O Caminho da Beleza 03
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
III Domingo do Advento
16.12.2012
Sf 3, 14-18 Fl 4,
4-7 Lc 3, 10-18
ESCUTAR
“Canta de alegria,
cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração,
cidade de Jerusalém!”(Sf 3, 14).
“Alegrai-vos sempre no
Senhor; eu repito, alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida de todos os
homens! O Senhor está próximo!” (Fl 4, 4).
“Eu vos batizo com
água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de
desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no
fogo” (Lc 3, 16).
MEDITAR
“Saiba que o que vos
dá o direito de pedir aos outros só é adquirido de uma maneira: dando-vos,
primeiramente, aos outros” (Cardeal Lustiger).
“Não é preciso mostrar
as faltas do outro com o dedo sujo” (Provérbio italiano).
ORAR
A dinâmica da vida cristã se realiza
na resposta a uma tríplice vocação: a da esperança, a da conversão do olhar e a
da alegria. Temos uma vocação à alegria ainda que tentem nos incutir que a
felicidade está proibida e que devemos suportar, nesta terra, um “vale de
lágrimas”. A alegria da comunidade eclesial é a melhor prova da existência de
Deus, ou pelo menos, uma suspeita desta existência. O cristão deve aprender a praticar
a ascese da felicidade, a penitência do sorriso e o cilício da serenidade. Esta
alegria é conquistada quando saímos de nós mesmos, do nosso egoísmo e nos
abrimos a Deus para acolher os seus desígnios em nossa vida. E esta acolhida
não implica numa dimensão intimista, mas numa abertura ao mundo inteiro. Quando
o “valente guerreiro que te salva” (Sf 3, 17) está no meio de nós, podemos
começar do zero e inventar outra história: dizer sim a Deus e ao próximo. João, o Batista, revela que o sinal da
descoberta da presença do próximo está na nossa capacidade de partilhar: “Quem
tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!”.
A regra de ouro dos sinais do Reino está na justiça e não na extorsão; na
recusa da violência, da mentira e da busca insana do proveito próprio com o prejuízo
dos outros. João proclama a conversão como descoberta do próximo e esta
descoberta como elemento essencial da nossa alegria. O Cristo reitera que só sendo
um ser-em-comunhão é que poderemos atingir a felicidade. A alegria cristã é
marcada pela afabilidade, esta capacidade de não fazer dramas por ninharias; de
aniquilar toda a ansiedade e inquietude e de exorcizar toda a angústia: “Não
vos preocupeis!”. A alegria é a nossa capacidade de dar graças e para o
cristão, ser significa ser na alegria. O papa Bento XVI nos exorta: “A verdade
da paz chama a todos a cultivarem relações fecundas e sinceras, estimula a
procurarem e a percorrerem os caminhos do perdão e da reconciliação, a serem
transparentes nas conversações e fiéis à palavra dada”. Temos que ser sinais de
alegria neste mundo necessitado de tréguas e de repouso; neste mundo em
desânimo e depressivo onde o acumular é a chave mestra do viver e os caminhos se
tornaram tortuosos pela cobiça e pela ambição. Este Menino é a luz do mundo e
temos que resplandecer esta luz para que não seja apagada pelo vento do orgulho
e da soberba. É a humildade profética que nos liberta para o anúncio de Cristo
a todos os povos e nações: “Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas
sandálias”. O papa Bento XVI nos chama a uma comunhão de serviço: “Nós temos
imperativamente a necessidade de um diálogo autêntico entre as religiões e
entre as culturas, capaz de nos ajudar a superar juntos todas as tensões, num
espírito de frutuosa colaboração”. A manjedoura desvela que a casa do Senhor é
o lugar dos abraços, da partilha e da comunhão. É o lugar onde todos, sem
discriminação, podem e devem saciar-se da ternura do Pai. E nela somos
convidados a entrar em todas as horas do dia e todos os dias do ano:
“Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos”. Neste mundo virtual em
que estamos mergulhados e onde os símbolos da vida real são banalizados não
podemos perder a nossa sensibilidade, pois se isto acontecer, ao chegar ao
jardim prometido e ainda amortecidos pela beleza e pelo perfume das flores,
poderemos exclamar: “Como são lindas e perfeitas, parecem com as da tela de um
computador”.
CONTEMPLAR
Madona com a criança – Apresentação aos magos do Oriente, Arcabas
(Jean-Marie Pirot), s.d., 80 x 80 cm, óleo sobre tela, coleção particular, Costa
de Santo André, França.
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