segunda-feira, 20 de maio de 2013

O Caminho da Beleza 27 - Santíssima Trindade


O Caminho da Beleza 27
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


Santíssima Trindade                26.05.2013
Pv 8, 22-31             Rm 5, 1-5                Jo 16, 12-15


ESCUTAR

“Assim fala a sabedoria de Deus: O Senhor me possuiu como primícias de seus caminhos, antes de suas obras mais antigas; desde a eternidade fui constituída, desde o princípio, antes das origens da terra” (Pv 8, 22-23).

“Irmãos, justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo” (Rm 5, 1).

“Tenho ainda muita coisa a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá à plena verdade”(Jo 16, 12-13).


MEDITAR

“Alguns de nós acreditam que Deus é Todo-Poderoso e que pode fazer tudo, e que Deus é Todo-Sabedoria e sabe como fazer tudo. Mas que Deus é Todo-Amoroso e quer amar tudo, aqui nós nos contemos. E essa ignorância atrapalha a maioria dos amantes de Deus, como eu vejo (...) Deus quer ser pensado como nosso Amante” (Julian de Norwich).

“O amor é o único ímpeto que é suficientemente avassalador para nos forçar a deixar o confortável abrigo da nossa individualidade bem protegida, a pôr de lado a concha inexpugnável da auto-suficiência e rastejar nus para a zona do perigo, lá para a frente, para o cadinho em que a individualidade se purifica para aparecer a personalidade” (Mark Patrick Hederman, OSB)


ORAR


Neste domingo da Trindade é preciso nos deixar envolver, como numa dança, no ritmo de um dinamismo do dom. A reciprocidade entre o Pai e o Filho gera o Espírito de Liberdade e de Amor. Aquele que, em Deus, chamamos de Pai, é fruto de sua entrega ao que chamamos de Filho; o Pai existe como entrega e o Filho existe como recepção, agradecimento e restituição de si ao Pai. Por sua vez, esta restituição não encerra ambos em si mesmos, mas os abre à consumação do dom, a qual se realiza, de um modo absoluto, no Espírito comum que deles emana. Este amor trinitário é derramado sobre nós de uma maneira ilimitada e nesta dinâmica amorosa somos atingidos pela sabedoria de Deus que nos revela que tudo foi criado para a alegria e o encantamento dos filhos dos homens. A sabedoria de Deus, que está junto de nós, penetra em tudo como “um reflexo da luz eterna, espelho nítido da atividade de Deus e imagem de sua bondade” (Sb 7, 26). Deus no mundo e o mundo em Deus, pois o mundo é a morada da Trindade. A comunidade eclesial recebe o Espírito de Sabedoria para viver em comunhão de amor e pelo amor. Como nos afirma o teólogo Francisco Catão: “A experiência do Espírito é uma experiência viva, é vida, pois dela alimentamos nossa vida em Deus e nela é que vivemos nossa vida em Deus, de adesão à Palavra e de docilidade ao Pai, no Espírito. Essa vida não é apenas nossa, mas participada por todos aqueles que dizem sim a Deus no fundo do coração. Tem, portanto, o que poderíamos denominar uma dimensão comunitária que lhe é inerente. Não há experiência no Espírito independente da comunidade. É esse, precisamente, o mistério da Igreja”. A existência cristã deve ser uma existência humana vivida na verdade, pois só assim poderá se abrir inteiramente aos desígnios do Pai; seguir os caminhos do Filho que partilhou da nossa condição humana e ser conduzida pelo Espírito que está em todos e, mais do que nunca, age por meio de todos. Deus não é uma fortaleza fechada que devemos conquistar com nossas máquinas espirituais de guerra – ascetismo, meditação, introspecção – mas é uma casa cheia de portas abertas pelas quais somos convidados a entrar. O mistério da comunhão na Trindade é um mistério nupcial. A total entrega na dança e fusão dos corpos faz nascer, num único e mesmo espírito, o transbordamento da ternura. E no silêncio desta plenitude amorosa, o Pai revelado no Filho, escuta o Espírito derramado em nossos corações “interceder em nosso favor com gemidos inefáveis” (Rm 8, 26), como o êxtase dos noivos ao se entregarem, em mútuo e gratuito dom, para a realização plena de suas núpcias. Meditemos as palavras de S. Tomás de Aquino: “Ora, é por proceder do Pai e do Filho que o Espírito Santo tem um nome próprio. Logo, DOM é o nome próprio do Espírito Santo (...) Dom é uma doação sem retorno, isto é, que não se dá com a intenção de retribuição. Dom implica assim doação gratuita. E o amor é a razão da doação gratuita. Damos gratuitamente uma coisa a alguém porque lhe queremos o bem. O primeiro que lhe damos é, portanto, o amor pelo qual lhe queremos o bem. Por isso, é claro que o amor tem a razão de dom primeiro, pelo qual são doados todos os dons gratuitos”(Summa Theologica I, q. 38, art. 2). Somente pelo dom gratuito de nós mesmos é que a vida ordinária pode se transformar, em momentos únicos e intransferíveis, no mistério extraordinário de ser e de existir.

CONTEMPLAR

A Santa Trindade, Nicoletto Semitecolo, c. 1370, têmpera sobre painel, 35 x 40 cm, Catedral de Pádua, Itália.

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