O Caminho da Beleza 18
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Domingo de Ramos 24.03.2013
Is 50, 4-7 Fl 2, 6-11 Lc 23, 1-49
ESCUTAR
“Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a
barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas” (Is 50, 6).
“Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a
Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de
escravo e tornando-se igual aos homens” (Fl 2, 6).
“E Jesus deu um forte grito: Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.
Dizendo isso, expirou” (Lc 23, 46).
MEDITAR
“Amanhã, quando você estiver prostrado no chão da capela, faça só uma
oração ao Espírito Santo. Peça a Ele que desperte em você o anticlericalismo
dos santos” (De Lubac para Abbé Pierre).
“Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato do casamento
importa mais que o amor, o funeral mais do que o morto, a roupa mais do que o
corpo e a missa mais do que Deus” (Eduardo Galeano).
ORAR
As leituras deste domingo que antecedem o relato da
paixão aniquilam todo tom triunfalista da entrada de Jesus em Jerusalém. Elas
nos falam de humilhação, de rebaixamento e de despojamento. O Servo de Deus não
é apresentado como um mestre da sabedoria, mas Aquele que mantém a sua
fidelidade à Palavra que escuta e transmite para os outros. Por esta fidelidade
é perseguido, insultado, ultrajado e assassinado. O Senhor forja o seu profeta
dando-lhe uma língua afiada e abrindo o seu ouvido. O profeta, essencialmente,
é um homem da escuta e o que, no meio dos sofrimentos mais atrozes, experimenta
a ajuda do Senhor que se revela mais forte do que a dor. É esta experiência da
dor que o capacita a levar uma palavra de consolo aos seus irmãos e irmãs.
Neste domingo de Ramos, comungar o Corpo de Cristo significa comungar um corpo
traído, ferido, escarnecido e torturado. Comungar este Corpo significa aceitar
e receber tudo o que este Ele padeceu, mas também comungar um Corpo
ressuscitado que nos manifesta que o amor consegue a vitória sobre a traição, a
violência e as humilhações. Para uma verdadeira comunidade cristã significará
sempre assimilar a Sua força de amor e a Sua capacidade de perdão. Neste domingo
de Ramos, é-nos revelado que Jesus se dá e Judas trai; no entanto, o mais vital
é que o dom chega antes da traição. Aquele que trai está sempre atrasado, pois
o dom o antecedeu. Trair e entregar são sinônimos: “Satanás entrou em Judas,
apelidado Iscariotes, um dos doze. Ele foi combinar com os sumos sacerdotes e
os guardas um modo de entregá-lo. Eles se alegraram e se comprometeram a dar-lhe
dinheiro. Ele aceitou e andava procurando uma ocasião para entregá-lo, longe da
multidão” (Lc 22, 3- 6). A perversidade dos homens jamais conseguirá ter a
primazia sobre a misericórdia de Deus. Judas chegou, sem atraso, uma única vez:
quando foi se enforcar. O seu fim foi provocado pela sua pressa. Os cristãos
devem ter a lucidez de que a comunhão do Corpo e Sangue de Cristo torna a fuga
impossível, pois cria um vínculo de compromisso de se fazer presente em
qualquer lugar onde alguém sofre. Não temos o direito de usurpar este Corpo e
Sangue ao comungarmos para cumprir meros preceitos e em seguida ficarmos
ausentes desta Presença. Condenamo-nos, como Judas, se apenas sentarmos à mesa
e comungarmos, pretensiosamente, uma ausência ao recusarmos a dinâmica do amor
que nos conduz ao enfrentamento da obscuridade. A Eucaristia além de estar com
Ele é deixar-se conduzir por Ele; não é ter, mas dar-se. A presença real nunca
será relaxante e tranquilizadora, mas uma presença que nos leva a perder a
nossa vida e a comungar com o sofrimento do mundo.
CONTEMPLAR
Entrada em Jerusalém,
Ermone Zabel Martaian, 2002, ícone, óleo sobre vidro, Budapeste, Hungria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário