O Caminho da Beleza 09
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
II Domingo do Tempo Comum 20.01.2013
Is 62, 1-5 1 Cor 12, 4-11 Jo 2, 1-12
ESCUTAR
“Assim como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposam;
e como a noiva é a alegria do noivo, assim também tu és a alegria de teu Deus”
(Is 62, 5).
“Há diversidades de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de
ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo
Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do
Espírito em vista do bem comum” (1 Cor 12, 4-7).
“Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: ‘Eles não tem
mais vinho!’” (Jo 2, 3).
MEDITAR
“Amar, é se esvaziar de si, ser pobre de si, fazer de si um espaço em
que cada um possa respirar a sua vida” (Maurice Zundel).
“Aquele que vê sofrer o seu irmão na necessidade e lhe fecha seu
coração exclui Deus do seu próprio coração. O amor de Deus e o do próximo são
como duas portas que só podem ser abertas e fechadas ao mesmo tempo”
(Kierkegaard).
ORAR
A inauguração da vida pública de Jesus é colocada,
pelo evangelista, num contexto de festa de bodas. Aos nossos olhos, não parece
ser o melhor lugar para os seus discípulos iniciarem o seu noviciado. Tudo
começa numa festa para que nossa alegria não se empobreça. É um grande equívoco
unir a Sua presença aos momentos de dor e de dificuldades em nossa existência.
Jesus revela que nossas festas são tímidas e frágeis; que a algazarra esconde
um vazio e uma angústia; que o vinho é insuficiente e de baixa qualidade. Com
Jesus, a festa encontra a sua plenitude e não está limitada ao tempo. Com Ele,
o vinho é novamente colocado sobre a mesa e nunca mais faltará. Todos se
beneficiarão dos seus dons, inclusive os que não esperam nada Dele. Maria
intervém não porque falta o pão, mas falta o vinho que é o símbolo da alegria.
As seis talhas de pedra significam o número inacabado da imperfeição em
oposição ao número sete que expressa a totalidade e a plenitude. As talhas
estão vazias e o ritual complexo das purificações esconde sua ineficácia, pois
a relação entre Deus e o homem só pode se restabelecer por meio do amor. Na
festa, todos os rituais de purificação foram cumpridos conforme a Lei e, no entanto,
só produziram ansiedade, medo e tristeza. Faltara o vinho do amor e Jesus vai
oferecer a todos, em abundância, a degustação do seu vinho de ternura e
alegria, pois “No amor não há lugar para o temor; ao contrário, o amor desaloja
o temor. Pois o temor se refere ao castigo, e quem teme não alcançou um amor
perfeito” (1 Jo 4, 18). O cardeal Ravasi é enfático: “O amor que existe sobre a
face da terra e que reaparece cada vez que duas criaturas se encontram e se
amam é o sinal do amor que Deus tem pela humanidade inteira”. Em Caná da Galileia,
Jesus começou os seus sinais para manifestar a sua glória e João não nos fala
de “milagres”, mas de sinais. Na festa das bodas, o sinal é dado pela
preocupação de Alguém para que a festa seja completa. O Senhor sempre faz
sinais, esboça sussurros de ternura e alegria para nos fazer, com o pudor do
amor, suspeitar que Ele nos ama e quer intervir na trama ordinária da nossa
vida para nos convidar para a festa. O mundo contemporâneo permanece
indiferente à mensagem das igrejas cristãs porque as pessoas necessitam que
elas apontem sinais que toquem as suas existências e corações. Sinais de
compaixão, sinais de acolhida sem discriminação de pessoas, sinais que possam
fazer descobrir nos cristãos a capacidade de se encontrar com Jesus que alivia
os sofrimentos e nos sustenta a esperança nas dificuldades cotidianas da vida.
Não podemos evangelizar a torto e a direito, como uma catequese de talhas de
pedra, numa verborragia que só faz crescer o temor e a ansiedade e que é estéril
e inexistente de sinais de vida, de alegria e comunhão compassiva. Escutemos
Simone Weil: “Acima da infinidade do espaço e do tempo, o amor infinitamente
mais infinito de Deus vem apoderar-se de nós. Ele vem na sua hora. Nós temos o
poder de consentir na acolhida ou na recusa. Se ficamos surdos, ele vem e volta
novamente como um mendigo, mas também como um mendigo um dia ele não retorna
mais”.
CONTEMPLAR
Casamento em Caná da
Galileia, Isaac Fanous, s.d., Escola de Iconografia Copta Moderna, Cairo,
Egito.
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