quarta-feira, 2 de maio de 2012

O Caminho da Beleza 24 - V Domingo da Páscoa

O Caminho da Beleza 24
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).



V Domingo de Páscoa               06.05.2012
At 9, 26-31              1 Jo 3, 19-24                      Jo 15, 1-8


ESCUTAR

“A Igreja, porém, vivia em paz em toda a Judeia, Galileia e Samaria. Ela consolidava-se e progredia no temor do Senhor e crescia em número com a ajuda do Espírito Santo” (At 9, 31).

“Não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade! Aí está o critério para saber que somos da verdade e para sossegar diante dele o nosso coração, pois, se o nosso coração nos acusa, Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas”(1 Jo 3, 18-19).

“Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa para que dê mais fruto ainda” (Jo 15, 1-8).


MEDITAR

“Só há um passo a se fazer para reencontrar Deus: um passo para fora de si mesmo” (Rumi).

“Ser pecador é querer fazer de si mesmo o centro do mundo, orbitar em torno de si próprio, querer ser a si próprio por si mesmo, diante dos outros, diante de Deus e reduzir tudo a si” (D. Pierre Claverie, op).


ORAR

A alegoria da vinha que “deve dar frutos” parece ser a que mais responde à mentalidade atual de eficiência e produtividade. Na nossa sociedade globalizada, crianças e idosos são estigmatizados como improdutivos e nos orçamentos públicos classificados como despesas, mas o mercado encontra para eles a positividade de consumidores privilegiados de mercadorias específicas. Dar frutos, no Evangelho, não se trata de incrementar o rendimento e multiplicar as utilidades. Neste evangelho, estamos na esfera da vida e não de qualquer empresa com ganas de expansão. Para Jesus, os números não dão conta da vida em plenitude, e Seus critérios são o de Nele permanecer e aceitar a poda. Permanecer Nele não é um enxerto externo, mas uma convivência profunda, uma comunhão íntima com o seu Espírito e um intercâmbio vital. A carta de João nos conclama a não amarmos “só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade”: amar com ações nos impulsiona a ir em direção aos outros e amar de verdade nos leva a aceitar os nossos próprios limites. A poda faz parte da travessia e toda árvore é submetida a ela para que possa dar mais frutos. O próprio Jesus sofreu as discriminações dos seus e foi podado muitas vezes em suas andanças para espalhar o bem. Jesus, para manifestar o amor do Pai, não ficou trancado em seu próprio mundo, mas foi ao encontro dos que mais precisavam dele. Ele carregou os fardos de muitos para que ficassem gravados nos sulcos da terra os sinais visíveis da misericórdia divina que floresceriam nas areias desertas dos afetos e dos egoísmos. A lição para a Igreja é evidente: nenhuma comunidade, que se quiser cristã e que pretenda permanecer na verdade, pode praticar o amor somente entre os seus e cercada pelos seus muros. É no seu interior que, muitas vezes, sopra o vento gelado da injustiça, do egoísmo, do ciúme, da exclusão, da violência, do preconceito e da indiferença. João nos apela a dilatar o coração até as dimensões do coração de Deus, pois Ele é maior do que o nosso coração. O seguimento de Jesus não diz respeito a alguns instantes de devoção, ou apenas o cumprimento de disciplinas eclesiásticas, mas implica uma travessia longa e fatigante na qual somos chamados a perseverar e a manter, a qualquer custo, nossos elos de amor, de amizade e de fraternidade (Jo 15, 13-15) que podem custar a nossa própria vida. A fé não é uma questão de opinião, mas uma maneira de ser e o amor do outro é a melhor maneira de se ter paz no coração. Foi Barnabé quem confiou em Paulo e testemunhou por ele. Um judeu, levita, originário de Chipre, cujo nome verdadeiro era José. Deram-lhe o nome de Barnabé que significa “o homem do reconforto”. A imagem da vinha é de grande força expressiva e coloca em destaque que podem existir discípulos que não dão frutos porque não corre em suas veias o Evangelho do Ressuscitado e suas comunidades estão desconectadas da relação íntima com o Cristo porque reduziram a adesão pessoal a um folclore religioso anacrônico que não leva a ninguém a Boa Nova. Tudo é dom: se formos ricos, somos pobres, pois nada nos pertence e não levamos nada para a vida eterna. Tudo nos foi dado como sinal da presença e do amor de Deus e, por esta razão, não podemos reter nada para nós, nem acumular, nem alimentar a ganância. Esta presença de amor é um apelo ao abandono, pois o dia em que retivermos o dom, ele morre entre nossas mãos.


CONTEMPLAR

Cristo, “A Verdadeira Vinha”, Angelos Akotantos, primeira metade do século XV, Escola de Creta, têmpera sobre ouro e gesso sobre madeira, 38 cm x 48 cm, Temple Gallery, Londres, Reino Unido.


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