segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Caminho da Beleza 27 - Solenidade de Pentecostes

O Caminho da Beleza 27
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



Solenidade de Pentecostes                27.05.2012
At 2, 1-11                  1 Cor 12, 3b-7.12-13                    Jo 20, 19-23


ESCUTAR

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (At 2, 4).

“De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito” (1 Cor 12, 13).

“Soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhe serão retidos” (Jo 20, 22).


MEDITAR

“A obra do Espírito Santo é de tornar contemporâneas a presença e a ação de Jesus Cristo na nossa humanidade. É dele que esperamos o nascimento do mundo novo sendo vigilantes na fé. Ele é o mestre de obras da nova criação como foi na origem, pairando sobre as águas ou insuflado no homem. O Espírito Santo é o ar do Reino de Deus” (D. Pierre Claverie, op).

“Só na comunhão aprendemos a estar sozinhos no sentido correto; e somente na solidão aprendemos a viver de modo correto na comunhão” (Dietrich Bonhoeffer).


ORAR

O dia de Pentecostes assinala a conclusão e o ápice dos cinquenta dias pascais. O Espírito é uma realidade dinâmica que atua de maneira invisível e transforma o homem no seu interior: penetra nas almas até o mais fundo, consola, dá a paz, sacia, lava, rega, cura e encaminha. Os três símbolos com que expressamos o Espírito Santo – vento impetuoso, fogo e línguas – representam o impulso vital para não ficarmos imóveis, inativos e mergulhados numa preguiça espiritual. O Espírito Santo vai, desde o início, em todas as direções a fim de restabelecer a unidade e superar a dispersão humana. Pentecostes significa a reunificação da humanidade. Pentecostes é o anti-Babel, pois em Babel a pretensão de falar uma única língua provocou a confusão. Em Pentecostes, a unidade e a compreensão se realizam por meio de diversas línguas. O Espírito é um princípio de unificação, mas também de diferenciação e uma pretensa uniformidade é uma caricatura de uma suposta comunhão no Espírito. O Concílio Ecumênico Vaticano II, na sua declaração Nostra Aetate, de 28 de outubro de 1964, afirmava: “A Igreja Católica não rejeita o que é verdadeiro e santo em todas as religiões. Considera as suas práticas, maneiras de viver, preceitos e doutrinas como reflexo, não raramente autêntico, da verdade que ilumina todos os seres humanos, ainda que se distanciem do que ela crê e ensina” (NA 2). A Igreja alcança um respiro de universalidade ao não sufocar, manipular e nivelar as particularidades, mas exaltando-as. A narrativa de Pentecostes mostra a surpresa dos ouvintes não por apenas escutar uma mensagem no seu próprio idioma, mas pela percepção de uma palavra distinta, que vinha de longe, provocava uma profunda ressonância interior e uma surpreendente e secreta cumplicidade. Uma palavra que não era estranha porque estava em sintonia com outra Palavra semeada nas profundezas da pessoa, pois a única palavra compreensível é aquela que ressuscita outra que temos no mais fundo do nosso ser. O mais importante não é o falar em línguas, mas aprender a única língua que realmente importa: a do Espírito. É chegar ao coração das pessoas com simplicidade, sinceridade, autenticidade e ser capaz de estabelecer, antes de mais nada, uma relação humana de empatia e de confiança. O essencial é não sermos considerados estranhos e intrusos. A Igreja nascida em Pentecostes não conquista as massas, pois o Espírito habita e fala ao coração de cada um: “Como é que os escutamos na nossa própria língua?” Não podemos reduzir nossa relação com o Espírito Santo a um vago espiritualismo, a um genérico sentimentalismo e a uma resposta mistificada. Nossa relação com o Espírito exige uma adesão total à Palavra que é carne, espírito, alma, história e eternidade. Devemos pedir ao Espírito que faça de nós uma “Igreja sem fronteiras”, de portas abertas, de coração compassivo e de contagiosa esperança. Que nada nos faça evadir ou dissimular do desígnio de Jesus: construir um mundo mais justo e digno, mais amável, terno e fraterno, aplainando os caminhos e veredas para o seu Reino. Gravemos em nossos corações e mentes a declaração do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso, em maio de 1991: “O mistério da salvação atinge, todos os homens e mulheres, por caminhos conhecidos por Deus, graças à ação invisível do Espírito de Cristo. É por meio da prática daquilo que é bom nas suas próprias tradições religiosas, e seguindo os ditames da sua consciência, que os membros das outras religiões respondem afirmativamente ao convite de Deus e recebem a salvação em Jesus Cristo, mesmo se não o reconhecem como o seu Salvador” (Diálogo e Anúncio, 29). Não podemos esquecer que somente em comunhão somos e seremos tocados e renovados pelo sopro divino. Amém!


CONTEMPLAR

Pentecostes, Arcabas (Jean-Marie Pirot), 114 x 146 cm, óleo sobre tela, ouro 24 quilates, Mosteiro Notre-Dame du Cénacle, Lyon, França, 2005.




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