O Caminho da Beleza 27
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Solenidade de Pentecostes 27.05.2012
At 2, 1-11 1 Cor 12, 3b-7.12-13 Jo 20, 19-23
“Todos ficaram cheios do Espírito
Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava”
(At 2, 4).
“De fato, todos nós, judeus ou
gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos
um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito” (1 Cor 12, 13).
“Soprou sobre eles e disse:
“Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão
perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhe serão retidos” (Jo 20, 22).
MEDITAR
“A obra do Espírito Santo é de
tornar contemporâneas a presença e a ação de Jesus Cristo na nossa humanidade.
É dele que esperamos o nascimento do mundo novo sendo vigilantes na fé. Ele é o
mestre de obras da nova criação como foi na origem, pairando sobre as águas ou
insuflado no homem. O Espírito Santo é o ar do Reino de Deus” (D. Pierre
Claverie, op).
“Só na comunhão aprendemos a
estar sozinhos no sentido correto; e somente na solidão aprendemos a viver de
modo correto na comunhão” (Dietrich Bonhoeffer).
ORAR
O dia de
Pentecostes assinala a conclusão e o ápice dos cinquenta dias pascais. O
Espírito é uma realidade dinâmica que atua de maneira invisível e transforma o
homem no seu interior: penetra nas almas até o mais fundo, consola, dá a paz,
sacia, lava, rega, cura e encaminha. Os três símbolos com que expressamos o
Espírito Santo – vento impetuoso, fogo e línguas – representam o impulso vital
para não ficarmos imóveis, inativos e mergulhados numa preguiça espiritual. O
Espírito Santo vai, desde o início, em todas as direções a fim de restabelecer
a unidade e superar a dispersão humana. Pentecostes significa a reunificação da
humanidade. Pentecostes é o anti-Babel, pois em Babel a pretensão de falar uma
única língua provocou a confusão. Em Pentecostes, a unidade e a compreensão se
realizam por meio de diversas línguas. O Espírito é um princípio de unificação,
mas também de diferenciação e uma pretensa uniformidade é uma caricatura de uma
suposta comunhão no Espírito. O Concílio Ecumênico Vaticano II, na sua declaração
Nostra Aetate, de 28 de outubro de
1964, afirmava: “A Igreja Católica não rejeita o que é verdadeiro e santo em
todas as religiões. Considera as suas práticas, maneiras de viver, preceitos e
doutrinas como reflexo, não raramente autêntico, da verdade que ilumina todos
os seres humanos, ainda que se distanciem do que ela crê e ensina” (NA 2). A Igreja alcança um respiro de
universalidade ao não sufocar, manipular e nivelar as particularidades, mas
exaltando-as. A narrativa de Pentecostes mostra a surpresa dos ouvintes não por
apenas escutar uma mensagem no seu próprio idioma, mas pela percepção de uma
palavra distinta, que vinha de longe, provocava uma profunda ressonância
interior e uma surpreendente e secreta cumplicidade. Uma palavra que não era
estranha porque estava em sintonia com outra Palavra semeada nas profundezas da
pessoa, pois a única palavra compreensível é aquela que ressuscita outra que
temos no mais fundo do nosso ser. O mais importante não é o falar em línguas, mas
aprender a única língua que realmente importa: a do Espírito. É chegar ao
coração das pessoas com simplicidade, sinceridade, autenticidade e ser capaz de
estabelecer, antes de mais nada, uma relação humana de empatia e de confiança.
O essencial é não sermos considerados estranhos e intrusos. A Igreja nascida em
Pentecostes não conquista as massas, pois o Espírito habita e fala ao coração de
cada um: “Como é que os escutamos na nossa própria língua?” Não podemos reduzir
nossa relação com o Espírito Santo a um vago espiritualismo, a um genérico
sentimentalismo e a uma resposta mistificada. Nossa relação com o Espírito
exige uma adesão total à Palavra que é carne, espírito, alma, história e
eternidade. Devemos pedir ao Espírito que faça de nós uma “Igreja sem
fronteiras”, de portas abertas, de coração compassivo e de contagiosa
esperança. Que nada nos faça evadir ou dissimular do desígnio de Jesus:
construir um mundo mais justo e digno, mais amável, terno e fraterno, aplainando
os caminhos e veredas para o seu Reino. Gravemos em nossos corações e mentes a
declaração do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso, em maio de
1991: “O mistério da salvação atinge, todos os homens e mulheres, por caminhos
conhecidos por Deus, graças à ação invisível do Espírito de Cristo. É por meio
da prática daquilo que é bom nas suas próprias tradições religiosas, e seguindo
os ditames da sua consciência, que os membros das outras religiões respondem
afirmativamente ao convite de Deus e recebem a salvação em Jesus Cristo, mesmo
se não o reconhecem como o seu Salvador” (Diálogo
e Anúncio, 29). Não podemos esquecer
que somente em comunhão somos e seremos tocados e renovados pelo sopro divino.
Amém!
CONTEMPLAR
Pentecostes, Arcabas (Jean-Marie Pirot), 114 x 146
cm, óleo sobre tela, ouro 24 quilates, Mosteiro Notre-Dame du Cénacle, Lyon,
França, 2005.
Oi Paulo e Edu, ótimo trabalho.
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