O Caminho da Beleza 11
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
IV Domingo do Tempo Comum 03.02.2013
Jr 1, 4-5.17-19 1
Cor 12, 31- 13, 13 Lc
4, 21-30
ESCUTAR
“Antes de formar-te no seio de tua mãe, eu já te
conhecia, antes de saíres do ventre, eu te consagrei e te fiz profeta para as
nações” (Jr 1, 5).
“O amor desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta
tudo. O amor jamais acabará” (1 Cor 13, 7-8).
“Em verdade, vos digo que nenhum profeta é aceito na
sua própria terra” (Lc 4, 21, 24).
MEDITAR
“A estrada é a companheira que desposei. Ela me fala
debaixo dos pés o dia todo, e a noite inteira canta para os meus sonhos. A
senda e eu somos amantes. A cada noite eu troco de veste por sua causa, e a
cada amanhecer deixo nas pousadas do caminho o estorvo dos velhos farrapos” (R.
Tagore).
“Temos verdadeiramente lugar para Deus quando Ele
tenta entrar em nós? Temos tempo e espaço para Ele? Porventura não é o próprio
Deus que rejeitamos? Isto começa pelo fato de não termos tempo para Deus.
Quanto mais rapidamente nos podemos mover, quanto mais eficazes se tornam os
meios que nos fazem poupar tempo tanto menos temos tempo disponível. E Deus? O
que diz respeito a Ele nunca parece uma questão urgente. O nosso tempo já está
completamente preenchido” (Bento XVI).
ORAR
O profeta Jeremias é de uma
família sacerdotal sobre a qual, durante três séculos, caíra a proscrição por
ser descendente do sacerdote Abiatar, culpado do complô contra Salomão (1 Rs 2,
26-27). Neste contexto, o chamado de Jeremias assume um profundo significado.
Deus o conhecia antes que no seio da mãe fosse formado. Jeremias foi amado e
consagrado por Deus no sentido inverso que havia sido colocado antes a sua
família. De agora em diante, dependerá totalmente de Deus e de sua palavra.
Conhecido, não para ser desprezado, mas amado; separado não no sentido da
excomunhão e da discriminação, mas em vista de uma missão mais ampla. Jeremias
foi ignorado, escarnecido, exilado, perseguido, ameaçado, insultado, denunciado
por parentes e amigos e tudo porque queriam que ele falasse o que desejavam
ouvir e que ele não podia dizer. O evangelista nos mostra o confronto de Jesus
com o povo de Nazaré e revela a mesma incompatibilidade vivida por Jeremias. Os
habitantes de Nazaré exigem que Jesus faça o que querem: “Todas as maravilhas
que fizestes em Cafarnaum, segundo ouvimos dizer, faze-as também aqui na tua
pátria”. Até hoje, temos a pretensão de administrar a palavra profética segundo
os nossos interesses. Jesus sai do seu povo e, como Elias e Eliseu, vai para
outro lugar, buscar entre “os pagãos” a fé que escasseou entre os seus. A
soberba religiosa os impedia de sair com Ele em busca dos que necessitavam de
misericórdia e compaixão. Esta é a tentação permanente das pessoas religiosas
que permanecem nos limites sufocantes da presunção: sequestrar o Cristo,
aprisioná-Lo nos seus próprios esquemas e utilizá-Lo para seus próprios
projetos. Jesus nos chama a sair de nós mesmos e a caminhar com Ele nas suas
estradas de itinerários imprevisíveis. Jesus sempre funda e fundará Nazaré em
outras partes, pois o povo de Jesus não é aquele em que nós nos situamos, mas
onde Ele está: “Ele, porém, passando entre eles, foi-se embora” (Lc 4, 30). Se
a palavra de Jeremias vem de outra parte, a de Jesus nos leva a outra parte. Em
ambos os casos, é uma palavra que não se deixa confiscar por nossos desejos
mesquinhos, pretensões e arrogâncias de poder. Jesus não é um sacerdote do
templo e nem um mestre da Lei. Diferente dos reis e sacerdotes, o profeta não é
chamado e nem ungido por ninguém, pois sua autoridade provém de Deus para
consolar e guiar o seu povo quando os dirigentes políticos e religiosos não o
fazem. Devemos pedir que o Senhor envie profetas para a sua Igreja, mais do que
padres. Uma Igreja sem profetas caminha surda aos clamores do seu povo e acaba
por colocá-lo sob a sua ordem e clericalismo por medo da novidade e da
imprevisibilidade de Deus.
CONTEMPLAR
Escultura sem nome de Guido Rocha, Genebra, 1975, foto
de capa do disco “Paixão segundo Cristino” de Geraldo Vandré e Frades
Dominicanos, 1984, Fundação Cultural de Curitiba, Paraná, Brasil.