segunda-feira, 14 de maio de 2012

O Caminho da Beleza 26 - Ascensão do Senhor

O Caminho da Beleza 26
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



Ascensão do Senhor                  20.05.2012
At 1, 1-11                  Ef 1, 17-23               Mc 16, 15-20


ESCUTAR

“Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1, 10-11).

“O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer. Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotentes” (Ef 1, 17- 19).

“Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16, 20).


MEDITAR

“Tornar-se cristão não é adotar a religião do Cristo, é tornar-se o Cristo” (Cardeal Lustiger).

“O único motivo da esperança cristã não é a de atingir a felicidade para si, mas libertar o amor dos limites em que o encerramos” (Maurice Zundel).


ORAR

Os apóstolos estavam imersos no assombro, na dúvida e na depressão. O sonho da reconstrução do reino de Israel não se realizara e mesmo assim deveriam ir ao mundo pregar a Boa Nova. Tudo lhes parecia sob o signo da instabilidade e da imprevisibilidade. O medo ainda dominava os seus corações e os mergulhava na incredulidade. Apesar de tudo, “o Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam”, continuando presente e atuante aos amigos que O seguiriam pelas veredas do mundo. A certeza da Ressurreição não exclui, de nossa travessia, as dúvidas, incertezas e contradições. Este é o paradoxo: tudo está cumprido e tudo está por se fazer. Temos os olhos fixos na realidade última e definitiva, mas caminhamos no provisório. Somos encarregados de proclamar o Evangelho, mas somos obrigados a confessar, para não enganarmos os outros e nem a nós mesmos, que não possuímos a resposta a todas as perguntas, a solução para todos os problemas e que as nossas palavras não passam de balbucios diante da grandeza da mensagem. O cardeal Walter Kasper disse certa vez que a Igreja teria muito mais autoridade se algumas vezes dissesse com mais frequência: “Eu não sei”. O Evangelho adverte que corremos o risco de uma fuga numa contemplação totalmente alheia aos desafios históricos, de escamotearmos as realidades comprometedoras ou de cairmos num ativismo frenético. Corremos o risco de nos submetermos a uma lógica da exclusão: a de um espiritualismo desencarnado por um lado ou de um apostolado sem alma, burocrático e administrativo por outro. O papa Bento XVI exorta: “O amor cresce por meio do amor. O amor é ‘divino’, porque vem de Deus e nos une a Deus, e por meio deste processo unificador, transforma-nos em um Nós, que supera nossas divisões e nos faz ser Um só, até que no fim Deus seja ‘tudo em todos’(1 Cor 15, 28)”. A beleza de ser cristão é a de que nada está decidido de antemão; nenhum programa está definido de uma vez por todas. A beleza de ser cristão se encontra na travessia que deve ser inventada e reinventada a cada dia. Como dizia Guimarães Rosa: “Viver é rasgar-se e remendar-se!”. Somos chamados a conquistar um sentido da realidade sem jamais perder a esperança, a honrar a cada dia um compromisso, por menor que seja, ainda que seja desproporcional a este mundo que resiste às mudanças. O cristão é o homem que admite as próprias misérias para experimentar a força que vem do Espírito e, por meio, de pequenos sinais de compaixão e fraternidade, manifestar o amor transbordante do Cristo. Estar ao lado do Cristo e dos que anunciam a sua mensagem não significa estar, obsessivamente, contra alguém para descarregar raivosas polêmicas e agressividades que sempre são e serão suspeitas. Jesus cumpre os profetas e, entre o dom do Espírito e o acontecimento definitivo do Reino, existe uma espera de tempo que deve ser preenchida pelo testemunho do amor fraterno “até as extremidades da terra”. O teólogo jesuíta Karl Rahner enfatiza: “O Cristo está de agora em diante no coração de todas as humildes coisas que compõem a vida da terra, esta terra que não podemos abandonar, pois ela é a nossa mãe”. A humanidade de Jesus é de tal modo perfeita que é necessário, agora e sempre, escrever a palavra Deus, e sua divindade é de tal modo real que é, também, preciso escrever, eternamente, a palavra Homem.


CONTEMPLAR

Cenas da Vida de Cristo: 22. Ascensão, Giotto di Bondone, 1304-06, afresco, 200 x 186 cm, Capella Scrovegni, Pádua, Itália.

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