O Caminho da Beleza 24
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
V Domingo de Páscoa 06.05.2012
At 9, 26-31 1 Jo 3, 19-24 Jo 15, 1-8
ESCUTAR
“A Igreja, porém, vivia em paz em
toda a Judeia, Galileia e Samaria. Ela consolidava-se e progredia no temor do
Senhor e crescia em número com a ajuda do Espírito Santo” (At 9, 31).
“Não amemos só com palavras e de
boca, mas com ações e de verdade! Aí está o critério para saber que somos da
verdade e para sossegar diante dele o nosso coração, pois, se o nosso coração
nos acusa, Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas”(1 Jo 3,
18-19).
“Eu sou a videira verdadeira e o
meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo
ramo que dá fruto, ele o limpa para que dê mais fruto ainda” (Jo 15, 1-8).
MEDITAR
“Só há um passo a se fazer para
reencontrar Deus: um passo para fora de si mesmo” (Rumi).
“Ser pecador é querer fazer de si
mesmo o centro do mundo, orbitar em torno de si próprio, querer ser a si
próprio por si mesmo, diante dos outros, diante de Deus e reduzir tudo a si” (D.
Pierre Claverie, op).
ORAR
A alegoria da
vinha que “deve dar frutos” parece ser a que mais responde à mentalidade atual
de eficiência e produtividade. Na nossa sociedade globalizada, crianças e
idosos são estigmatizados como improdutivos
e nos orçamentos públicos classificados como despesas, mas o mercado encontra para eles a positividade de consumidores privilegiados de
mercadorias específicas. Dar frutos,
no Evangelho, não se trata de incrementar o rendimento e multiplicar as
utilidades. Neste evangelho, estamos na esfera da vida e não de qualquer
empresa com ganas de expansão. Para Jesus, os números não dão conta da vida em
plenitude, e Seus critérios são o de Nele permanecer e aceitar a poda.
Permanecer Nele não é um enxerto externo, mas uma convivência profunda, uma
comunhão íntima com o seu Espírito e um intercâmbio vital. A carta de João nos
conclama a não amarmos “só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade”:
amar com ações nos impulsiona a ir em direção aos outros e amar de verdade nos
leva a aceitar os nossos próprios limites. A poda faz parte da travessia e toda
árvore é submetida a ela para que possa dar mais frutos. O próprio Jesus sofreu
as discriminações dos seus e foi podado muitas vezes em suas andanças para
espalhar o bem. Jesus, para manifestar o amor do Pai, não ficou trancado em seu
próprio mundo, mas foi ao encontro dos que mais precisavam dele. Ele carregou
os fardos de muitos para que ficassem gravados nos sulcos da terra os sinais
visíveis da misericórdia divina que floresceriam nas areias desertas dos afetos
e dos egoísmos. A lição para a Igreja é evidente: nenhuma comunidade, que se
quiser cristã e que pretenda permanecer na verdade, pode praticar o amor
somente entre os seus e cercada pelos seus muros. É no seu interior que, muitas
vezes, sopra o vento gelado da injustiça, do egoísmo, do ciúme, da exclusão, da
violência, do preconceito e da indiferença. João nos apela a dilatar o coração
até as dimensões do coração de Deus, pois Ele é maior do que o nosso coração. O
seguimento de Jesus não diz respeito a alguns instantes de devoção, ou apenas o
cumprimento de disciplinas eclesiásticas, mas implica uma travessia longa e
fatigante na qual somos chamados a perseverar e a manter, a qualquer custo,
nossos elos de amor, de amizade e de fraternidade (Jo 15, 13-15) que podem
custar a nossa própria vida. A fé não é uma questão de opinião, mas uma maneira
de ser e o amor do outro é a melhor maneira de se ter paz no coração. Foi
Barnabé quem confiou em Paulo e testemunhou por ele. Um judeu, levita,
originário de Chipre, cujo nome verdadeiro era José. Deram-lhe o nome de
Barnabé que significa “o homem do reconforto”. A imagem da vinha é de grande
força expressiva e coloca em destaque que podem existir discípulos que não dão
frutos porque não corre em suas veias o Evangelho do Ressuscitado e suas
comunidades estão desconectadas da relação íntima com o Cristo porque reduziram
a adesão pessoal a um folclore religioso anacrônico que não leva a ninguém a
Boa Nova. Tudo é dom: se formos ricos, somos pobres, pois nada nos pertence e
não levamos nada para a vida eterna. Tudo nos foi dado como sinal da presença e
do amor de Deus e, por esta razão, não podemos reter nada para nós, nem
acumular, nem alimentar a ganância. Esta presença de amor é um apelo ao abandono,
pois o dia em que retivermos o dom, ele morre entre nossas mãos.
CONTEMPLAR
Cristo, “A Verdadeira Vinha”, Angelos Akotantos, primeira metade
do século XV, Escola de Creta, têmpera sobre ouro e gesso sobre madeira, 38 cm
x 48 cm, Temple Gallery, Londres, Reino Unido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário