O Caminho da Beleza 26
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Ascensão do Senhor 20.05.2012
At 1, 1-11 Ef 1, 17-23 Mc
16, 15-20
ESCUTAR
“Os apóstolos continuavam olhando
para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de
branco, que lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados,
olhando para o céu?” (At 1, 10-11).
“O Deus de nosso Senhor Jesus
Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que
vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer. Que ele abra o vosso coração à
sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a
riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder
ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força
onipotentes” (Ef 1, 17- 19).
“Os discípulos então saíram e
pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio
dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16, 20).
MEDITAR
“Tornar-se cristão não é adotar a
religião do Cristo, é tornar-se o Cristo” (Cardeal Lustiger).
“O único motivo da esperança
cristã não é a de atingir a felicidade para si, mas libertar o amor dos limites
em que o encerramos” (Maurice Zundel).
ORAR
Os apóstolos
estavam imersos no assombro, na dúvida e na depressão. O sonho da reconstrução
do reino de Israel não se realizara e mesmo assim deveriam ir ao mundo pregar a
Boa Nova. Tudo lhes parecia sob o signo da instabilidade e da
imprevisibilidade. O medo ainda dominava os seus corações e os mergulhava na
incredulidade. Apesar de tudo, “o Senhor os ajudava e confirmava sua palavra
por meio dos sinais que a acompanhavam”, continuando presente e atuante aos
amigos que O seguiriam pelas veredas do mundo. A certeza da Ressurreição não
exclui, de nossa travessia, as dúvidas, incertezas e contradições. Este é o
paradoxo: tudo está cumprido e tudo está por se fazer. Temos os olhos fixos na
realidade última e definitiva, mas caminhamos no provisório. Somos encarregados
de proclamar o Evangelho, mas somos obrigados a confessar, para não enganarmos
os outros e nem a nós mesmos, que não possuímos a resposta a todas as
perguntas, a solução para todos os problemas e que as nossas palavras não
passam de balbucios diante da grandeza da mensagem. O cardeal Walter Kasper disse certa vez que a Igreja
teria muito mais autoridade se algumas vezes dissesse com mais frequência: “Eu
não sei”. O Evangelho adverte que corremos o risco de uma fuga numa
contemplação totalmente alheia aos desafios históricos, de escamotearmos as
realidades comprometedoras ou de cairmos num ativismo frenético. Corremos o
risco de nos submetermos a uma lógica da exclusão: a de um espiritualismo
desencarnado por um lado ou de um apostolado sem alma, burocrático e
administrativo por outro. O papa Bento XVI exorta: “O amor cresce por meio do
amor. O amor é ‘divino’, porque vem de Deus e nos une a Deus, e por meio deste
processo unificador, transforma-nos em um Nós, que supera nossas divisões e nos
faz ser Um só, até que no fim Deus seja ‘tudo em todos’(1 Cor 15, 28)”. A
beleza de ser cristão é a de que nada está decidido de antemão; nenhum programa
está definido de uma vez por todas. A beleza de ser cristão se encontra na
travessia que deve ser inventada e reinventada a cada dia. Como dizia Guimarães
Rosa: “Viver é rasgar-se e remendar-se!”. Somos chamados a conquistar um
sentido da realidade sem jamais perder a esperança, a honrar a cada dia um
compromisso, por menor que seja, ainda que seja desproporcional a este mundo
que resiste às mudanças. O cristão é o homem que admite as próprias misérias
para experimentar a força que vem do Espírito e, por meio, de pequenos sinais
de compaixão e fraternidade, manifestar o amor transbordante do Cristo. Estar
ao lado do Cristo e dos que anunciam a sua mensagem não significa estar,
obsessivamente, contra alguém para descarregar raivosas polêmicas e
agressividades que sempre são e serão suspeitas. Jesus cumpre os profetas e,
entre o dom do Espírito e o acontecimento definitivo do Reino, existe uma
espera de tempo que deve ser preenchida pelo testemunho do amor fraterno “até
as extremidades da terra”. O teólogo jesuíta Karl Rahner enfatiza: “O Cristo
está de agora em diante no coração de todas as humildes coisas que compõem a
vida da terra, esta terra que não podemos abandonar, pois ela é a nossa mãe”. A
humanidade de Jesus é de tal modo perfeita que é necessário, agora e sempre,
escrever a palavra Deus, e sua
divindade é de tal modo real que é, também, preciso escrever, eternamente, a
palavra Homem.
CONTEMPLAR
Cenas da Vida de Cristo: 22. Ascensão, Giotto di Bondone, 1304-06, afresco, 200 x 186 cm, Capella Scrovegni, Pádua, Itália.
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