frente, para o
cadinho em que a individualidade se purifica para aparecer a personalidade”
(Mark Patrick Hederman, OSB)
ORAR
Neste domingo
da Trindade é preciso nos deixar envolver, como numa dança, no ritmo de um
dinamismo do dom. A reciprocidade entre o Pai e o Filho gera o Espírito de
Liberdade e de Amor. Aquele que, em Deus, chamamos de Pai, é fruto de sua entrega ao que chamamos de
Filho; o Pai existe como entrega e o Filho existe como recepção, agradecimento
e restituição de si ao Pai. Por sua vez, esta restituição não encerra ambos em
si mesmos, mas os abre à consumação do dom, a qual se realiza, de um modo
absoluto, no Espírito comum que deles emana. Este amor trinitário é derramado
sobre nós de uma maneira ilimitada e nesta dinâmica amorosa somos atingidos
pela sabedoria de Deus que nos revela que tudo foi criado para a alegria e o
encantamento dos filhos dos homens. A sabedoria de Deus, que está junto de nós,
penetra em tudo como “um reflexo da luz eterna, espelho nítido da atividade de
Deus e imagem de sua bondade” (Sb 7, 26). Deus no mundo e o mundo em Deus, pois
o mundo é a morada da Trindade. A comunidade eclesial recebe o Espírito de
Sabedoria para viver em comunhão de amor e pelo amor. Como nos afirma o teólogo
Francisco Catão: “A experiência do Espírito é uma experiência viva, é vida,
pois dela alimentamos nossa vida em Deus e nela é que vivemos nossa vida em
Deus, de adesão à Palavra e de docilidade ao Pai, no Espírito. Essa vida não é
apenas nossa, mas participada por todos aqueles que dizem sim a Deus no fundo
do coração. Tem, portanto, o que poderíamos denominar uma dimensão comunitária
que lhe é inerente. Não há experiência no Espírito independente da comunidade.
É esse, precisamente, o mistério da Igreja”. A existência cristã deve ser uma
existência humana vivida na verdade, pois só assim poderá se abrir inteiramente
aos desígnios do Pai; seguir os caminhos do Filho que partilhou da nossa
condição humana e ser conduzida pelo Espírito que está em todos e, mais do que
nunca, age por meio de todos. Deus não é uma fortaleza fechada que devemos
conquistar com nossas máquinas espirituais de guerra – ascetismo, meditação,
introspecção – mas é uma casa cheia de portas abertas pelas quais somos
convidados a entrar. O mistério da comunhão na Trindade é um mistério nupcial.
A total entrega na dança e fusão dos corpos faz nascer, num único e mesmo
espírito, o transbordamento da ternura. E no silêncio desta plenitude amorosa,
o Pai revelado no Filho, escuta o Espírito derramado em nossos corações “interceder
em nosso favor com gemidos inefáveis” (Rm 8, 26), como o êxtase dos noivos ao
se entregarem, em mútuo e gratuito dom, para a realização plena de suas
núpcias. Meditemos as palavras de S. Tomás de Aquino: “Ora, é por proceder do
Pai e do Filho que o Espírito Santo tem um nome próprio. Logo, DOM é o nome
próprio do Espírito Santo (...) Dom é uma doação
sem retorno, isto é, que não se dá com a intenção de retribuição. Dom
implica assim doação gratuita. E o amor é a razão da doação gratuita. Damos
gratuitamente uma coisa a alguém porque lhe queremos o bem. O primeiro que lhe
damos é, portanto, o amor pelo qual lhe queremos o bem. Por isso, é claro que o
amor tem a razão de dom primeiro, pelo qual são doados todos os dons gratuitos”(Summa Theologica I, q. 38, art. 2).
Somente pelo dom gratuito de nós mesmos é que a vida ordinária pode se
transformar, em momentos únicos e intransferíveis, no mistério extraordinário
de ser e de existir.
CONTEMPLAR
A Santa Trindade,
Nicoletto Semitecolo, c. 1370,
têmpera sobre painel, 35 x 40 cm, Catedral de Pádua, Itália.
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