O Caminho da Beleza 19
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Páscoa da Ressurreição 31.03.2013
At 10, 34.37-43 Cl 3, 1-4 Jo 20, 1-9
ESCUTAR
“Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia,
depois do batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus
com o Espírito Santo e com poder” (At 10, 37).
“Irmãos, se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as
coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas
celestes e não às coisas terrestres” (Cl 3, 1-2).
“De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a
qual ele devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20, 9).
MEDITAR
“Por isso, Ele denuncia a hipocrisia religiosa, o comportamento que
quer aparecer, as atitudes que buscam aplauso e aprovação. O verdadeiro discípulo
não serve a si mesmo ou ao ‘público’, mas ao seu Senhor, na simplicidade e na
generosidade” (Bento XVI, Homilia da Quarta Feira de Cinzas, 13.02.2013).
“Não há saídas milagrosas. Não há respostas claras. Não há caminhos
feitos. Não haverá nunca deste lado da morte, uma definitiva paz. Viver é
arriscar-se, abrir caminhos às escuras” (D. Pedro Casaldaliga).
ORAR
Este domingo da Ressurreição é um convite para
rompermos os limites dos nossos grupos, cenáculos, movimentos, para que nos misturemos
às pessoas comuns, unamos nossas vozes com os anônimos e com os desafinados. É
sabermos viver como um mortal comum, mas na liberdade do Ressuscitado. Hoje,
basta de polêmicas e excomunhão; de intolerâncias e discriminações; de rasuras
e miopias. Hoje, aconteceu algo novo e devemos disponibilizar esta novidade
para todos. Deixemos, por um instante apenas, de sermos estorvos, obstáculos e
impedimentos. Removamos a pesada pedra do nosso coração e deixemos o sol entrar
na caverna obscura em que tramamos nossas dissimulações cotidianas. Hoje,
devemos anunciar e não doutrinar; devemos testemunhar e não inventar moralismos
que impedem o contágio da alegria e da luz. Hoje, devemos ser capazes de firmar
um compromisso de fraternidade e de paz. Neste domingo, é preciso não trapacear
com a fé, não blefar com a esperança e, muito menos, enganar e mentir sobre o
amor. O Ressuscitado oferece a todos as possibilidades de uma vida verdadeira
ao aniquilar as mentiras em que chafurdamos nossa existência: proclamamos religião e pensamos em dinheiro; dizemos
igreja e digladiamos com unhas e
dentes por carreiras bem sucedidas; anunciamos serviço e buscamos privilégios; arrotamos moralidades e somos doutores em escapatórias e evasões sutis. Hoje,
é preciso resgatar o pudor perdido e deixarmos de sequestrar o coração por
interesses espúrios e sem escrúpulos. Hoje, o Cristo ressuscitou nu,
transfigurado em amor e luz: “Pedro viu as faixas de linho deitadas no chão e o
pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas
enrolado num lugar à parte”. Hoje, somos chamados a nos colocar em movimento, a
ser companheiros de aventura para criar novos mundos, para gerar novos homens e
mulheres e não continuarmos a ser os guardiões imóveis e estéreis de túmulos
vazios; de arquivos cheios de pó, de códigos bolorentos e de pilhas de papéis
mofados. Não podemos buscar o Ressuscitado onde Ele não está: nas batalhas, nas
guerras, nas corrupções, nos ritos sonolentos ou estridentes, nas litanias
vazias e nas liturgias mumificadas. O Cristo não está entre os mortos ainda que
caminhem, se ajoelhem e deem esmolas poucas do muito que lhes sobra. Neste
domingo, ao menos uma vez ao ano, devemos abrir nossos ouvidos para escutar o
falar da vida, da paz, do perdão mais forte do que a vingança, do amor que
derrota a indiferença e da luz que coloca em crise as tramas das trevas. Hoje,
o poeta é enfático: “Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração”(Drummond).
Hoje, o desvario das mulheres só existe para os que desejam que o Cristo
permaneça no sepulcro para legitimar a resignação de viver encerrados em seus
medos. Hoje, agora e sempre, devemos gravar como um grito em nossos corpos a
estupefação desafiadora: “Por que procurais entre os mortos Aquele que está
vivo? Não está aqui, ressuscitou”(Lc 24, 5).
CONTEMPLAR
Anastasis, Arcabas
(Jean-Marie Pirot), 2003, óleo sobre tela, ouro fino 23 quilates, 1,62 m x 1,35
m, Saint-Pierre-de-Chartreuse, França.
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